segunda-feira, maio 02, 2022

Reflexões em tempos de Guerra #29 - Oeste e Leste


Já passaram (mais de) 7 dias desde a última reflexão e provavelmente mais de 7 dias passarão antes da próxima. Estamos na altura de férias primaveris (férias de Maio como eles chamam nos Países Baixos) e depois de 2 anos de movimentos restringidos (apesar de termos atravessado o oceano no final do Verão passado) estávamos a precisar de uma escapada em família, e fazer uma viagem mais longa de carro pois eu noutro dia reparei que fazer uma viagem de mais de 100 km de carro tornou-se uma raridade, quanto mais aquelas longas viagens de mais de 1000 km que fizemos tantas vezes antes de termos a criançada...
Mas enfim, passando à frente desta tirada mais pessoal, está na altura de reflectir um pouco sobre a Invasão (Falhada) do Putin à Ucrânia e como tem estado a decorrer. Apenas algumas ideias e não uma revisão completa dos últimos dias (semanas até).

Tal como título sugere, o principal desenlace dos desenvolvimentos recentes é que agora temos um novo cenário com uma clara linha divisória e dois lados não só ideologicamente opostos como geograficamente divididos também: Oeste e Leste.
Tal como eles tinham anunciado já há algum tempo, a Rússia está a focar-se agora no Leste (e no Sudeste) da Ucrânia por isso é nesse lado que está a decorrer quase toda a acção no terreno, apesar de não haverem grandes mudanças em relação à dita primeira fase. Tem sido reportado bastantes combates e pequenos avanços e recuos dos dois lados. Tal como eu previ há 1 mês atrás (última secção da Reflexão #24) os russos não estão a alcançar ganhos significativos e os ucranianos já provaram que conseguem contra-atacar e recuperar terreno.
E isto sem contar ainda com a maior apoio que vem do Ocidente, onde os países da NATO liderados pelos EUA estão a aumentar a ajuda com o fornecimento de armas mais pesadas, que vão ter um grande impacto no terreno dentro de algumas semanas, não tenham dúvidas em relação isso.
E voltando ao Leste, mais um passo foi tomado na direcção da Rússia tornar-se novamente no Império Russo (ou numa nova URSS), a chamada Grande Rússia que estava descrita no tal artigo da RIA Novosti, com o presidente Lukashenka da Bielorrússia a anunciar recentemente um novo ímpeto na União dos 2 países ao mesmo tempo que pedia que antigos estados soviéticos se lhes juntassem. Para além disso estamos a ver cada vez mais posições na TV russa que defendem que esta "operação militar especial" é na verdade uma guerra contra o Ocidente (NATO), afirmando mesmo que é uma Guerra Santa (e eles são a força do Bem) e porque nesse caso tudo está em causa, eles têm de usar armas nucleares!

Eu admito que anteriormente apenas considerei que este desejo de recriar o Império Russo era sobretudo a visão do Putin que pretendia criar este legado, tendo apenas o suporte da sua elite. Eu pensava que o povo russo só queria viver a sua vida da melhor forma possível, e que estariam completamente cientes que estas acções e este plano glorioso só trariam complicações, mas eu estava enganado. Na verdade existe muito mais suporte à invasão e nesta visão da Grande Rússia do que eu imaginava.
Primeiro, nós os europeus mais a ocidente não sabemos como é viver perto da Rússia nem temos a experiencia de viver diversas décadas sob a influência soviética (relembrar que a Rússia tinha o papel de produtor, realizador e actor principal na URSS). Depois de ficar a conhecer mais opiniões de pessoas daquela região, incluindo uma conversa mais extensa com uma autora polaca cuja família tem origens na Ucrânia, apercebi-me que faz parte da cultura russa este sentimento que os seus vizinhos são especiais. E temos diversas provas disso mesmo, com os exemplos de russos que vivem no Ocidente e agem com desdém para com ucranianos, incluindo atletas (que apoiam o Putin e a guerra ou simplesmente queixam-se de como sofrem injustiça sem sequer mostraram compaixão com os seus colegas ucranianos) e o recente exemplo de uma antiga professora russa na Suécia que atacou verbalmente uma jovem ucraniana. Alguns poderão dizer que isto são excepções mas para mim estes são sinais que estão cada vez mais a surgir e que mostram que os avisos que tivemos durante vários anos dos nossos vizinhos da Europa central e de leste sobre as ambições da Rússia tinham razão de ser, nós é que simplesmente não fizemos caso porque na verdade não conhecíamos realmente a Rússia e estávamos demasiado apressados em criar boas relações económico-politicas com Moscovo.

Mas o que estamos verdadeiramente a assistir é uma guerra ideológica, entre o nosso (Ocidente) modo (democracia e liberdade, por mais falhas que tenham, e também o globalismo) versus o modo autoritário, imperialista (quão irónico) e sobretudo nacionalista que encontramos na Rússia e no seu povo.
E isto não é um fenómeno recente, já vem desde há séculos, daí o motivo desta Invasão (Falhada) ser o primeiro passo num verdadeiro conflito ideológico à escala global, tal como a Guerra Fria. E o resultado final vai ser exactamente o mesmo
A Guerra Fria foi o fim da União Soviética; esta nova Guerra (tenho alguns nomes para a designar mas vamos esperar para ver o que é que a sociedade a vai chamar mais tarde) vai ser o fim da Rússia (tal como a conhecemos).

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