segunda-feira, maio 23, 2022

O EuroFestival - All about Ukraine (mas não só)



Acho que nunca antes o vencedor do EuroFestival, que na verdade é o EuroConcurso da Canção pois o nome oficial é Eurovision Song Contest, era sabido semanas antes como este ano; ao confirmar-se que a Ucrânia iria participar já se sabia quem ia ganhar e, como eu escrevi meia-dúzia de vezes, até podiam ter mandado a pequena Amelia a cantar a versão ucraniana do "Let It Go" ou esta moça refugiada na Lituânia que canta uma música que não sei qual é mas que repete as palavras que se tornaram o slogan da resistência à Invasão (Falhada) do Putin: "Slava Ukraini".
Como se pode ver pela imagem de cima, o apoio do público europeu foi por demais evidente, tendo a Ucrânia recebido a pontuação máxima em 28 dos 39 países (são 40 mas o próprio não conta), e um total de 439 pontos em 468 possíveis. A pontuação mais baixa que recebeu dos espectadores foi 7 pontos (4ª mais votada) e foi na Sérvia (eventualmente o país mais amistoso da Rússia de todos os participantes).

Quando eu era mais novo via com interesse o Festival da Eurovisão, o que é normal pois era programa grande da RTP e durante uns anos não havia mais nada para ver. Mais tarde perdi praticamente todo o interesse, sobretudo depois da música da Lúcia Moniz, que teve a melhor classificação de sempre de Portugal até 2017 (e não foi a Dulce Pontes como eu sempre pensei até hoje), lembrando-me apenas de 2 participações, a de 2008 e depois obviamente a de 2011 com os Homens da Luta. Em 2017 todo o hype que se criou em torno da música do Salvador Sobral fez-me assistir ao festival (a Final) com atenção (e de notar que ainda detém o recorde de pontuação total, a Ucrânia teve a maior pontuação de sempre do público este ano mas não a total) mas depois a atenção murchou novamente.
Este ano estava entusiasmado, por ser uma artista que já conhecia e que gosto bastante, e convenci-me que ia ser uma boa prestação.
Vou aproveitar e falar já da canção de Portugal e dizer que com a simplicidade e sobretudo as harmonias vocais, pensei sempre que a MARO iria ter uma excelente pontuação do júri. E não foi má não senhor, foi a 5ª mais alta mas eu estava a contar com alguns 12 pontos (teve 4 10 pts) e que era candidata a ganhar essa componente, e estava realmente muito enganado. Parte desse erro foi não ter visto a segunda meia-final e logo não conhecia a do Reino Unido, a da Suécia e a da Espanha. Não que mudasse muito a minha previsão, mas a única coisa que acertei é que Portugal ficaria logo atrás da Ucrânia.
A outra metade da pontuação vem do público e eu sempre achei que era impossível saber para que lado o público estaria virado, é sempre uma incógnita. Mas mesmo depois de ter assistido à final e visto todas as prestações (mas algumas sem muito atenção), não estava nada à espera de alguns resultados.

Pegando nos meus apontamentos (uma publicação do Facebook onde fui comentando em jeito de caderno de apontamentos, mais para mim do que para os outros), a primeira surpresa foi ver os Rasmus a cantar e por isso apercebi-me que deveria ser uma novidade, estar a ver um EuroFestival com 2 artistas que já conhecia antes e já tinha ouvido álbuns completos (os Rasmus e a MARO).
E antes de ter começado a votação a minha atenção foi para 2 músicas, a do Reino Unido e a do Azerbaijão. Achei que foram 2 performances bastante fortes mas com a do Reino Unido eu fiquei dividido; gostei da música e o gajo cantava bem mas o timbre de voz e a atitude dele muito a rir-se e parecendo demasiado eufórico deixou-me com um feeling mais negativo. Mas as pessoas gostaram deste som que me parecia uma mistura de Elton John (até pelo título) com Queen. Mas acho que aqui meteu-se o factor Ucrânia à mistura e já falarei mais sobre isso.
Do Azerbaijão, que não estava a prestar muita atenção, achei que era uma boa música, uma boa voz e uma excelente prestação ao vivo. O júri concordou pois foi relativamente bem pontuado mas o público julgo que esqueceu a música ou simplesmente não ligam a este país, que ainda por cima voltou a entrar em confrontos armados com a Arménia (país mais bem "popular" no resto da Europa) este ano.

Depois começou a votação e eu fui apanhado de surpresa, com tantos pontos atribuídos ao Reino Unido, à Suécia (que não tinha visto, nem ouvido, com atenção mas boa performance vocal e uma música a fazer-me lembrar a Ellie Goulding) e sobretudo à Espanha.
A Espanha não conseguia perceber, porque achei uma prestação mediana a nível vocal, mas admitindo mais tarde que apesar da objectificação do corpo da mulher (e tenho umas notas sobre isso nos comentários no Facebook) foi uma prestação memorável. Logo na altura fiquei a pensar que poderia ser algo visto numa espectáculo da Rosalía (também ela espanhola) mas o meu irmão acabou por dar a melhor caracterização desta participação:
É como se fosse uma actuação de MTV ou Grammys. Podia ser a Camila Cabello. Não cantou grande merda, mas mostrou carne e dançou. Não é só o visual. A Espanha (Chanel) cantou a merda q se ouve nas rádios a toda a hora. Já ouviste "Evolver" da Anitta? Ou "Maami" da Becky G? Ou "Sweetest Pie" da Meghan Thee Stallion? Merda, merda e mais merda.


Uma prestação que o meu irmão gostou foi a da Itália, e eu também acho que a música é boa mas não gostei da performance ao vivo, onde achei que eles estavam desafinados. Foi mais o rapaz mais novo (o que faz sentido pois o outro, o Mahmood, estava a participar pela segunda vez, tendo ficado em 2° lugar na edição de 2019). E isso também acontece porque na versão de estúdio (cujo vídeoclip foi filmado aqui nos Países Baixos, curiosamente) é bastante notório o uso do auto-tune nas vozes, que depois se nota a falta dessa ajuda ao vivo.
Para mim a melhor prestação de uma música italiana nesta edição do EuroFestival foi esta aqui, a canção que iria participar no Festival de 2020 que foi cancelado, e era considerada a favorita à vitória.
De quem eu também gostei foi da música da Grécia e a daqui dos Países Baixos. Ouvi as duas na primeira meia-final e não me chamaram logo à atenção, mas depois de ouvir mais ficaram no ouvido. Curioso é que ambas me fazem lembrar Florence + the Machine, ou pelo menos o timbre da voz e no caso da S10 a sonoridade também (já no caso da Grécia a música faz-me lembrar uma da banda sonora do(s) filme(s) das "50 Sombras de Grey"). Se juntarmos a música da Suécia, cuja cantora também tinha uma voz mais original e cantou muito bem, a estas que referi, não fico muito "chateado" de terem ficado à frente (menos a dos Países Baixos) da MARO.

Mas já achei um escândalo a da Sérvia e a da Moldávia terem ficado à frente e aqui foi o factor público. Mas se a da Moldávia, que teve a segunda melhor pontuação dos espectadores, eu ainda entendo pois mete um bocado de folclore e presumo que algumas pessoas acharam que era o Adam Sandler, pelo menos igual a algumas personagens deles em filmes, a cantar uma versão da "Cotton Eye Joe" tal como eu.
A da Sérvia é que não encontro grande explicação, a música acho mesmo fraca (mas nos últimos 2 dias não me sai da cabeça, fosga-se!!!); talvez a malta tenha gostado da coreografia, que basicamente era lavar e abanar as mãos, se bem que eu tenho outra explicação (noutro parágrafo mais à frente). Mas a Sérvia ainda teve 2 12 pts do júri, mas dos vizinhos (e Montenegro alguma vez votaria outra coisa?!).
Sobre coreografia popular ninguém iria bater os lobos amarelos da Noruega (curiosamente não eram os únicos participantes noruegueses, a Amanda Georgiadi Tenfjord da Grécia também é norueguesa) que tiveram uma votação razoável do público e foram os preferidos das minhas crianças (mostrei depois). A música também fica no ouvido, não fosse um excelente tema pop dos tempos modernos.

Dos outros participantes não tenho muito a dizer. O rapaz da Polónia fez-me lembrar um pouco o Sam Smith e a música era boa mas não memorável; o da Estónia parecia um pouco o George Ezra a cantar mas a música fazia pensar num western qualquer; A Monika Liu da Lituânia levou uma música que ela mesma compôs, mas para além de se parecer com a Maria de Medeiros, o que eu me lembro melhor é que ela cantou a palavra "puta" (que em lituano é "espuma") com a mesma fonética da nossa; a música da Austrália (quando será que acabam as piadas deles não fazerem parte da Europa?) também me passou um pouco ao lado mas é do mesmo género da da Polónia (e também pensei no Sam Smith apesar do timbre não ser parecido); o rapaz da Suiça cantou bem, com uma voz um pouco ao estilo do Lewis Capaldi mas em tons mais baixos e diria que sofreu por ser demasiado básica (por exemplo a da MARO também era uma música simples mas trabalhada ao nível das harmonias); já o da Roménia decidiu cantar o refrão em Espanhol e também dançou (mas duvido que soubesse da Chanel de antemão); em relação à Bélgica a ideia é que já ouvi aquilo antes em qualquer lado (e lembrei-me dos 4Town do filme "Turning Red") e pensei porque é que não mandaram o Stromae; a Rosalina da Arménia tinha muitos post-its no palco mas a música, sobretudo o refrão, também parecia outra que já andou por aí (a, ou outra do mesmo género, do reclame do IKEA); a Czechia tinha uma daquelas canções de EDM (de DJ) que aparecem sempre nestes festivais e que por ter sido a primeira muita gente deve-se ter esquecido, tal como eu; a Islândia tinha as irmãs (acho eu) com uma música folk que me surpreendeu pela baixa pontuação (sempre achei que as pessoas gostavam disto); a França passou despercebida porque cantaram em bretão e por isso nem a diáspora francesa espalhada pela Europa votou neles porque não sabiam que eram os representantes do país; e a Alemanha ficou em último com uma canção que eu, mesmo tendo ouvido a playlist diversas vezes, não consigo me lembrar e porque ele tinha uma série de instrumentos no palco e deu a ideia que iria tocar todos e quando não o fez muita malta ficou desapontada...

Mas está na altura da outra justificação para algumas pontuações. Como escrevi logo no início era sabido o grande apoio que o público europeu iria dar à Ucrânia, e também se viu pelas palavras aquando das votações que alguns dos 12 pontos foram um sinal dado pelo júri desses países. E de certa maneira pergunto-me se o Reino Unido terá levado alguns pontos de simpatia também, pois no contexto geopolítico da guerra, o Reino Unido tem sido visto como um excelente aliado. E do lado oposto temos a França e a Alemanha que têm sido vistos, pelo menos nas redes sociais, como "uns "maus que tentam dar abébias ao Putin" e pergunto-me se terem ficado nos 2 últimos lugares é reflexo disso.
E depois creio que estes motivos políticos em relação à Ucrânia também se reflectiram na votação à Sérvia, pois existem 2 lados neste conflito, e temos um número de pessoas, minoria mas ainda com representação, que decidiram estar do lado do Putin, e esses não iriam votar na Ucrânia; mas na falta da Rússia e da Hungria, restava o país mais próximo da Rússia: a Sérvia.
Fica a pergunta no ar do quão mais a votação dos outros países (excepto Ucrânia) terá sido afectada pela actual situação...

E se acham que a política não conta no EuroFestival, é porque nunca prestaram atenção a votações anteriores. E sim, alguns países dão muito valor ao resultado final e ao que isso representa do ponto de vista de orgulho nacional.
Basta ver que a Hungria deixou de participar porque acham que o Festival se tornou demasiado gay (ou demasiado depravado) e relacionado com isso aconselho a lerem esta thread no Twitter (o autor é originário da Transnístria e conhece a realidade do tempo da URSS) sobre como o EuroFestival de 2018 afectou a Rússia e os russos e aquilo que eles pensam sobre a Europa Ocidental.

E termino partilhando um vídeo com uma espécie de best-of do EuroFestival, que resume algumas das coisas que eu disse e acrescenta outros: ESC 2022 moments that made me go YAASSS GURL SLAYYY

1 comentário:

  1. Depois de ouvir a playlist do YouTube das actuações na Final (https://www.youtube.com/playlist?list=PLmWYEDTNOGUJVTOMa-ZEmF0y7Iwkg11e2) consegui entender melhor porque é que certas músicas me "apanharam" de surpresa com a votação ou quando fui depois ouvir a playlist do Spotify (versões de estúdio): em muitas se notou desafinação e falhas de voz e por isso eu desconsiderei-as na altura (exemplos mais notórios tendo em conta o quanto eu gostei depois são a Suécia, a Polónia e a Austrália).
    Eu se fosse júri penalizaria sempre estas falhas e valorizaria bem mais as músicas um pouco piores mas cujos artistas desempenharam sem essas falhas.

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