sexta-feira, março 18, 2022

A fórmula certa para a adormecer


A última vez que escrevi sobre o tema parentalidade foi há praticamente 10 meses e meio. Antes disso estive mais de 1 ano (entre 2020 e 2021) sem escrever aqui sobre parentalidade. Ser-se pai duma criança neurodivergente tem os seus desafios, ainda para mais quando eu próprio sou neurodivergente também. A energia e o tempo que se gasta em coisas que para muitos são triviais, por vezes parecem demais. Para além disso estamos sobretudo sozinhos, e temos de lutar com instituições que falam outra língua e tem outros costumes, o que acrescenta outros níveis (dois, pelo menos) de obstáculo na comunicação e entendimento. Metida ao barulho temos a mais nova que não aparenta até agora ser neurodivergente mas vive num mundo com essa realidade. Este texto é sobretudo sobre ela, e não ele. Ele serviu apenas para a primeira introdução.

Como segunda introdução temos a parte do dia, ou da noite, que é o seu fim e a rotina do ir para cama. Acho que todos os pais passam por essa luta, e nós nem nos safamos muito mal, all things considered. Mas o que tem sido uma constante até há bem pouco tempo pelo menos, é que no meu entender ainda gastávamos muito tempo com esta rotina. Mesmo quando as preparações antes do deitar propriamente dito (cocós, banhos, vestir pijama, lavar dentes) se desenrolam suavemente, ainda ficámos com eles quando se deitam. O Sebastião quase sempre fica a ler na cama e o ritual da Amélia pode ser um pouco de brincadeira ou leitura de um livro. Mas já depois de apagar as luzes, muitas vezes demoram a adormecer.
Tivemos um período em que o Sebastião adormecia bem rápido logo depois de se apagar a luz, mas a Amélia sempre custou mais; ora queria contar o dia da escola, ou parecia estar a dormir só para falar quando estávamos a sair do quarto, ou porque precisava de ir fazer mais um xixi e/ou beber água, etc. Arranjava sempre desculpas.
E para mim, era uma fonte de frustração, o que leva a irritação, ficar tanto tempo no quarto, sobretudo quando a ouvia fazer barulhinhos e mexer-se constantemente na cama, para se manter desperta. Porque ir para cima às 7 e pouco e depois só descer já depois das 9 da noite, com a cozinha por arrumar, deixa-me em baixo.

Mas finalmente parece que encontrei uma fórmula para que a Amélia adormeça em pouco tempo. É ler um livro sim, mas um livro relativamente grande (este tem 134 páginas), com texto corrido. Até agora ainda foi só um, o livro na imagem de cima, que não é para a idade da Amélia, é suposto ser para miúdos por volta dos 12 anos, mas ela escolheu quando fomos à biblioteca porque tinha cavalinhos, ou póneis, na capa.
O que me surpreendeu logo ao inicio quando comecei a ler para ela, é que ela saiu do meu colo, foi-se deitar sozinha na cama para estar a ouvir e passado pouco tempo estava a dormir! E o mesmo repetiu-se das vezes seguintes. Só leio um capítulo de cada vez, e algumas vezes ela ficou acordada até ao fim, mas a maioria das vezes adormece sozinha. E assim eu acabo de ler, apago a luz e venho-me embora, ganhando tempo para outras actividades depois de jantar (nem que seja dormir também)!
Ainda temos a situação dela muitas vezes gritar (não sei que raio de sonhos tem a miúda, ela parece estar mesmo angustiada e aflita) e termos de voltar ao quarto e passar algum tempo com ela, mas pelo menos já existe um método para poupar tempo no adormecer.
Para já só funciona comigo, porque a mãe não se aventura a ler os textos holandeses. Eu encaro como uma prática e percebo a maioria da história (certas partes percebe-se pelo contexto, mesmo desconhecendo o significado das palavras, e depois assim acabo por ficar a conhecer mais) e esta semana trouxemos mais livros da biblioteca para continuar com a mesma fórmula.
Espero que a fórmula não tenha um limite de validade e mantenha a eficácia mais uns valentes meses.

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