quinta-feira, abril 28, 2022

Pais, esses maravilhosos seres



Sim, a foto de cima fui eu que tirei e são dos meus pais. Até parece uma montagem porque eu desfoquei as suas figuras e o fundo atrás (linha de comboio e postes, parecia mal). Desfoquei-os porque não lhes pedi autorização para publicar a foto muito menos neste texto que não é lá muito lisonjeiro.
Como escrevi no Twitter, os pais são aqueles seres maravilhosos que tanto nos exaltam como nos deprimem. É uma alternância de estados porque os pais são, como me dizem os meus filhos a mim muitas vezes, os melhores do mundo para pouco depois serem os piores do mundo. Faz parte da parentalidade e não nos podemos esquecer que mesmo depois de termos mais de 40 anos, para os nossos pais vamos continuar a ser miúdos, tal como os meus me vão continuar a parecer pequenitos mesmo quando já andarem sozinhos por esse mundo fora a fazer e a acontecer...
Tantas vezes me vem à ideia esta cena do filme "Father of the Bride" porque agora eu sei que é mesmo verdade (e vai-me acontecer igual quando a minha filha me anunciar algo parecido).

Mas pronto, ao contrário do Twitter eu aqui não preciso de resumir a história, apesar de ter pensado em  categorizar este texto como Rapidinha (mas depois que o acabei de escrever vi que não é assim tão curtinho). Para contextualizar, os meus pais ajudaram o meu irmão, que infelizmente sempre teve empregos mal pagos e apenas ganha para fazer uma vida mediana (aquela média por baixo como é habitual a muitos portugueses), a comprar um carro novo e por isso o meu pai decidiu que me iriam dar a mesma parte do dinheiro. Eu não lhes pedi nada, nem preciso, mas eu não sou gajo de recusar dinheiro extra; se não precisar para os gastos habituais ponho a render ou usa-se para uma cena extra. Então o meu pai estava noutra noite a explicar quanto dinheiro era, qual o motivo e eu disse apenas que ele fazia o que queria e que sim, podia depositar directamente na minha conta em Portugal. A única coisa é que ele disse que ia depositar em 3 partes e em alturas diferentes. Nessa altura a minha mãe disse que ela não concordava em dar-me o dinheiro numa única tranche e já, porque, nas palavras dela, "eles depois gastam-no todo de uma só vez". Na altura nem liguei muito, uma vez que sabemos que os pais têm ideias diferentes dos filhos, e que eles acham que é preciso poupar e que nós gastamos sempre muito dinheiro porque fazemos férias que eles nunca fizeram. Obviamente eu discordo da visão da minha mãe mas, como disse, não fiz caso. Eu sei que as diferentes gerações vêm as coisas de forma diferente, e nem sequer se discute isto. Os meus pais também já sabem que quando eu lhes comunico algo não estou a entrar em debates ou a pedir opinião, estou simplesmente a notificar de como as coisas vão acontecer.

Isto passou-se e teria ficado por aqui, não fosse eu descobrir uns dias mais tarde que uma prima minha, que tal como eu não mora em Portugal, comprou uma casa de férias lá (porque não gosta de ficar em casa dos pais dela). Não só a minha mãe ficou contente com essa decisão (enquanto que no nosso caso fica chateada se não ficamos na casa deles quando vamos a Portugal) como estava disposta a dar o mesmo, ou ainda mais, dinheiro à minha prima para ela comprar esta casa de férias (porque a minha prima não teria o total necessário para a entrada disponível, na altura em que efectuou a compra). E eu tenho de dizer que a minha prima ganha pelo menos 3x mais que eu!
Ora, dar algum dinheiro a mim tem de ser em partes porque senão eu gasto-o todo, por exemplo numas férias quaisquer em família na vez de poupar, mas dar dinheiro à minha prima para comprar uma casa de férias já não tem mal algum...
Pois, tenho mesmo que usar aqui aquele meme famoso do Drake.


Eu sei que tem gente que não percebe porque é que eu sou aparentemente desligado da família e até dos meus pais. Não é só por este tipo de atitudes, elas deixam-me desapontado e desiludido, mas passa rápido. A verdade é que eu não fui criado pelos meus pais e desde os 14 anos que estou "sozinho" a maior parte dos dias da semana, e que ainda antes dos 18 anos atingi a independência económica.
Aquela ligação que vejo em tanta gente, que sente necessidade de falar com os pais e estar com eles, e que se sentem em casa ou um regresso à infância quando estão em casa dos pais ou quando os pais visitam, eu não revejo (muito) em mim. Existem alguns momentos sim, mas são poucos. Eu gosto de ter aqui os meus pais, mas pouco tempo. Fiquei chateado de eles terem vindo apenas 8 dias, mas ao fim de 4 já estava a dizer "ainda bem que só ficam mais 4!". Seria bom se eles viessem mais vezes (mas visitas curtas) e que não tivessem 2 pesos 2 medidas para mim (e os meus) e para outros que deveriam "interessar" menos. Se calhar o tal desligamento familiar que eu sinto, é reciproco...

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