segunda-feira, maio 10, 2021

The Phantom Menace


Este historial que vocês vão ler a seguir era para ter sido um desabafo longo, e parte da minha terapia, em que abro o jogo e relato os momentos maus pelos quais passei nos 2 últimos anos. Mas ainda não  tinha planeado publicar agora, só que ao escrever a outra dissertação sobre o diagnóstico da minha psique comecei a fazer a contar a estória desde o principio e ja ia em vários parágrafos. Assim usando a técnica de Separate & Clarify e aproveitando que é o ultimo dia da Semana Star Wars (o dia 10 ainda conta) aqui vai:

No so long time ago, in a galaxy not far away...

Com a inspiração no Star Wars, tinha de começar assim. Bem, adiante: havia um gajo que volta e meia ficava depressivo, muitas vezes quando visitava Portugal e regressava, uma espécie de depressão pós-férias mas não por as mesmas terem acabado, mas porque o visitar Portugal e voltar aos Países Baixos era sempre uma constatação que a minha vida era outra e a vida de antes que ficou em Portugal, ficou também no passado, nunca mais voltaria ao mesmo. Às vezes também ficava depressivo com certas situações mais pessoais e isso já fruto certamente da minha condição, pois tal como comprovado mais tarde (já lá chegaremos) eu tenho o hábito de correr um cenário, ou uma simulação, completo na minha cabeça e chegar rapidamente a um final (nem sempre o correcto mas na mesma um final provável) e quando esse final é negativo fico em baixo. Disse-me uma vez o assistente social (também formado em psicologia) que nos ajuda com o Sebastião que sou demasiado inteligente para o meu próprio bem.

O que foi diferente em 2019 das outras depressões regulares é que com o falecimento do Daniel perdi aquela única pessoa com quem falava mesmo de tudo e não conseguindo encontrar verdadeiro substituo fui engolindo cada vez mais. Um acidente de mota, uma viagem a Portugal e o não estar a conseguir fazer nada bem (não corria bem no trabalho, em casa, com o Sebastião) e as minhas próprias condicionantes levaram a que a já regular depressão pós-férias fosse bem pior que o normal. A minha característica de correr a simulação completa até ao fim e ver qual o resultado final naquela altura só me fazia ver que não havia solução e quando não vemos uma solução para uma série de problemas e estamos mal, aparece uma ideia na nossa mente que pode ir pingando regularmente até encher o balde: o suicídio.
Isto foi o problema principal durante 2019, de Setembro a Outubro, até voltar a recuperar por mim mesmo e conseguir dar a volta por cima e recuperar mas na verdade sem recuperar totalmente.

Foi por essa razão que em Março falei que precisava de falar com o medico. E depois do conselho de um ex-colega meu que curiosamente serviu de Daniel durante umas semanas, nesta altura tive as primeiras consultas com uma terapeuta (mas não propriamente uma psicóloga) que aconteceram durante o inicio da pandemia e foram por telefone, mas que ajudaram. Tinha ficado combinado com ela que eu iria escrever sobre o que se passou comigo mas só hoje escrevi pela primeira vez a parte pior.
Mas o problema maior de todo foi o que estava ainda para vir...

The Depression Strikes Back

Em Maio, mais especificamente em May the Fourth, Dia Star Wars, comecei um novo emprego. Ainda estávamos na pandemia, ainda não tínhamos conseguido arranjar a ajuda apropriada para o Sebastião (e para nós), estávamos aliás numa luta contra as entidades de saúde que achavam ser uma coisa com a qual a Carolina discordava totalmente e eu, no meu papel de troubleshooter, estava disposto a tentar pois era uma causa provável e valia a pena testar nem que fosse para eliminá-la. Os primeiros 2 meses correram bem mas depois voltaram os problemas: em casa parecia estarmos outra vez numa situação sem solução, a pandemia estava a atrapalhar tudo o resto e a falta de certas condições para mim (a rotina de ir para o escritório, a falta de poder observar os colegas no dia-a-dia e ficar a conhecer como funciona a equipa, a mistura entre espaço e tempo familiar e o profissional pois estávamos todos em casa) trouxeram a depressão novamente. Tal como 9 meses antes, comecei a flipar, mas desta vez estava sempre em casa e eu comecei a não conseguir sequer fazer o mínimo necessário do ponto de vista de trabalho. A ideia de acabar com a própria vida para não ter mais com que me preocupar e ao mesmo tempo livrar a família do peso de terem de me aturar (pois achava cada vez mais que eu era parte do problema) continuava a bater constantemente à janela. E juntou-se outra ideia: fugir para um sitio longe e nunca mais voltar. Ou era uma coisa ou outra. Só nada aconteceu de mais sério precisamente por estarmos sempre todos em casa e eu não conseguir ver como executar qualquer uma das ideias com plena taxa de sucesso e mínimo impacto.
Mas um dia, cheguei a estar com uma faca grande de cozinha encostada ao peito, a pensar se teria força suficiente para enfiá-la pelas costelas...
É impressionante como uma pessoa pode ficar completamente perdida...

Fiquei de baixa, o que ajudou a melhorar um bocado pois tirou um peso de cima mas quando tentei recomeçar não me senti capaz de o fazer. A equipa tinha crescido, eu não sentia qualquer ligação com eles, tudo me parecia difícil. Como disse mais tarde a várias pessoas, fosse que situação fosse, eu parecia um burro a olhar para um palácio, nem sabia por onde começar. Como poderão depois ver quando publicar a outra dissertação, eu estar assim perdido para uma coisa que sempre me foi fácil (o trabalho) deixou-me um bocado em pânico. Naquela minha forma de chegar logo ao resultado final, só pensei que não ia manter o emprego e depois não teria capacidade de arranjar outro mas sem solução à vista arranjei um outro subterfúgio: fingir que estava tudo normal e ignorar tudo o resto.

De notar que aqui a medicina do trabalho tinha arranjado uma psicóloga para me ajudar, mas ela recebeu o relatório deles e da empresa com o ponto de vista deles dos meus problemas para trabalhar (apesar desses problemas ter sido eu a descrever-los) e numa mistura disso, com ela ser holandesa, e não ser grande coisa, ao fim de algumas sessões estava pior. Irei falar disso novamente mas o sentimento com que fiquei é que era um sociopata e portanto a juntar à incapacidade com que já estava, juntou-se esta ideia que as minhas ligações pessoais e emocionais eram falsas e ainda mais desesperado fiquei.

The Help Awakens

O auge do meu estado, que eu designei de Estado Fodido neste outro texto, chegou quando o meu chefe e a pessoa dos Recursos Humanos, preocupados comigo por estar "desaparecido", contactaram a Carolina, que neste momento achava que eu estava a recuperar, pois eu passava horas no computador supostamente a trabalhar.
E entretanto eu já tinha começado com uma nova psicóloga, portuguesa, que já estava a nos ajudar com o Sebastião mas ainda só tinha tido a primeira consulta e não tinha tido oportunidade de desabafar o quão mal estava (mas era esse o meu plano, admito). A chamada precipitou tudo mas ao mesmo tempo tirou um enorme peso dos ombros, aquele peso que eu carregava da mentira e de não saber o que fazer. Fizeram na minha vez e agora era altura de confrontar o problema.

A minha veio para nos ajudar com os miúdos, pois durante todo este tempo estávamos todos fechados em casa muito tempo, pois a escola abriu mas fechou novamente. E a minha segunda psicóloga, a I. ajudou-me imenso tanto a saber o estado em que estava, como insistindo em coisas que eu achava serem superficiais mas consegui perceber a importância. E apesar de não concordar com tudo o que ela disse ou aconselha, estarei para sempre grato à I. por me ajudar a conhecer-me melhor e dar-me ferramentas para enfrentar o burnout e depressão que não foram nada meigos.

Depois de muito descanso, de fazer um esforço a energia voltou, tive o despertar da força que quase sempre me caracterizou e de repente as coisas já não me pareciam um problema. O mês de Janeiro ainda foi de transição mas desde Fevereiro que sou o Bruno BaKano do costume. Alias, sou uma versão melhor, mas ainda com cautelas pois a I. também me explicou que muita gente que tem burnouts depressivos como eu tive demora entre 1 e 2 anos a recuperar e eu, apesar de achar que estive demasiado tempo de baixa, até recuperei para um bom nível em alguns meses e sem recurso a medicação, mesmo eu ter pensado a certa altura que não ia lá sem químicos...

Return of The BaKano

E este capitulo e so para terminar esta aventura. Agora que já falei de coisas bem pessoais, talvez não tanto como pensei em fazer, e se calhar um dia volto a abrir o livro e a mente sobre as merdas que por aqui passaram e pairam ainda, podemos passar para o que era suposto ter escrito nas últimas noites (mas que não vou publicar já porque já é tarde): Afinal qual é o meu diagnóstico ou condição/perturbação mesmo?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Opina à tua vontade