terça-feira, fevereiro 01, 2022

Contradições em tempos de pandemia


2 anos e 1 semana depois de ter escrito publicamente (Facebook) sobre COVID-19, 22 meses e 15 dias depois de ter escrito aqui no blog sobre o tema, quero fazer um apanhado disto que são cerca de 2 anos de uma pandemia que tem dividido a sociedade e a discussão pública. E escrever esta semana também faz novamente sentido, pois estamos a passar por nova quarentena na família devido à COVID. Em 2020 estivemos doentes sem confirmação de estarmos infectados (mas como gosto de dizer: se parece merda, cheira a merda, tem a textura da merda e sabe a merda, de certeza que é merda) e agora temos a confirmação de termos o SARS-CoV-2, vulgo o corona-vírus, aqui em casa mas não estamos realmente doentes.
Mas voltando ao cerne da questão, o apanhado que quero fazer é mais sobre contradições que assistimos nos diversos grupos, coisas que disseram e agora dizem mas sobretudo coisas que dizem pela mesma altura mas que são antagónicas.

Antes de começar a lista das contradições, quero deixar dois apontamentos.
Como disse atrás, a pandemia tem gerado, sobretudo nas redes sociais onde toda a gente pode escrever, grandes discussões e divisões. No entanto, eu não acho que a sociedade esteja dividida em 2 lados, e muito menos seja 50/50. Para mim existem 4 grupos:
  1. Os chamados "covideiros" que se focam muito na pandemia e querem combatê-la o mais possível; 
  2. Os que se preocupam com a pandemia, confiam na ciência mas questionam algumas medidas;
  3. Os que têm receio da pandemia mas também estão preocupados com o resto e genuinamente têm dúvidas do que é o melhor a fazer (também fruto da aparente divisão na praça pública);
  4. E os ditos "negacionistas" que mesmo que acreditem na doença questionam quase tudo que é o consenso geral, e acham que quase tudo o que foi feito foi errado.
Para mim a discussão mais acérrima envolve sempre o primeiro e o último grupo, uma vez que os mais extremistas dos "covideiros" não ficam muito atrás dos "negacionistas", pois até eu, que estou no segundo grupo pela minha própria classificação, fui acusado de ser "negacionista" quando o ano passado comentei que concordava com o relaxar de medidas.
Uma das coisas que eu tenho a certeza (pelas percentagens de gente que se vacinou por todo o mundo) é que os verdadeiros "negacionistas" não são muitos, mas são dos que mais intervêm nas discussões públicas. E até parecem às vezes ganharem a "guerra dos comentários" pois pessoas como eu, que não são verdadeiros "covideiros", desistem sempre a determinada altura.

E sobre as contradições, queria só deixar o realce que acredito que todos nós as temos. Eu já me contradisse antes, por erro ou confusão, mas é preciso notar que durante estes 2 anos aprendemos muitas coisas sobre a doença e sobre a pandemia. Houve evolução, novas descobertas, e sim, também se confirmou que se cometeu erros no passado. Mas também, como é natural em muitas outras coisas, com o evoluir da pandemia e diferentes circunstâncias, é perfeitamente normal que uma pessoa tenha uma opinião diferente sobre medidas. Medidas que se tomaram inicialmente (como por exemplo fechar cidades inteiras como fez a China) não fazem o mesmo sentido agora em 2022, apesar de estarmos ainda na mesma pandemia.
Portanto, durante estes 2 anos iremos encontrar opiniões aparentemente contraditórias partilhadas pelas mesmas pessoas e/ou entidades, mas que para mim não o são; são na realidade o produto da evolução (mais conhecimento, novos dados, diferentes circunstâncias).

E agora sim, a lista das contradições, que mexem mais (nem que seja de piada) comigo:
  • Tem pessoas que disseram, e continuam a dizer, que a COVID-19 não é pior que uma gripe porque "só" manda(va) ~5% dos infectados para o hospital e "só" mata(va) ~2,5%, mas uma vacina já é um perigo de saúde pública porque causa 0,005% de miocardites e 0,002% de pessoas vacinadas morreram (seja lá de que causa foi).
  • Ligada com a anterior, tem pessoas que dizem que a maioria das pessoas não morrem de COVID mas são consideradas vitimas da doença porque tinham COVID (teste positivo), mas que (obviamente) todas as pessoas que morreram depois de vacinadas foi por causa da vacina (não interessa nada a verdadeira causa da morte).
  • Tem pessoas que há 2 anos estavam contentes com a paragem do mundo, e contentes com os níveis de poluição baixarem e animais selvagens aparecerem nas ruas, mas quando chegou o tempo quente foi logo passear por todo o lado e poluir o chão com as máscaras que atiram para o mesmo.
  • Tem pessoas que dizem que as máscaras não servem para nada porque está provado que não protegem como os respiradores (FFP2 e FFP3), mas quando as entidades alteram a recomendação para esse tipo de máscaras/respiradores continuam a dizer que não servem para nada.
  • Tem pessoas que criticaram manifestações e protestos por direitos civis e igualdades em tempos de pandemia, mas que depois reivindicam o direito à manifestação ainda durante a pandemia quando querem protestar contra as restrições.
  • Tem pessoas que acham que as entidades, e a nível de escolas, não fazem o suficiente para proteger as crianças, e por isso até mantêm as mesmas em casa por largos períodos, mas que nunca fizeram um teste PCR a eles e aos filhos apesar de continuarem a trabalhar e usar transportes públicos.
  • Tem pessoas que disseram não ter medo nenhum da doença, fizeram festas em casa e nem se preocuparem com o chamado contact tracing, mas quando viram uma ambulância a ir buscar um vizinho para o hospital cagaram-se de medo e exigiram saber se o vizinho tinha o vírus ou não.
  • Tem pessoas que desde o início exigiam que se usasse, e continuam a dizer o mesmo, medicamentos como a Hidroxicloroquina ou o Ivermectin (mais tarde provado não surtirem efeito) para curar o COVID e esquecer as "perigosas vacinas", mas quando surge o primeiro medicamento feito especificamente para a COVID e aprovado pelas entidades reguladoras, respondem com "Não queremos mais drogas!".
  • Tem pessoas que dizem que não podemos confiar nas farmacêuticas no que respeita uma vacina experimental, mas que exige que se comece o mais rápido possível a distribuir um medicamento ainda mais recente das mesmas farmacêuticas.
  • Tem pessoas que protestam contra a falta de direitos e liberdade pessoal que as restrições causam, mas que são contra os direitos da comunidade LGBTQ+ como casamento e, Deus nos livre, adopção.
  • Tem pessoas que se queixam de serem impedidas de entrar noutro país por não cumprirem as (estúpidas) regras em vigor, mas que querem expulsar os estrangeiros residentes do seu próprio país porque "nem sequer falam a língua" (entre outras coisas).
  • Tem pessoas que se queixam de todas as restrições e do impacto na vida, sobretudo no lazer das famílias, mas que refilam os 3 diabos quando as entidades levantam parte das restrições porque "vai ficar pior".
  • Tem pessoas que se queixam que as outras pessoas não querem saber de fazerem testes, mas que também não fazem testes quando aparecem sintomas porque estão fartas de enfiar o cotonete no nariz ("e quem vai pagar todos estes testes rápidos que nos pedem para fazer?").
  • Tem pessoas que durante 2020 e 2021 aplaudiram e partilharam cientistas que diziam que a pandemia era séria e eram precisas medidas, mas que agora criticam e até chamam de "negacionistas" quando os mesmos cientistas dizem que já não é preciso aplicar as mesmas regras de antes (pois a situação evoluiu).
  • Tem pessoas que foram, e são, contra os ditos confinamentos, ou lockdowns, generalizados porque só os infectados deviam ficar em isolamento/quarentena, mas que são contra o uso da tecnologia e do contact tracing para se poder identificar e controlar de imediato cadeias de contágio (o que permitiria evitar confinamentos generalizados tal como sugerem).
  • Tem cientistas que dizem que as vacinas mRNA são perigosas e fazem muito mal, mas que queixam-se de não se lhes dar o crédito no desenvolvimento das mesmas, e até se auto-intitulam "Pai das vacinas mRNA" porque este trabalho pode dar direito a prémios, como o Prémio Nobel.
  • Tem médicos que se queixam que nas suas unidades morrem pessoas de outra coisa mas contam para as estatísticas COVID, mas são os próprios médicos dessas unidades que declaram a causa de morte (e a DGS usa a causa de morte, não o facto de estarem positivos, para as estatísticas).
  • Tem pessoas que dizem que é preciso confinar para proteger os sistemas de saúde, mas agora que os sistemas de saúde estão a salvo, e ainda longe de poderem colapsar como aconteceu em 2020, continuam a dizer que é preciso confinar ainda mais.
  • Tem pessoas que são contra as vacinas mas não gostam que os outros os chamem de "negacionistas" porque há que respeitar a decisão de cada um, mas que chamam de assassinos os pais que decidem vacinar os filhos.
  • E finalmente, aquela que é mais comum nas pessoas, seja para a pandemia ou outras coisas: tem pessoas que dizem "regras são regras e são para cumprir à letra, sempre", mas quando chega a vez delas já é diferente e aplica-se o "bom senso".

Mais contradições haverão, talvez nos próximos dias me lembre de algumas mais gritantes e faça uma adenda ao texto. Para quem ler, pode também comentar as contradições que observaram, ou até as vossas próprias contradições, em tempo de pandemia...

1 comentário:

  1. wow, que belo resumo de contradições... Também acho que estarei no 2o tipo de pessoa...

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