Quem me segue no Facebook deve ter notado que a minha "cobertura" da invasão da Ucrânia pelo Putin diminuiu de intensidade e frequência. Até no blog se nota um interregno superior a 48 horas.
Isto também está a acontecer porque o fluxo de tweets (é a minha principal fonte de informação, seguindo algumas contas relevantes e de confiança, para além de alguns jornalistas ucranianos para mais detalhes vindos directamente do terreno) é muito menor agora. Acho que isso é normal, uma vez que o choque inicial já passou, a segunda semana de luta já lá vai e a operação militar está a progredir mais lentamente; assim sendo existem menos mudanças a cada dia. De certa forma estabilizou-se e isso diminui a intensidade do interesse externo. O passar do tempo também normaliza uma situação, então também temos essa outra componente.
Como tenho andando a traduzir textos anteriores aqui para o blog (o principal objectivo principal é para documentação futura, pois o meu blog funciona também como um diário pessoal), tenho ainda menos tempo disponível para reflectir sobre os acontecimentos e depois escrever algo sobre os mesmos.
Mas continuam a haver desenvolvimentos e coisas de que vale a pena falar. Por exemplo, o que vou fazer agora, revisitar o site Military Watch do qual partilhei um artigo, há 10 dias atrás.
Depois de ver os seus artigos mais recentes, que ainda mencionam principalmente as elevadas perdas (de equipamentos) para a Ucrânia (e quase nenhum para a Rússia) e continuar com a ideia de que a Ucrânia não pode fazer nada para parar a Rússia (uma vez que os seus tanques são antigos e obsoletos, os seus melhores activos são dos anos 80, as suas defesas aéreas, incluindo a Força Aérea, foram praticamente obliteradas), não os considero mais uma fonte fiável (seja para notícias ou artigos de opinião).
De notar que a 28 de Fevereiro, os editores deste site consideraram que a Força Aérea e as Defesas Aéreas da Ucrânia já estavam destruídas, e agora, 10 dias depois, ainda dizem o mesmo, que as mesmas estão perto da destruição (a última alegação é que estão cerca de 90% destruídas). Por outras palavras, durante 10 dias ficaram na mesmíssima situação, para as pessoas deste site.
E o artigo deles que menciona que as unidades blindadas russas estão em desvantagem numérica mas não estão preocupadas porque os tanques ucranianos são muito fracos, fez-me perceber que estes entusiastas militares, ou supostos especialistas, são daqueles que pensam que nas guerras os tanques servem para lutar directamente contra os tanques do inimigo e atacam-se uns aos outros.
Isto é uma ideia errada, até mesmo na Segunda Guerra Mundial, onde ocorreram enormes batalhas de divisões inteiras de tanques.
Na verdade os tanques não são feitos para ir à procura e destruir directamente os tanques adversários, não é esse o objectivo. Da mesma forma que os aviões de combate não se destinam apenas a eliminar as aeronaves inimigas. Isso é uma das parte da missão principal, obter superioridade aérea e depois usufruir da mesma para atacar o inimigo de ar e apoiar adequadamente as tropas em terra.
Da mesma forma os tanques são uma arma que permite romper as linhas inimigas (infantaria e fortificações), não apenas lutar contra outros tanques. Na Segunda Guerra Mundial, a maioria dos tanques foram destruídos ou danificados pela artilharia (que inclui as peças anti-tanque que acompanhavam a infantaria); a segunda maior causa de destruição de tanques foram as minas terrestres. Mesmo quando os tanques enfrentaram directamente outras divisões blindadas, eram outros tipos de veículos específicos, devidamente denominados de caça-tanques (tank destroyers), que destruíram a maioria dos tanques.
E estamos a assistir ao mesmo agora na Ucrânia. Os tanques russos não estão a ser destruídos ou danificados pelos velhos T-64 ou T-72 da Ucrânia. Eles estão a ser sobretudo atingidos pelas armas anti-tanque, usadas pela infantaria muitas vezes a pé, sobretudo os ATGMs (anti-tank guided missiles).
Mas então os ucranianos não estão a sofrer perdas? Claro que eles estão! A página do blog/equipa Oryx que eu também partilhei antes (Attack On Europe: Documenting Equipment Losses During The 2022 Russian Invasion Of Ukraine) tem bastantes evidências das perdas de equipamento do lado ucraniano. Uma objecção que têm feito à mesma lista, é que a maioria das evidências provem de ucranianos e, portanto, estão apenas a documentar e partilhar as perdas russas, do inimigo. Para além disso, os soldados russos não têm supostamente permissão para partilharem as próprias fotos ou vídeos que façam, até porque também não podem, uma vez que os operadores ucranianos estão, supostamente, a bloquear o acesso à rede de SIMs russos; isto é portanto mais outra razão para que hajam menores evidências em foto ou vídeo de perdas de equipamentos ucranianos. Eu concordo que isso tem de ser tido em consideração, mas permitam-me rebater esse argumento com a nota relevante que até as fontes oficiais da Rússia, como o Ministério da Defesa, têm anunciado poucas perdas para a Ucrânia. A título de exemplo, num período de 36 horas (entre 7 e 8 de Março), eles apenas reportaram 6 prisioneiros de guerra, 1 IFV destruído, 4 APCs capturados e 2 tanques capturados.
Eu acho que isto é uma forte indicação de que as perdas ucranianas não são muito elevadas (e estarão provavelmente de acordo com o que a Oryx documenta), quando até os russos não reivindicam muitas (excepto contas de entusiastas russos como a fonte da imagem que usei em cima).
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