segunda-feira, março 14, 2022

WOMEN LEADING THOUGHT - Um webinar feminista



A minha amiga Marisa é uma Renaissance Woman, uma Donna Universale, pois tal como expressou o humanista italiano Leon Battista Alberti, e adaptado por mim, uma mulher pode fazer todas as coisas se ela quiser. E a Marisa quer e faz muitas coisas. Por exemplo, ela criou a BRAWAS (BRAve Women AllianceS), que não defende o habilitar/fortalecer as mulheres, uma vez que elas já são hábeis e fortes, mas defende sim o suportar as mulheres. E sob a alçada da BRAWAS, aconteceu este webinar na passada quarta-feira (1 dia depois do Dia Internacional da Mulher) e eu assisti (e participei através de comentários), que reuniu 11 mulheres, dos 22 aos 56 anos de idade; da Índia e China ao Brasil, incluindo vários países europeus, de diversas carreiras profissionais e de certa forma liderado por uma filosofa, uma vez que pensar, e guiar o pensamento, era o principal objectivo do webinar.

Eu até nem me considero particularmente feminista ou progressista no que toca este assunto da equidade e igualdade de direitos. Cresci numa pequena aldeia e vila onde o litoral acaba e o interior começa, e ainda tenho em mim uma parte machista e sexista. Adoro falar com mulheres, é verdade, mas sempre me pergunto se isso é por interesse no género oposto ou por interesse no género oposto (se é que me estão a entender). No entanto eu quero sempre aprender mais e evoluir para corrigir a minha atitude em relação às pessoas e ao mundo. Como o webinar começava às 20:30, quando em princípio as crianças já dormem, consegui participar.

Não vou aqui dissecar tudo o que foi dito, até porque não me recordo bem de tudo. Achei muito interessante ouvir diferentes opiniões e de notar que diferentes mulheres, preocupam-se com diferentes coisas e existe uma notória diferença entre idades e origens, apesar de muitas das oradoras estarem actualmente aqui nos Países Baixos.
Uma vez que era permitido comentar, eu assim o fiz, achando que seria interessante as mulheres verem também a reacção de um homem que as assistia. Admito que fiquei preocupado que o facto de estar a comentar pudesse ser um caso de machismo, uma espécie de mansplaining ou o homem a estabelecer o seu domínio ao sequestrar o discurso (e parte da atenção) num espaço que era das mulheres. Esse sentimento ainda ficou mais acentuado quando a Marisa, a moderadora, usou algum tempo para ler os meus comentários.
Mas parece-me que a minha participação foi bem vinda, pois não se consegue falar de igualdade ou suporte das mulheres sem envolver os homens.

Como disse uma oradora, uma das mais jovens e salvo erro do Brasil, é um bocado cansativo as mulheres terem de explicar tudo aos homens, todo o tempo, no que toca a este tema. Ela tem razão, nós homens podemos nos informar por nós mesmos, mas estando nós na posição privilegiada, e como julgo que regra geral somos mais preguiçosos para estes esforços mentais, precisamos do abanão das mulheres, porque todos nós lidamos com mulheres, seja nas nossas companheiras, amigas, colegas de trabalho, mães e avós.
Também me ficou mais marcado uma pergunta que outra oradora mencionou: Se numa situação no trabalho, pergunta ou simples debate, o outro interlocutor for do género diferente, reagimos de forma diferente? Se temos de pensar antes de responder, então já temos que não praticamos verdadeira igualdade. Eu estava a pensar quando ela explicou estar parte e me apercebi que ainda sou parte do problema.
Uma outra oradora, da Associação Portuguesa de Ética Empresarial, falou duma campanha que fizeram em Londres para o Dia Internacional da Mulher, pois de acordo com a agência 39% das crianças dos 5 aos 11 anos de idade acham que as mulheres devem ficar em casa e 38% concordam que os homens devem ir trabalhar. Ela por acaso não gostou da campanha e eu tenho de admitir que não me lembro exactamente do porquê, pois devo-me ter distraído com outra coisa na altura, mas a campanha faz-nos pensar como imaginamos certas profissões, e mais tarde eu tive um exemplo disso. Quando outra oradora falava que a água (ela faz surf, salvo erro) lhe dá força, e apontou o exemplo de surfar as ondas gigantes em Portugal, eu pensei imediatamente no Garrett McNamara, num homem, e ela estava a falar duma mulher surfista. Ou seja o pensamento recaiu logo sobre um homem porque por defeito assumo que um homem é que faz (maioritariamente) destas coisas.

Uma das ideias que ficou no ar, é que as novas gerações são a esperança que nós precisamos, sobretudo as mulheres que ainda têm de lutar pelos seus direitos, em certos lugares muito mais que outros. Porque realmente nota-se que as novas gerações já trazem outra mentalidade. Tal como eu escrevi mais em cima, eu sei que cresci numa sociedade que ainda era sobretudo machista, apesar de ter conhecido mulheres muito fortes, nomeadamente a minha avó materna, que foi a figura principal da minha infância. Mas a malta nova, os Millenials e agora os Zoomers (Geração Z), tem a noção da igualdade já entranhados neles. A minha geração (Xennial, um sub-geração de transição entre a X e os Millenials) é aquela onde a mudança começou a ser mais notória, mas ainda crescemos no mundo velho.
E durante o webinar, a discussão e a opinião das diferentes mulheres, serviu para reforçar a minha ideia que apesar de agora assistirmos retrocessos em vários pontos do globo, isto deve-se à geração que ainda está no poder. Pessoas como o Trump, Bolsonaro, Putin (eles são exemplos mais visíveis), e muitos outros, ainda são da velha guarda, aquela guarda que tinha o poder e que está habituada a fazer e dispor como bem entendem. Mas o mundo mudou, já não há volta a dar, e as mulheres vão tomar o seu lugar na mesa redonda, tal como merecem. Os empurrões e a resistência, por vezes muito violenta, que assistimos contra estes progressos humanísticos, como a verdadeira igualdade das mulheres, são quase o confronto final, ou o último reduto, destes velhos do Restelo em vias de extinção, que tentam a todo o custo, impedir que o mundo evolua para algo que eles não gostam, e que eles mantenham o seu privilégio.
Tal como as oradoras do webinar, eu acredito piamente que as novas gerações vão permitir a conclusão desta mudança, que a humanidade precisa. Só espero que os velhos, e alguns são da minha própria geração, não estraguem tudo até lá.

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