Depois de finalmente escrever o meu texto longo sobre (um pouco mais de) 1 mês da Invasão do Putin à Ucrânia, eu estava preparado para começar a escrever menos sobre geopolítica e mais sobre o lado humanitário. Isso foi depois de uma conversa (via mensagens) com uma escritora e jornalista polaca que por acaso tem raízes familiares na Ucrânia, porque faz mais sentido falar sobre algo que realmente tem mais a ver connosco e nos afecta realmente, do que todas estas análises e reflexões sobre belicismo, política externa, sobre outros países regiões onde nunca sequer estive e quando não tenho experiência suficiente, nem a adequada, para ser um exemplo. Mas como já devem saber aqueles que me conhecem há algum tempo, eu dedico várias horas a estudando matérias e sempre tenho uma opinião forte que quero partilhar com os outros. E embora sejam poucos, sei que há também quem conte comigo para os manter a par destas questões complicadas, pelo que sinto a responsabilidade de continuar a escrever sobre o que se está a passar. Mas numa tentativa de evitar possíveis mal-entendidos, pois estes meus textos que são a minha, e somente minha, opinião e da minha exclusiva responsabilidade, e que na maioria das vezes são escritos ao longo do(s) dia(s) e publicados quando estou estendido no sofá ou deitado na cama, queria começar a focar a discussão naquilo que até o mais importante, o básico, aquilo com o qual todos nós podemos nos relacionar: o sofrimento humano.
Só que de repente o fim de semana chegou e com ele o diabo andou à solta! Os russos recuaram do noroeste e nordeste de Kyiv e para a maioria de nós foi como se levássemos um murro no estômago, quando nos apercebemos que o sofrimento humano era muito pior do que se pensava!
Não vou colocar aqui nenhuns links uma vez que sei que a comunicação social tradicional está a noticiar este acontecimento.
Com a retirada das tropas russas e os ucranianos a retomarem o controlo de várias cidades e vilas que estiveram sob ocupação russa durante algumas semanas, tal como Bucha, ficamos finalmente a saber o resultado da mesma.
Ainda há pessoas aqui n'O Ocidente que estão convencidas que a Ucrânia deveria render-se para parar com a morte e sofrimento da população, certo? Eu pessoalmente conheço alguns que pensam, ou pensavam, desse modo.
Para essa gente eu digo: Vão, ide dizer às famílias e amigos das centenas enterrados em valas comuns, que estão tombados ao longo das ruas, de mãos atadas e olhos vendados. Ide lá, eu desafio-vos!
Se os civis sofrem bastante durante uma invasão, eles sofrem muito mais durante uma ocupação.
Porque, ao contrário do que Moscovo anunciou, a população resiste sempre ao agressor, mesmo que resistir signifique simplesmente dizer que não ao invasor. E quando as pessoas começam a dizer não e a resistir, as atrocidades escalam para outro nível. Esta é apenas a natureza de uma invasão e ocupação militar forçada e indesejada. Já aconteceu antes, todos os países invasores (ou colonizadores) que ocupam um território tiveram essa experiência de uma resistência, mais ou menos feroz, da parte dos locais seguida de operações militares em povoações (em teoria à procura de "terroristas") onde acaba tudo destruído pelo fogo, incluindo mulheres e crianças.
Os portugueses fizeram isso mesmo durante a Guerra Colonial. Os franceses fizeram o mesmo na Argélia, na Indochina e com certeza noutros lugares. Os americanos fizeram igual no Vietname (principalmente por causa dos vietcongs) e mais tarde novamente, em menor grau porque os tempos mudaram entretanto, no Iraque e no Afeganistão. Os holandeses também mataram civis e queimaram aldeias na Indonésia. Os britânicos fizeram disto tudo por todo o mundo. Os russos também fizeram o mesmo antes, ao lidar com a resistência nas suas próprias repúblicas, nos países do bloco soviético e também no Afeganistão (entre 1979-89)...
Suponho que alguns acham que este tipo de violência criminosa só acontece porque os civis resistem. Acho que alguns até diriam, em jeito de conselho, algo como "Mantenham a cabeça baixa e façam o que vos é dito e nada de mau vos acontece".
Se são dos que pensa assim, então aconselho-vos a verificar o que aconteceu recentemente (em 2014 e depois) quando teve gente que falavam a "língua errada" tentaram ficar e viver num lugar onde já não eram mais bem-vidas pelo "novo xerife da cidade". Na melhor das hipóteses (para essas pessoas), foram deslocados à força e tiveram que recomeçar tudo de novo. Ainda assim é mau para demasiada gente.
E para aqueles que seguem a linha do Kremlin, e negam que estes crimes aconteceram, que lançam dúvidas sobre o que poderá ter acontecido onde alguns crápulas até têm a puta da lata de afirmar que foram os ucranianos que fizeram isto aos seus, aqui fica um link que não é de um órgão de comunicação social tradicional, uma vez que a ideia desta malta é que os media convencionais apenas espalham as mentiras dos amaricanos, mas de um grupo independente que colabora com uma comunidade mundial de cidadãos normais que apenas procuram pela verdade: Russia’s Bucha “Facts” Versus the Evidence
Como escrevi no Facebook quando partilhei lá este mesmo artigo, aqueles que (ainda) concordam com, e acham que temos de ouvir, os (supostos) experts que continuam a partilhar a cartilha do Kremlin e constantemente tentam "alertar" que tudo isto será encenação, tais como os "caríssimos" (palhaços) dos generais (na reforma) e outros que tais que fazem cada vez mais figura de ursos (o uso deste animal é propositado), estão convidados a ir para o caralho mais novo, desamparar a loja e irem pregar para outra freguesia...
Não vou mais disparatar sobre este assunto em particular, esta ideia de que "render é melhor do que continuar a lutar". Mas falarei mais do lado humanitário nas próximas "dissertações" principalmente porque não devemos nos esquecer, nem normalizar, esse aspecto das guerras, que é o pior, que é o lado feio. Muitas vezes nós, eu incluindo, prendemos-nos a falar dos tanques, ofensivas e contra-ofensivas, as mudanças e eventos na geopolítica, e esquecemos-nos do básico, aquilo com o qual todos nós podemos nos relacionar: o sofrimento humano.
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