sexta-feira, março 07, 2014

Tudo mais calmo mas o risco permanece

De há 3 dias para cá, depois da confusão na base aérea de Belbek (a foto aqui ao lado) onde tiros foram disparados para o ar, as coisas acalmaram bastante no que toca a riscos de conflito.
Mas de todo podemos falar que a crise passou. Enquanto tivermos 16000 tropas russas, que não são russas, a ocupar e controlar a Crimeia e tropas ucranianas cercadas nas bases, há sempre risco de um momento para o outro os ânimos se exaltarem e alguém perder a cabeça. Mas é preferível estas tropas disciplinadas (não-)russas que as verdadeiras milícias populares de cossacos, pois esses gajos estão mais dispostos a armar confusão...

Apesar de eu pessoalmente ter logo pensado que era necessário tomar uma posição de força, que incluiria o reforço de meios militares na Polónia e no Mar Negro antevendo um conflito aberto, a diplomacia funcionou. É a minha opinião agora que o Putin apercebeu-se que apostou mas perdeu e agora tem de salvar a face para não sair fragilizado desta situação. Se tacticamente a Rússia tem a situação controlada, estrategicamente estão em risco de perder em todas as frentes. E curiosamente o papel do ocidente (Europa e EUA) é ajudar o Putin a safar-se deste imbróglio que criou.

Tal como eu já tinha escrito, os argumentos da Rússia e do Putin para a intervenção são muito fraquinhos. O Departamento de Estado norte-americano até publicou a sua refutação dos mesmos, um pouco mais completa que a minha, mas também tiveram mais tempo e eles são muitos a trabalhar em exclusivo para isto.
Uma das coisas que me parece desnecessário é arranjar provas que estas forças que estão no terreno são tropas russas. O embaixador russo na UN até apresentou provas para a intervenção e o envio de tropas. O Putin admitiu que foi legitimo enviarem tropas, agora é que dizem que não são, parte já do salvar a face desta situação!
E se ainda é remotamente possível considerar que as tropas são unidades de auto-defesa da Crimeia (ignorando todas as evidências), não há dúvidas algumas que em Sebastopol é a frota do Mar Negro que bloqueia os navios da Marinha ucraniana. Certamente o Putin não vai tão longe e afirmar que estes navios são agora de milicianos da Crimeia!

Mas numa coisa eu estava enganado. Disse que a Crimeia passava para a Federação Russa assim que fosse confirmada a sua secessão da Ucrânia, mas eles foram ainda mais rápidos. Já tomaram essa decisão. E vão ser um referendo em 10 dias. Um referendo sem quaisquer observadores internacionais, que são impedidos por grupos armados de entrar na Crimeia, e com 16000 tropas (não-)russas de armas a mão a controlar o mesmo. Presumo que este referendo seja como as eleições na Rússia. Como dizia o Estaline, o que interessa não e como se vota mas sim como se conta. Mesmo que 50% do povo da Crimeia não queria fazer parte da Rússia, o "Sim" à adesão vai ganhar para aí com 90%!

Como digo no título a situação está muito melhor agora. Só que não sabemos o que vem aí. Os russos têm razão numa coisa. Os grupos de extrema-direita que aos poucos vão assumindo mais protagonismo na Ucrânia são um risco para toda a gente. Estas facções são muito bem organizadas e arranjam logo uma força para-militar que dá jeito em certos alturas (como nas demonstrações) mas deixa caminho aberto a outras intervenções. Esta malta tem um objectivo e não perdem tempo em discussões políticas. Nem sequer precisam de chegar ao poder legitimamente, basta meter o pé na porta e esperar que os outros partidos discutam entre si. Assim que a malta estiver distraída eles usam a sua força e organização para tomar o poder, muitas vezes com o apoio popular porque eles até sabem dizer umas coisas, como meter as culpas nos estrangeiros e prometer glória à nação.
A BBC tem um artigo interessante sobre isto, onde mostra que não são um problema agora, ao contrário do que os russos argumentam, mas fica claro o risco que eles representam.

E afinal o Yanukovich não desapareceu. Está internado num hospital em estado grave. Bem que o Putin dizia que ele não tinha futuro político, apesar de ser o legítimo chefe-de-estado da Ucrânia. O Putin esqueceu de referir é que ele não tinha futuro, ponto.

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