terça-feira, junho 23, 2015

Isto assim não se resolve

O Isto refere-se de forma geral a muitos dos problemas que afectam a nossa sociedade e o nosso mundo actualmente, e o assim refere-se aos líderes e responsáveis da nossa sociedade, sejam os políticos sejam os religiosos sejam os económicos; e se calhar nem é só aos líderes mas sim às pessoas, todos nós, a sociedade; e se calhar é mais do que a sociedade é toda a civilização actual.

Este meu pessimismo é consequência de várias notícias que tenho seguido nos últimos dias, mas uso apenas 3 exemplos que para mim mostram porque é que nada se resolve.

Comecemos pela crise UE-Grécia, ou impasse. Este é um tema para mim complicado onde vejo contradições e sinto-me dividido. Por isso já desisti de tentar perceber a situação. Parece-me que muita gente sabe bem qual é o problema, mas os lados diferentes da barricada apontam as culpas para o outro lado. É certamente mais um caso em que existem 2 versões distintas do discurso e a verdade estará algures no meio.
Quando tomava duche e formulava este texto para escrever, estava a debitar umas palavras sobre números e factos por oposto a opiniões e ideologias. Não vou falar disso, ia ser chato e corria o risco de dizer asneiras devido às fontes usadas.
Vou apenas dizer que não tenho dúvidas que na Grécia já muita coisa foi feita. Parece-me claro que os indicadores macro-económicos do país revelam uma melhoria em relação ao incio da crise, logo o país conseguiu equilibrar as contas o que teve grande impacto negativo a nível social, como é apanágio desta formula de austeridade usada na UE. Portanto é estúpido que se diga que os Gregos nada fizeram e por isso é que não há acordo.
Mas também me parece claro que o governo grego quer manter certas promessas eleitorais para as quais não tem dinheiro e os restantes governos da UE estão relutantes, para não dizer absolutamente contra, em financiar essas medidas.
O que para mim é parvoíce é que se aponte simplesmente o dedo ao outro lado, fazendo daqueles que deviam ser parceiros verdadeiros inimigos. E são sobretudo as ideologias que estão em confronto, ou posto doutra forma, a teimosia das diferentes ideias. Cada lado acha que a sua ideologia, ou teoria do modelo económico-financeiro-social a aplicar, é que está certa e teimam em impô-la ao outro lado. A UE, tendo uma posição de força por ser o lado maior e o credor, parece ser o "mais mau" nisto tudo. E eu acho que sim, que tem a maior fatia da culpa, porque os actuais mandantes têm medo que uma alternativa ao modelo aplicado até agora possa funcionar com os mesmos ou até melhor resultados.
Na verdade eu acho que o programa inicial do Syriza, aquele que apresentaram para as eleições nunca iria resultar, tendo o próprio Varoufakis admitido logo após a vitória que tinham feito bluff, mas eu sinceramente gostava de saber se algumas ideias diferentes funcionariam ou não. Mas a verdade é que temos todos de trabalhar em conjunto, mas lá se mantém um braço-de-ferro acima de tudo parvo.
E enquanto esta malta política continuar assim, casmurra, desconfiada, rancorosa e até mesmo vingativa, vão-se perdendo muitas oportunidades para se resolver a tempo, vários problemas que nos afectam.

O outro exemplo vem da situação Isreal-Gaza. Isarel há umas semanas publicou o seu relatório sobre o último conflito e obviamente o seu relatório aponta as culpas todas para o Hamas. Israel fez tudo bem e só o facto do Hamas disparar rockets a partir de zonas residenciais é que levou a mortes de civis pelos bombardeamentos israelitas.
Na altura o Hamas criticou, naturalmente, o relatório de Israel, dizendo que era cheio de mentiras.
Agora surgiu o relatório da ONU. Sem grandes surpresas o relatório aponta culpas para os 2 lados. Israel por ter bombardeado zonas residenciais muitas vezes em horários em que as famílias estariam todas reunidas, como por exemplo à noite ou hora das refeições, desse modo aumentado o numero de vitimas, e o Hamas por também ter disparado rockets contra zonas residenciais em Israel.
O Hamas criticou este relatório pois para eles não fizeram nada de errado.
Israel criticou também, aliás nem sequer colaborou com a ONU neste processo, pois diz que é um relatório tendencioso e elaborado desde o início sob a premissa de culpabilizar Israel.
E assim que a coisa vai-se passando. Como de costume aplica-se a frase "é preciso 2 para se dançar o tango". Nos conflitos costuma haver um lado que é o agressor ou o instigador do mesmo. Esse lado tem mais responsabilidades, mas enquanto os 2 continuarem a achar que não fazem nada de errado, muita gente continuará a morrer e a odiar-se durante tempo demais.

E isto leva-me à terceira notícia, uma pequena nota apenas. Um outro responsável que acha que nada de mal fez e que não tem culpa ou nada podia fazer para evitar uma derrocada. Ricardo Salgado encomendou um estudo que diz que a crise financeira não foi a única culpada da derrocada do BES, mas o Governo e o Banco de Portugal é que deram a machadada final. Pelos vistos na conclusão deste estudo a gerência não teve nada a ver. Tudo causas externas e ainda por cima incompetência dos políticos e entidades reguladoras.
O facto do estudo ser encomendado revela muita coisa. Nenhum fornecedor executa uma encomenda que não seja de acordo com o gosto do cliente (ou o caderno de encargos). Quando o faz, não é pago, ou arriscar-se a ficar sem clientela. Portanto este estudo é feto à medida de Ricardo Salgado.
Mas o que nos vale é que a nova coqueluche da política portuguesa, em meia-dúzia de perguntas inconvenientes, revelou a completa ignorância e muita incompetência dos responsáveis desta entidade, e outras envolvidas, e por isso que a maioria das pessoas sabe que Ricardo Salgado & Companhia não se safam tão facilmente da culpa. Talvez, ou melhor, o mais certo é que se safem na justiça, mas caiu-lhes a máscara na opinião pública.
Mas enquanto estes banqueiros e empresários continuarem a agir como os donos da razão e acima de quaisquer consequências, muito dinheiro se perderá, muitos negócios se arruinarão e muitas pessoas sofrerão directa e indirectamente com o custo destas derrocadas.

Pelo menos ninguém fala do Ébola, por isso deve estar tudo controlado nessa frente...

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