Por um lado gostaria de escrever sobre outros temas e ir voltando de quando em quando a este que vai ser assunto dominante durante algumas semanas (digo eu), mas por outro vão sempre aparecendo assuntos relacionados que despoletam em mim o processo dissertativo quase de imediato. Se estiver no computador com disponibilidade para escrever, começo logo a fazê-lo.
Várias pessoas têm-se questionado, e questionado os outros até, do porquê dos ataques de Paris desta semana originarem tanta mobilização a nível mundial, e ao mesmo tempo ataques do Boko Haram na Nigéria, sendo os ataques à bomba com meninas suicidas e o ataque total à cidade de Baga os acontecimentos desta semana, passarem para segundo ou terceiro plano.
É uma pergunta que faz muita lógica. Em Paris morreram ao todo 18 pessoas (descobriu-se que uma morte isolada na quarta-feira foi perpetuada pelo atirador de Montrouge e Porte de Vincennes), só no ataque bombista no mercado morreram 20 pessoas. O número de feridos é bem diferente. E o ataque bombista ao mercado foi com recurso a uma menina de 10 anos, certamente obrigada a isto, e quem sabe se não era uma das meninas raptadas pelo Boko Haram e que gerou a onda do #BringBackOurGirls.
Pode parecer indiferença; pode parecer hipocrisia do mundo ocidental e rico que só se interesse por tragédias no seu próprio quintal; ou simplesmente é o que é porque apesar de tudo existem diferenças entre os ataques em França, na Nigéria e mesmo os outros que vão acontecendo quase diariamente pelo resto do mundo. E essas diferenças explicam em parte o diferente tratamento.
Quando procurava uma imagem para acompanhar este post, encontrei este artigo no site da revista americana The Atlantic que aponta 2 diferenças. Listo aqui para quem não percebe bem o inglês, que são a falta de cobertura apropriada pelos media e o tratamento dado pelo próprio Governo da Nigéria ao Boko Haram que tem agido quase impunemente em partes do país e que até chega a ser ignorado em discursos de campanha pois a Nigéria vai a votos daqui a 1 mês.
O mesmo artigo menciona que o mundo não ignora propriamente essa zona do mundo pois gerou-se a onda do #BringBackOurGirls a uma escala nunca antes vista e, acrescento eu, essa onde foi muito maior do que a #JeSuisCharlie, mas também mais lenta a arrancar e mais duradoura.
Mas no meu entender há mais diferenças/justificações: o próprio facto de na Nigéria, como na Síria, Iraque e Afeganistão existir um confronto aberto, uma guerra civil mesmo, envolvendo vários grupos, já desde há alguns anos. Isso vulgariza as tragédias que acontecem nesses países. Ao fim de algum tempo já ninguém considera notícia mortes no Médio Oriente, explosões na Palestina, trocas de tiros no Leste da Ucrânia, execuções de pessoas no norte do México. Torna-se tão vulgar como noticiar um acidente de viação com vitimas mortais; choca algumas pessoas, mas ninguém pára para reflectir sobre a coisa, no máximo abranda um pouco.
Para nós ocidentais, já se tornou habitual as tragédias nesses sítios. Quantos de nós não pensa quando se ouve noticias de mortes, ataques e confrontos em África ou Médio-Oriente "Lá estão aqueles gajos a matar-se outra vez. Andam sempre nisto."?
Mas quando acontece uma tragédia, um ataque terrorista mais perto de casa, em países onde se vive uma vida pacífica e normal com poucos acontecimentos desta natureza, isto choca mais e mobiliza a sociedade. Ajuda também o facto de quase no imediato e mesmo em directo estes acontecimentos entraram nos nossos olhos e ouvidos por um sem fim de meios, como os tradicionais media, e a Internet nomeadamente as redes sociais. O facto de vermos em vídeo, pouco tempo depois de ter acontecido, a execução do polícia Ahmed num passeio de rua em Paris, é como um soco directo que nos atinge com uma violência grande, pois apercebemos-nos mais facilmente que podia acontecer connosco. Paris é logo aqui ao lado!
Mas eu não tenho duvidas que se em França durante uns meses existirem ataques similares de quando em quando, os últimos a acontecer serão tratados quase como um fait accompli, recebendo o mesmo nível de atenção e mobilização pelo resto do mundo, como os ataques recentes da Nigéria.
E ao mesmo tempo que nos queixamos que ninguém fala da Nigéria, já "nos esquecemos" também dos ataques dos talibans à escola no Paquistão (pelo menos 141 mortos grande maioria crianças) que até já foi no ano passado. E já nos esquecemos da situação (que é ainda) de guerra civil no Leste da Ucrânia.
Como humanos que somos, temos quase todos as mesmas falhas e somos também influenciados pelos acontecimentos do agora e do que se fala nos media e pela Internet. Não nos esqueçamos disso.
Concluindo: sim é injusto que o mundo apenas se revolte com estes atentados quando crimes bem maiores acontecem no resto do mundo que apenas têm direito a um pensamento e uma nota de rodapé. Mas é compreensível que os casos sejam tratados diferentes, porque sendo iguais na essência, são diferentes no resto.
Várias pessoas têm-se questionado, e questionado os outros até, do porquê dos ataques de Paris desta semana originarem tanta mobilização a nível mundial, e ao mesmo tempo ataques do Boko Haram na Nigéria, sendo os ataques à bomba com meninas suicidas e o ataque total à cidade de Baga os acontecimentos desta semana, passarem para segundo ou terceiro plano.
É uma pergunta que faz muita lógica. Em Paris morreram ao todo 18 pessoas (descobriu-se que uma morte isolada na quarta-feira foi perpetuada pelo atirador de Montrouge e Porte de Vincennes), só no ataque bombista no mercado morreram 20 pessoas. O número de feridos é bem diferente. E o ataque bombista ao mercado foi com recurso a uma menina de 10 anos, certamente obrigada a isto, e quem sabe se não era uma das meninas raptadas pelo Boko Haram e que gerou a onda do #BringBackOurGirls.
Pode parecer indiferença; pode parecer hipocrisia do mundo ocidental e rico que só se interesse por tragédias no seu próprio quintal; ou simplesmente é o que é porque apesar de tudo existem diferenças entre os ataques em França, na Nigéria e mesmo os outros que vão acontecendo quase diariamente pelo resto do mundo. E essas diferenças explicam em parte o diferente tratamento.
Quando procurava uma imagem para acompanhar este post, encontrei este artigo no site da revista americana The Atlantic que aponta 2 diferenças. Listo aqui para quem não percebe bem o inglês, que são a falta de cobertura apropriada pelos media e o tratamento dado pelo próprio Governo da Nigéria ao Boko Haram que tem agido quase impunemente em partes do país e que até chega a ser ignorado em discursos de campanha pois a Nigéria vai a votos daqui a 1 mês.
O mesmo artigo menciona que o mundo não ignora propriamente essa zona do mundo pois gerou-se a onda do #BringBackOurGirls a uma escala nunca antes vista e, acrescento eu, essa onde foi muito maior do que a #JeSuisCharlie, mas também mais lenta a arrancar e mais duradoura.
Mas no meu entender há mais diferenças/justificações: o próprio facto de na Nigéria, como na Síria, Iraque e Afeganistão existir um confronto aberto, uma guerra civil mesmo, envolvendo vários grupos, já desde há alguns anos. Isso vulgariza as tragédias que acontecem nesses países. Ao fim de algum tempo já ninguém considera notícia mortes no Médio Oriente, explosões na Palestina, trocas de tiros no Leste da Ucrânia, execuções de pessoas no norte do México. Torna-se tão vulgar como noticiar um acidente de viação com vitimas mortais; choca algumas pessoas, mas ninguém pára para reflectir sobre a coisa, no máximo abranda um pouco.
Para nós ocidentais, já se tornou habitual as tragédias nesses sítios. Quantos de nós não pensa quando se ouve noticias de mortes, ataques e confrontos em África ou Médio-Oriente "Lá estão aqueles gajos a matar-se outra vez. Andam sempre nisto."?
Mas quando acontece uma tragédia, um ataque terrorista mais perto de casa, em países onde se vive uma vida pacífica e normal com poucos acontecimentos desta natureza, isto choca mais e mobiliza a sociedade. Ajuda também o facto de quase no imediato e mesmo em directo estes acontecimentos entraram nos nossos olhos e ouvidos por um sem fim de meios, como os tradicionais media, e a Internet nomeadamente as redes sociais. O facto de vermos em vídeo, pouco tempo depois de ter acontecido, a execução do polícia Ahmed num passeio de rua em Paris, é como um soco directo que nos atinge com uma violência grande, pois apercebemos-nos mais facilmente que podia acontecer connosco. Paris é logo aqui ao lado!
Mas eu não tenho duvidas que se em França durante uns meses existirem ataques similares de quando em quando, os últimos a acontecer serão tratados quase como um fait accompli, recebendo o mesmo nível de atenção e mobilização pelo resto do mundo, como os ataques recentes da Nigéria.
E ao mesmo tempo que nos queixamos que ninguém fala da Nigéria, já "nos esquecemos" também dos ataques dos talibans à escola no Paquistão (pelo menos 141 mortos grande maioria crianças) que até já foi no ano passado. E já nos esquecemos da situação (que é ainda) de guerra civil no Leste da Ucrânia.
Como humanos que somos, temos quase todos as mesmas falhas e somos também influenciados pelos acontecimentos do agora e do que se fala nos media e pela Internet. Não nos esqueçamos disso.
Concluindo: sim é injusto que o mundo apenas se revolte com estes atentados quando crimes bem maiores acontecem no resto do mundo que apenas têm direito a um pensamento e uma nota de rodapé. Mas é compreensível que os casos sejam tratados diferentes, porque sendo iguais na essência, são diferentes no resto.
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