sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Reflexões em tempos de Guerra #2 - Sensações de guerras passadas



Sim, a imagem de cima mostra uma bandeira da União Soviética hasteada num tanque russo pela Ucrânia em 2022. Isto não nos dá sensações da Guerra Fria? Fazer lembrar tanques soviéticos a entrar por países do Pacto de Varsóvia quando a malta de lá demonstrava vontade de escapar ao controlo de Moscovo?
Há quem pense que esta imagem pode ser uma montagem mas não, é uma captura de um vídeo de uma câmara de transito no sul da Ucrânia. O feed da câmara estava a ser transmitido em directo e várias pessoas viram. Neste tweet podem ver um outro vídeo retirado de outra câmara de transito onde se vê o mesmo tanque com a bandeira.
Como me disse o meu amigo Cravo, tendo em conta que a Ucrânia tem o Batalhão Azov (na verdade um regimento) que tem elementos neo-nazis/neo-fascistas, ainda podemos assistir em 2022 a uma luta nas planícies ucranianas com a bandeira Nazi de um lado e a bandeira Soviética do outro. Um cenário surreal, depois de 1944 que ninguém pensou repetir-se a não ser durante filmagens de filme ou documentário... E ainda por cima desta vez com uma troca de papeis entre os "maus" (invasores) e os "bons" (defensores).

Tenho de dissertar sobre o Batalhão Azov, integrados nas forças ucranianas (mas não nas Forças Armadas) desde 2014, porque o mesmo tem sido usado para validar o argumento da desnazificação da Ucrânia, usado pelo Putin. Mas isso tem de ficar para outra altura e não é o tema deste texto.

Depois de acompanhar as primeiras horas da invasão com muita atenção e de escrever vários posts no Facebook sobre a mesma, tenho de admitir que de certa forma estou um pouco "desapontado" por estar muito mais devotado na agressão russa contra a Ucrânia do que, por exemplo, na agressão contra a população da Síria ou do Iémen. Mas é lógico que eu esteja muito mais empenhado, pois há vários factores que o justificam: a distância que é mais próxima; o facto de conhecer e trabalhar com ucranianos e russos; o fato de ser o regresso da guerra em grande escala ao nosso continente (onde começaram as maiores guerras globais antes); o facto de estarmos envolvidos, mesmo que indirectamente e que vamos enfrentar as consequências que, no pior cenário, pode ser o envolvimento directo.
Também as circunstâncias desta guerra são diferentes da maioria dos outros conflitos que ocorrem actualmente. A guerra e atacar (matar e ferir) civis é sempre mau, mas circunstâncias diferentes afectam-nos de maneira diferente. É normal que se fique indiferente (e às vezes farto e cansado) de coisas que vão acontecendo desde há muito tempo, mas quando um novo evento ocorre, o nosso interesse despertar.
Mas, sim, não é justo que tantas pessoas deste mundo actualmente estejam muito atentas e empenhadas na invasão da Ucrânia e ao que ao mesmo tempo se esqueçam de outras guerras que causaram muito mais sofrimento humano. É assim que a sociedade funciona, e no meu caso é igual.
O que escrevi pode explicar porque é que usarem argumentos do tipo "então mas e que tal isto" e "e já agora sobre aquilo" pode momentaneamente fazer-me reflectir um pouco, mas não mudarão o que eu sinto, nem como me sinto, sobre a invasão.

Também relacionado com guerras passadas, tenho visto vários comentários sobre a Europa não ter uma figura como Winston Churchill no poder neste momento, algo que com certeza faria a diferença neste embate contra o Putin. Também tive o mesmo pensamento mas depois de alguma reflexão tenho de dizer o seguinte:
Churchill não era o primeiro-ministro no período pré-guerra, nem quando a mesma realmente começou. Ele tornou-se o PM quando o Chamberlain renunciou no início da invasão alemã dos Países Baixos e da Bélgica, e permaneceu no poder durante a guerra sem nunca ter sido eleito. Como ele foi um grande(??) líder durante a guerra, seria de esperar que ele ganhasse facilmente as eleições em Junho de 1945, mas na verdade ele não ganhou. Mais tarde sim, foi eleito nas eleições seguintes em 1951 (embora o seu partido tenha perdido o voto popular, o total nacional de votos), mas o consenso geral já da altura foi que ele não era afinal tão bom líder em tempos de paz.
Sendo assim, para mim faz sentido que não tenhamos um líder eleito na UE que seja uma figura como o Churchill. Alguém como ele provavelmente nunca seria eleito em tempos de paz. Ou se fosse eleito, enfrentaria muitas críticas durante o seu termo.
Eu na verdade acredito que há políticos de carácter na Europa que podem nos liderar em tempos difíceis, mas provavelmente só chegarão ao poder quando, e se, esses tempos chegarem, não antes. E estes políticos de valor, muito provavelmente serão considerados maus líderes políticos nos dias de hoje (lembrar que a Europa Ocidental vive várias décadas de paz e prosperidade).

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