sábado, março 19, 2022

Reflexões em tempos de Guerra #18 - Ainda no tema do nazismo na Ucrânia


É uma impressão que tenho, de que coisas que fui vendo e lendo bem antes da Invasão do Putin ter começado (há quase 1 mês atrás), mas julgo que esta coisa dos russos acharem que a Ucrânia tem um problema com fascismo e nazismo já é muito antiga, ou seja há muitos russos que desde há muito desconfiam dos ucranianos, e por isso acreditam plenamente na narrativa actual do governo ucraniano ser controlado por neo-nazis e fascistas. E eu acredito que isto é devido ao que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, na Frente Oriental.

Após a Operação Barbarossa (a invasão alemã da Rússia em 1941), a grande parte dos Hiwis (abreviatura de Hilfswilliger, voluntários dos territórios do leste ocupados pela Alemanha Nazi integrados na Wehrmacht) eram ucranianos (os Hiwis foram cerca de 600000 no total, durante o curso da guerra). Mas os russos parecem esquecer que 4,5 milhões de ucranianos se juntaram ao Exército Vermelho depois que os nazis foram expulsos da Ucrânia. Para além disso, ainda durante a ocupação nazi, cerca de 250000 ucranianos serviram em unidades de resistência soviética, que continuaram a lutar mesmo sob ocupação. Números que ultrapassam largamente o total de ucranianos que colaboraram com a Alemanha Nazi, pois não convém esquecer que os 600 mil hiwis não eram todos ucranianos e muito importante, apesar de serem designados por voluntários muitos eram prisioneiros de guerra e outros civis foram forçados a alistar-se. Obviamente haveriam aqui ucranianos que queriam lutar contra os soviéticos (por diversas razões) e nesses haveria aqueles que alegremente colaboraram com os nazis, incluindo nas atrocidades cometidas.

Mas esta visão que os ucranianos eram simpatizantes da Alemanha Nazi parece ser também compartilhada por muita gente aqui no Ocidente. Tal como existe uma ideia que os croatas também são tendencialmente fascistas por causa da Legião Croata (lado direito na imagem do topo) que esteve muito activa na Frente Oriental e porque os croatas também nunca se deram muito bem com os sérvios que controlavam a Jugoslávia comunista. E para muito gente, quem não gosta de comunistas são fascistas...
Para mim o mais curioso das pessoas que usam estes exemplos de colaboração com a Alemanha Nazi (ou com os japoneses) é que parecem esquecer-se que também que havia muitas unidades de voluntários dos países ocidentais e que estas unidades estavam cheias de verdadeiros crentes.
E não faltam também imagens de comícios de apoiantes e simpatizantes do Hitler e dos nazis nos EUA e no Reino Unido.

Os colaboracionistas foram um problema em muitos países ocupados, desde a França, passando pela Europa Central e pelo Báltico até à Rússia. Não devemos continuar a julgar estes países e as suas gentes hoje pelo que aconteceu há 80 anos atrás. De certa forma, parece que às vezes as pessoas perdoam mais o povo alemão, sem esquecer os italianos e outros aliados, (e eu acho muito bem que se perdoe) do que alguns outros que apenas reagiram às circunstâncias da altura.

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