Como escrevi algures noutro dia, eu há alguns anos atrás que raramente usava o Twitter, pois havia muita gente a dizer que o ambiente lá era bastante tóxico. Como nunca segui muitas pessoas/entidades lá, não via nenhuma valor acrescentado em andar por lá, mas desde a Invasão do Putin que voltei ao Twitter e rapidamente percebi que na verdade é a rede certa para receber em primeira mão notícias e le relatos sobre eventos desta natureza, se soubermos onde procurar. E ao contrário do que estava à espera, não nos deparamos com aquela toxicidade em tweets, partilhas e comentários/respostas que abordam tudo e mais alguma coisa, mesmo sem nexo nenhum; mas repito que isso depende de quem escolhemos seguir. Mas já estou a divagar...
Já há algum tempo que eu sigo o Justin King, supostamente um jornalista com experiência no sector militar privado (e se não me engano casou-se com uma mulher militar, das forças armadas norte-americanas), mas que agora se descreve apenas como "Um Gajo no YouTube". Eu já partilhei vários vídeos dele, em textos aqui no blog, mas também no Facebook. Vocês eventualmente conhecem-nos por Beau of the Fifth Column e ele obviamente também está no Twitter.
E foi no Twitter que fui encontrado várias referências de norte-americanos à Waffle House, sendo usadas quase como uma analogia ou metáfora para algumas situações ou reacções. Percebi que a Waffle House era uma cadeia de restaurantes (ou seja um lugar onde se come), mas não conseguia entender o motivo de todos os comentários com duplo significado e até cómicos sobre essa cadeia, então decidi perguntar directamente num tweet do Beau e foi então que a manada correu à solta...
Não só a minha pergunta teve imensas (para o meu costume) reacções (mais de 78 mil visualizações e 357 interacções), mas o Beau respondeu à pergunta com uma thread exclusiva, que originou ainda mais reacções, inclusive pedidos para ele fazer um vídeo dedicado ao tema.
Como eu twittei mais tarde, o meu próprio Twitter como que explodiu, tendo tido alguns novos seguidores (números muito baixos, atenção), mas recebi mais notificações na app/site durante um período de 24 horas do que o total de notificações que tive até então nos anos anteriores! E assim eu aproveitei os meus 15 minutos de fama (e tentei capitalizar comentando mais lá em inglês e escrevendo mais no meu blog internacional).Mas o que eu quero é partilhar aqui a descrição do Beau sobre a Waffle House: é basicamente um diner (típico restaurante baratucho americano) que está aberto 24 horas por dia, mas como no Sul não existem muitos restaurantes que estão sempre abertos, a Waffle House tornou-se então num fenómeno social particular, uma espécie de microcosmos único devido às pessoas que lá vão e quando lá vão. O que torna único é que por estar sempre aberto, é frequentado por diferentes grupos sociais ao mesmo tempo, em determinados períodos do dia. Por exemplo, aos domingos de manhã encontram-se as famílias que vão à, ou voltam da, igreja e a malta que regressa da noite de sábado ainda meio (ou totalmente) embriagados. Uns à procura de um pequeno-almoço ou brunch e outros que ainda lá estão a curar a ressaca com aquele tipo de comida gordurosa que conforta o estômago! Na Waffle House encontram-se todas as classes da sociedade, em até se encontram ao mesmo tempo policias, meninas da noite e traficantes de droga, todos a aproveitar uma pausa nas suas actividades habituais.
A Waffle House é também conhecida por manter os restaurantes abertos mesmo nas piores condições climatéricas. Como os americanos gostam de usar tudo e mais alguma coisa (excepto as unidades científicas adequadas) para medir ou classificar eventos, existe um Índice Waffle House para desastres naturais: se o restaurante da região estiver fechado significa que foi uma catástrofe.
Isto pode parecer idiotice, ou até ganância em fazer negócio, a insistência em manterem-se abertos durante furacões e outras grandes tempestades, mas na verdade isto até se torna num serviço à comunidade, pois mesmo quando um restaurante é forçado a fechar (devido aos danos) numa área afectada, a empresa envia o mais rápido possível uma equipa especial que eles têm, preparada para estas situações com equipamento próprio, para reabrir o restaurante - desta forma, eles estão prontos a fornecer comida para as equipas de socorro, assim como para as pessoas que devido aos danos não podem cozinhar nas suas casas mas desta maneira podem arranjar uma refeição. Eu admito que na verdade isto é muito porreiro.A Waffle House também está pejada de controvérsias e parece que vários escândalos aconteceram nos seus restaurantes. Uma das primeiras respostas que recebi à minha pergunta foi um americano que me disse que a sua esposa latino-americana não punha os pés lá, e eu presumi logo que seria provavelmente um lugar onde tratamento racista seria comum. Mais tarde, ao ler mais respostas da mesma pessoa, percebi que provavelmente me teria precipitado nessa conclusão.
Na verdade parece ser um apanhado daquilo que torna a América, e em particular o Sul, especial.
Nem todos concordaram com as opiniões mais positivas e caricatas, com várias respostas que reclamam do mau serviço, outras a partilhar histórias bizarras de conhecidos que trabalham/trabalhavam lá, e outros que consideram a Waffle House apenas uma cadeia de restaurantes chunga.
Eu só quero acrescentar que, ao exemplo de alguns outros restaurantes da cadeia, como a IHOP (International House Of Pancakes), eles têm o nome de um tipo específico de comida mas servem muitas outras coisas, e suponho que agora a maioria das pessoas vão lá pela outra comida e não apenas para comer waffles! Além disso, acho que não temos esse tipo de restaurantes, os diners, aqui na Europa. Temos lugares, como as roulottes de comida, que estão abertos durante a noite, e que servem aquela comida gordurosa que tão bem compensa o excesso de álcool no bucho, mas restaurantes mesmo só me lembro de alguns de frango frito e/ou comida indiana que ficavam abertos 24 horas, ou quase, no Reino Unido quando eu estive lá em 2006.
Eu queria imenso experimentar um verdadeiro diner americano, aqueles lugares onde se vai a qualquer hora e come-se o que se quiser. Um Waffle House parece-me um sítio perfeito, onde posso ir em diferentes alturas do dia (ou da noite) e ver por mim aquela hilaridade que ocorre com os grupos opostos de pessoas a partilhar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Se algum dia visitar o Sul dos EUA (é muito grande, eu sei), tenho que colocar na minha lista parar numa Waffle House.
E para terminar, o Beau não é a única personalidade com esta opinião sobre a Waffle House. O Bourdain já visitou uma, pelo menos uma vez, num dos programas de TV, e o que ele diz no vídeos tem um tom muito similar ao que eu aprendi, e depreendi, através da minha pergunta no Twitter:
Estou contente de nunca ter visto este episódio do Bourdain na Waffle Houe (ou que me tenha esquecido caso tenha visto); ter feito a pergunta no Twitter e ter recebido aquelas reacções foi inestimável de diversas maneiras.
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