sexta-feira, abril 08, 2022

Reflexões em tempos de Guerra #26 - Queria fazer mais


Eu nunca me considerei uma daquelas pessoas que estão prontas para agir, mas depois de ter participado em acções de voluntariado, depois de ter visto a minha reacção natural a pedidos de ajuda (às vezes de pessoas que mal conheço) acho que afinal não sou assim tão passivo e indiferente. E nunca pensei que era corajoso, achando até que sou cobarde em várias situações que amedrontam (se bem que o medo é aquilo que nos permite sobreviver, quando não nos paralisa).
Mas desde que a guerra na Ucrânia começou que sinto uma impotência em mim, porque uma coisa que acho que sempre tive cá dentro do meu espírito é aquele sentimento de que chega uma altura em que é preciso fazer algo, é preciso fazer frente a alguém, é preciso levantar e estar disposto a levar mas a dar. E é assim que sinto desde o 24 de Fevereiro. Foi quase como uma revelação; aquilo que despertou em mim foi uma sensação que estaríamos perto de viver um momento crucial da nossa história, uma coisa muito similar à invasão da Polónia pela Alemanha Nazi, um momento que poderia significar o regresso de tempos negros aqui na Europa. E eu tenho 2 filhos pequenos, a última coisa que quero é que eles tenham de passar por uma fase, e viver num mundo, que seja pior daquele em que eu vivi até agora, pois se há coisa que eu realmente acredito é que temos sempre de ambicionar por mais e melhor.Tenho a certeza que se estivesse a viver na Polónia eu não estaria a escrever tanto como tenho estado, porque andaria pelo terreno na Ucrânia, a tentar ajudar da melhor maneira que pudesse, e se fosse preciso com uma AKM ou AK-74 nas mãos. Talvez até já não estivesse sequer aqui hoje.
Mas foi o que me veio pela cabeça. Por diversas vezes abri a página do site da Legião Internacional mas eu não sou burro, sei que não tenho qualquer treino militar nem tampouco a capacidade física para ser um soldado da linha da frente, mas podia ajudar de outra maneira, usando até os meus conhecimentos técnicos e experiência de informática para ajudar directamente os militares.

Mas eu sair de casa iria criar um outro problema grave, uma crise familiar e por isso apesar de ser um pensamento que ainda aqui continua (por exemplo andei hoje a ver que vagas de emprego as Forças Armadas dos Países Baixos têm em aberto, e se poderia ajudar a tempo parcial, como reservista), pensei que poderia alugar uma carrinha e partir para a Polónia (é o mais simples, é só seguir a direito para Leste e chego lá, para além de ser o país com mais refugiados) buscar gente, que é quase só mulheres e crianças pois os homens têm de ficar devido à mobilização geral, para cá.
Até cheguei a comentar com a Carolina mas ela respondeu-me com um não bastante convicto.
Por isso fiquei-me por contribuir, doando directamente a instituições ucranianas (recomendadas por conhecidos que são de lá) e indo entregar bens a uma instituição de apoio social, onde trabalha uma amiga, que pediu para os refugiados que acolheram.
Para já ainda não ofereci a casa para uma pequena família ficar, porque sei que isso iria trazer uma confusão no seio familiar e alguma desconfiança que iria deixar constrangidos, no mínimo, aqueles que aqui ficariam abrigados. Mas se ouvir falar que há pessoas a "dormir debaixo da ponte" porque não têm onde ficar, então terei essa conversa com a Carolina e tentarei fazer mais, porque não podemos passar ao lado deste sofrimento, que nunca sabemos se nos calhará na rifa um dia mais tarde!
Mas a verdade é que as chances disso ser preciso estão a diminuir, com o recuo das tropas russas, pois já apareceram as notícias que muitos ucranianos estão agora a regressar, prontos para reconstruir o que foi destruído. Dependendo do que acontecerá nos próximos dias no Donbas, a situação pode mudar novamente, por isso mantenho um olho atento à crise humanitária, nomeadamente no fluxo de refugiados.

Termino este desabafo, dizendo que felizmente há pessoas que não pensam tanto nas consequências, ou simplesmente têm uma vontade mais forte que eu, e organizam-se e partem para ir ajudar. Como é o caso da Joana Ladeira, uma conterrânea (Sever do Vouga e Aveiro) que com o seu companheiro (julgo que são casados) juntou uma malta, alugaram carrinhas de 9 lugares e foram buscar gente à Polónia (as imagens do topo são fotos que ela partilhou publicamente). Entretanto já tratou de organizar mais transportes e está a fazer um excelente trabalho. Visitem a página deles e ajudem também, nem que sejam só deixar um likeDiário Missão Ucrânia

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