E por que é que estou decepcionado? Porque eu sou uma pessoa que faz sua própria pesquisa e incentivo os outros a fazerem o mesmo, mesmo quando leiam/ouçam as minhas próprias opiniões fundamentadas (devido a essa própria pesquisa; eu costumo dizer/escrever para não simplesmente acreditarem em mim, mas verificarem também por si mesmos).
Mas a "própria pesquisa/investigação" que podemos fazer não é obviamente a mesma investigação que os especialistas no assunto fazem, e é claro que não é uma investigação científica. É mais uma pesquisa "jornalística". Eu faço-o sempre que tenho tempo suficiente para saber mais sobre um determinado assunto, quando houve uma discussão/debate e quero saber o que os dados/factos pesquisados por outras pessoas (sempre múltiplas fontes) dizem sobre isso, mas também quando eu vejo pessoas a reivindicar algo que é único e diferente do que é considerado "o consenso geral". E porque estou ciente do chamado confirmation bias, em português viés ou tendência de confirmação, (que está mencionado na imagem do canto), quando vejo uma afirmação "estranha" não procuro por informações para desacreditá-la (ou seja, corroborar minhas próprias crenças), mas tento sobretudo encontrar informações que validem essa afirmação - e é na maioria das vezes a falta dessa informação em múltiplas fontes (falta de corroboração) me obriga a procurar pela informação que a desacredita.
Eu tenho a sorte de não ter problemas em ler artigos longos e complexos e até mesmo os próprios artigos e estudos científicos referenciados em muitas notícias e páginas da Internet, e geralmente consigo entender correctamente as conclusões gerais.
Por outro lado, tenho que dar um pouco de crédito ao texto da imagem, em particular às referências a "You have Google" ("tem acesso ao Google") e a "You don't know how anything works" ("Não sabe como as coisas funcionam")!
Encontrei alguém que partilhou este artigo de pesquisa Disentangling post-vaccination symptoms from early COVID-19 e afirmando que o estudo diz que os efeitos de Long COVID não podem ser distinguidos dos efeitos colaterais pós-vacina!
Spoiler alert: o artigo não diz nada disso! Trata-se de distinguir os sintomas iniciais da vacinação da infecção precoce por COVID e recomendar testes mesmo que a pessoa tenha sido vacinada recentemente, pois pode ser uma infecção por COVID. Conforme está descrito em:
"In conclusion, post-vaccination symptoms cannot be distinguished with clinical confidence from early SARS-CoV-2 infection. Our study highlights the critical importance of testing symptomatic individuals - even if recently vaccinated – to ensure early detection of SARS-CoV-2 infection and help prevent future waves of COVID-19."
E ainda por cima o título menciona "early COVID-19" que é o oposto de Long COVID!
Então sim, as pessoas encontram coisas online (neste caso porque o texto "Long COVID" aparece uma vez numa secção do artigo), interpretam mal (devido às suas crenças) e depois compartilham como prova do contrário! É realmente um caso de "fazer a sua própria pesquisa" mal feita.
Mas concluindo, é claro que não podemos fazer nossa própria pesquisa tal como os cientistas (a não ser que seja um e na área em questão). O que podemos e sempre devemos fazer, é não aceitar piamente tudo o que encontramos nos media, em vídeos, em podcasts, etc... Se nos depararmos com um assunto sério e importante que é relevante para nós, seja porque somos curiosos ou porque nos afecta directamente, então devemos tentar descobrir mais sobre as afirmações, os factos, os dados, sobre as pessoas que estão a afirmar isso e também o que outros dizem sobre a mesma coisa.
Leva tempo, às vezes muito tempo, mas se é algo realmente importante, o tempo é bem usado e vale a pena.
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