terça-feira, março 08, 2022

Reflexões em tempos de Guerra #13 - 8 anos de guerra no Donbas



Antes de passar ao tópico da dissertação queria dizer 2 coisas:
  1. Feliz Dia Internacional da Mulher, especialmente para as mulheres guerreiras da Ucrânia.
  2. "Na guerra, a verdade é a primeira baixa" (vejam este vídeo, se faz favor); e acrescento que os livros de história são escritos pelos vencedores.
Passemos então ao assunto que me trouxe aqui, o período de 8 anos desde Março 2014 até à invasão do Putin, período no qual a Ucrania e a Russia já estavam em guerra mas apenas oficiosamente.

Existe um documentário de uma jornalista francesa chamado "Donbass", lançado em 2016, e que tem circulado nas redes sociais por estes dias para mostrar que os ucranianos não são os "bons da fita".
Eu não vi o documentário todo, comecei a ver mas fiquei um bocado enervado com a abordagem e tive de parar. Precisa vê-lo novamente na sua totalidade e tentar ser o mais neutro, ou imparcial, possível. Por esse motivo eu não partilho o link porque esta dissertação não é uma analise do documentário. É para falar da Guerra no Donbas, uma das razões, pelo menos de acordo com narrativa de Moscovo, por detrás da invasão do Putin.

Tudo começou em 2014 após os protestos do Euromaidan que levaram à mudança de governo (e que os russos afirmam ter sido um golpe de estado). Começou como um movimento perfeitamente normal e legítimo de uma população maioritariamente pró-Rússia que vive nas 2 regiões (oblasts) que formam o Donbas (atenção que não sei se a maioria da população total do Dobas em 2014 era pró-Moscovo ou anti-Kyiv, mas quem se manifestou era sem dúvida a população de origem russa). A razão foi que essa população não ficou satisfeita com a mudança em Kyiv, cujo objectivo era afastar o país da influência de Moscvo e virar-se para o Oeste. Mas com a anexação da Crimeia (planeada por Moscovo desde o início, tal como o Putin admitiu depois) estes protestos evoluíram para um movimento separatista, também desencadeado pelos russos que enviaram muitas tropas (oficiosamente) para lá e provocaram toda a confusão (os resultados dos referendos nos dois oblasts foram discutidos antes mesmo do início da votação, entre os líderes separatistas e Moscovo).
Com o apoio militar da Rússia, incluindo muitos militares russos que oficialmente eram apenas voluntários, rebentou a guerra entre os separatistas e as forças governamentais ucranianas pelo controle da região.

E numa guerra, como já referi antes ao falar de outros conflitos, nenhum lado pode reivindicar ser "puro e justo". Ambos matam civis e destroem a infraestrutura civil. Alguns destes danos são colaterais, mas outros acontecerão devido a ataques directos e planeados. A qualidade de vida na zona de conflito deteriora-se severamente por causa das acções de todos os beligerantes.
Normalmente, as pessoas dos dois lados cometem crimes de guerra e outras atrocidades.
Mesmo na luta contra a Alemanha Nazi (que todos concordarão serem verdadeiramente vilões, excepto para os neo-nazis) os Aliados, não apenas os soviéticos, executaram prisioneiros de guerra, violaram mulheres e causaram uma enorme destruição civil com o único objectivo de baixar a moral dos alemães (o que não é um alvo militar puro).
Para mim é certo que no Donbas, as forças do governo da Ucrânia com certeza tiveram a sua quota nas atrocidades cometidas. Mas qualquer opinião ou mensagem que sugere que eles foram os únicos responsáveis pela crise humanitária é muito difícil, se não mesmo impossível, levar a sério.
Em particular porque este conflito também foi iniciado devido a uma intervenção externa directa da Rússia, portanto eles não podem varrer essa responsabilidade para debaixo do tapete.

E só para esclarecer alguns números que estão sendo atirados para o ar em comentários e posts: estima-se cerca de 14500 mortes no Donbas desde 2014, mas a grande maioria dessas foram combatentes. Cerca de 3500 foram civis.
Claro que ninguém pode acreditar que todas as mortes foram causadas por apenas um dos lados quando ambos usaram ataques de artilharia generalizados em zonas civis.
Sempre que alguém tenta imputar todas as baixas a um dos intervenientes, é simplesmente propaganda ou estupidez (ou ambos).

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