domingo, fevereiro 27, 2022

Reflexões em tempos de Guerra #3 - 78 horas depois



Talvez ninguém leia isto, ou sequer se importe, mas eu vou compartilhar na mesma: Para mim o Putin é o agressor e quero que o Putin perca (ou seja que não atinja os seus objectivos). Então, de certa forma, a Rússia (o estado governado pelo Putin) é o "mau da fita".
MAS eu não tenho nada contra os russos. As minhas crianças têm amigos e colegas de classe que são russos e eu disse-lhes que eles (russos) que não fizeram nada de errado e que não queria que eles falassem mal da Rússia quando voltarem para a escola amanhã. Quando o meu filho me perguntou especificamente se "os russos são más pessoas?" eu tentei ser bem explicito e deixar-lhe bem claro que nem mesmo os soldados que estão agora a lutar na Ucrânia são más pessoas; que eles estão apenas a seguir ordens.
Às vezes simplificamos estas coisas e tornamos estes acontecimentos numa espécie de "Nós versus Eles"; eu já fiz isso, e provavelmente farei novamente, em alguns posts e textos, mas esforço-me por me lembrar das mesmas palavras que partilhei com os meus filhos.

Feito este apontamento, teço agora algumas considerações 78 horas após o início da invasão:
  • Muitos analistas antecipavam que as forças ucranianas entrassem em colapso após 72 horas, com o poder político colapsando pouco antes ou pouco depois. Parece que os russos também contavam com isso (daí a conversa sobre uma operação militar limpa). Mas o facto de actualmente a Rússia não ter sequer superioridade aérea é chocante, não há outras palavras;
  • Então, como é que isto pôde acontecer considerando a disparidade de recursos entre os 2 lados? As informações de Inteligência sugerem que os russos não tinham uma estratégia bem definida e estavam excessivamente optimistas. Isso parece ser validado pelas operações em campo, tendo como exemplos as várias operações conduzidas sem o apoio adequado (operações de transporte e lançamento aéreo atacadas tanto do ar quanto do solo, unidades blindadas a avançar sem apoio de infantaria, unidades de infantaria a avançar sem apoio blindado). Parece haver muitas tropas recrutadas que "não se inscreveram para isto" e até mesmo unidades de Rosvgardia (que equivalem a uma gendarmerie, ou a GNR em Portugal, e seriam usadas para controle populacional) a movimentar-se muito perto da frente de batalha;
  • No entanto, pelos números estimados, parece que os russos ainda têm muitas tropas por destacar, das que estavam anteriormente na fronteira. Então por que motivo temos uma mistura de tropas de segunda classe na frente? Pode ser que os russos tenham uma táctica ou estratégia pouco vulgar, mas quanto mais tempo passa, menos "especial" esta "operação especial" se torna e fica mais complicada. Eles tinham anunciado inicialmente que realizaram ataques de precisão sem perdas civis, mas estão a trazer equipamento de artilharia de pouca precisão o que vai resultar em danos mais generalizados (preocupa-me particularmente as armas termobáricas);
  • Parece que hoje e possivelmente amanhã é o "vai ou racha". Eu comentei em noites anteriores que estava a contar que que se tornasse muito feia a luta nas cidades, principalmente em Kyiv, e essas noites seriam cruciais; agora estou a dizer o mesmo novamente, portanto obviamente eu estou apenas a supor, tal como muitos outros comentadores/analistas. Mas uma coisa é certa, o que acontecer hoje e amanhã permitirá confirmar ou refutar uma das teorias apresentados sobre os planos russos e as deficiências até agora demonstradas em campo.

Eu gostaria também de explanar alguns pensamentos sobre os pontos de vista do "outro lado" e alguns dos argumentos que estão sendo debatidos na praça pública, mas eu já estou a gastar muita energia a acompanhar a situação operacional, então é provável que nunca chegue a fazer essa "dissertação"...

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