domingo, maio 16, 2021

Afinal qual é o diagnóstico ou condição/perturbação mesmo?

 

Há coisa de 3 semanas já tinha uma pequeníssima introdução para este texto escrita e guardada aqui como draft. A imagem de cima já estava escolhida (e editada pois tive de procurar e juntar as duas) e o título pensado. Mas depois sem ter escrito muito mais, e com outras ideias em mente, fiz uma sondagem no Facebook sobre qual seria o proximo a tema a dissertar. Até partilharam a minha sondagem num grupo de malta da terreola (Sever do Vouga) e como o like era o voto neste texto, considero que foi o escolhido por 16 pessoas. A pequena sinapse que usei para descrever este texto foi: como eu acho que tenho uma coisa (PHDA), uma psicóloga acha que sou sociopata, outra que tenho Asperger e finalmente outra que acha que é apenas Sobredotação.
Mas antes de avançar para estes diferentes diagnósticos, e mais explicações do mais recente, acho que é preciso contar a estória desde o início, e por isso se quiserem cliquem no link aqui mesmo atrás. Mas se querem só saber o processo para me diagnosticar, que ainda não sei quando estará completado, podem continua a ler o texto seguinte.

Para quem leu a estória linkada no parágrafo anterior, sabe agora que quando fiquei em burnout comecei a ter consultas com uma psicóloga/terapeuta. A C. tentou ajudar-me com base num caderno de encargos fornecido pela medicina do trabalho e por isso os problemas que estavam apontados eram aqueles que me estavam a impedir de trabalhar. Apesar de eu ter sempre mencionado que isso era fruto do meu próprio estado, esta cena holandesa de se fazer aquilo que está no plano levou a que ela se focasse nesse ponto; mas os primeiros conselhos deixaram-me logo de sobrolho franzido: ter uma mood lamp durante o dia e ouvir sons de floresta tropical e natureza durante a noite para dormir.
Mas pior que isso foi ela dizer que eu era incapaz de ter ligações emocionais com os outros, que quando eu falava apenas descrevia pensamentos e não sentimentos. Obviamente eu saltei logo para a conclusão que ela estava a sugerir que eu era um sociopata, que são considerados pessoas que não conseguem criar ligações com os outros e não costumam manter empregos por bastante tempo (que ela achava ser o meu caso). Na verdade a condição seria Alexithymia (não parece existir este termo em Português), pois ela estava sempre a tentar que eu descrevesse feelings (sentimentos) na vez de thoughts (pensamentos), mas ela nunca mencionou esta condição (acredito agora que nem sabe que existe nome para isto).
Basicamente as sessões deixavam-me pior e a insistência dela em fazer perguntas que eu não sabia responder e logo a seguir me perguntar "mas é legitimo não saber?", que eu também era incapaz de responder porque para mim sim mas se calhar para os outros não, só me dava nós no cérebro. Sei que algumas pessoas podem achar que ela fazia perguntas incómodas para me pôr a pensar, mas ficávamos presos num novelo e ela não fazia nada para me ajudar a desfiá-lo.
E depois achava que eu precisava aprender a falar normalmente com as pessoas, apresentado-me cenários tal como um colega de manhã chegar triste porque tinha deixado morrer uma planta e eu deveria mostrar empatia e perceber que a planta para aquela pessoa tinha valor emocional; ou seja saber o que dizer! Eu sei muito bem o que dizer, falar com as pessoas e até perceber como se sentem raramente foi um problema para mim! Enfim...

Eu tentei dar-lhe oportunidade e ver se ela teria razão mas estava a ficar cada vez pior e por isso disse na medicina do trabalho que não valia a pena continuar e lá fui começar o tratamento com a I., com referência (credencial) do médico de família para testar possível PHDA (Perturbação de Hiperactividade/Défice de Atenção).
Como escrevi na estória, a I. ajudou-me realmente mas ela inclinava-se mais para o Síndrome de Asperger (que agora já não se usa este termo, faz parte do espectro do autismo, mas isso são critérios de avaliação e diagnóstico). Só para contextualizarem melhor, Asperger é aquilo que o Elon Musk (da Tesla e da SpaceX) tem, portanto não é ser um esquisitóide como alguns pensam (a Greta também foi diagnosticada com Asperger).
Mas de certa maneira a I. parece inclinar-se sempre para esse lado, pois ela também achava que o Bastião tinha Asperger e não PHDA apesar dele ter sido diagnosticado com PHDA e SPD (Sensory Processing Disorder) por outra entidade, que mencionou que ele tem também alguns traços do espectro do autismo (que toda a gente tem, uns mais que outros) mas não os suficientes para ser diagnosticado como autista.
Só que a característica mais vezes apontada para quem tem Asperger é a dificuldade no relacionamento social, que apesar do Bastião ter não é porque evita, e é coisa que eu não tenho de todo (apesar de facilmente me cansar das pessoas, mas já lá chegaremos).

Ao fim de algum tempo com a I., e de ter feitos progressos, eu finalmente iniciei o processo para o qual tinha recorrido à clinica: uma avaliação psicológica.
E para isso tive umas sessões com a M., que já conhecia pois ela ajuda-nos com o Bastião também. E foi a M. que me diagnosticou uma coisa nova: Dupla Excepcionalidade (Sobredotação + Asperger)!
Na sinapse que escrevi na altura no Facebook só mencionei a Sobredotação já que era apenas isso que sabia na altura (tive 3 consultas com ela para falar sobre o relatório da avaliação) e assim sendo começo por aí pois é o diagnóstico menos contencioso para nós, apesar de ser talvez aquele que fará mais pessoas que lerem isto encolher os ombros.

A M. fez um teste de QI (é sempre por aí que se inicia uma avaliação, o Bastião passou por isto também) WAIS-III, em Português, Escala de Inteligência Wechsler para Adultos - 3a edição.
Este teste permite calcular 2 tipos de QI, o Verbal e o de Execução, através de 4 agrupamentos de sub-testes (índices). O resultado combinado dos treze sub-testes (falta um na imagem em baixo) permite calcular o QI Total.


Como podem imaginar isto não é um teste daqueles que se fazem em 5 minutos na net, nem tampouco aquele teste de dizer "Pessoa, Elefante, TV" como o Trump se gabou. Foram 2 sessões de quase 1,5 hora cada. Mas porquê que este teste serviu para chegar ao diagnóstico de Sobredotação? Por causa disto (e sim, não mostro o valor de QI porque por si só pode dar azo a interpretações erradas ao se comparar com outros que se fazem pela net, ou valores que são atirados para o ar sem qualquer contexto):


Apesar de à primeira não se perceber porque é que isto é um problema ou de que serve saber que sou considerado sobredotado, a verdade é que agora tenho uma justificação para comportamentos e para situações que vivi ao longo do tempo. Se olharmos para as percentagens, e por exemplo no QIs Verbal e Execução, que se aplicam à maioria das interações profissionais e do dia-a-dia, se eu estiver num grupo de 1000 pessoas, não existe ninguém similar a mim. Terei de alargar o grupo para as 2000 para encontrar alguém parecido. Portanto isso permitiu obter uma resposta a perguntas que eu tinha frequentemente no dia-a-dia e no trabalho, tal como "mas será que eu falo chinês e ninguém me percebe?",  "mas porquê  estamos a perder tempo com estas perguntas se é tão claro o que foi dito?" e sobretudo "porque me estão a repetir isto que eu já sei?". Ao contrário do que eu assumia ser o normal, a larga maioria das pessoas precisam de mais tempo ou mais informação para chegarem às mesmas conclusões que eu chego normalmente muito rápido. E eu tenho de aprender a controlar a frustração e até mesmo baixar as expectativas ao lidar com a maioria das pessoas.
Curiosamente eu faço isso muito bem com os clientes, daí ser bom a fazer suporte técnico, mas isso porque assumo sempre que o cliente normalmente sabe menos do produto, e o meu papel é ajuda-lo ao mesmo tempo que ensinando. Mas com os colegas de trabalho eu assumia que o nível era o mesmo, ou melhor dizendo pois sempre tive a ideia de ser bom naquilo que faço, o nível era mais baixo mas equiparável.
A sobredotação também explica parte do meu problema com as pessoas: como escrevi em cima as pessoas facilmente me aborrecem, ou quando demonstram estar abaixo do que eu esperava, eu perco o interesse e desligo-me. Se olharmos novamente para as percentagens como expliquei antes, percebe-se o porquê.

Mas então e o resto? A M. ao princípio achou que era só isto, mas eu insisti no PHDA, porque se olharmos para os critérios de diagnóstico muita coisa parece bater certo comigo. E sobretudo porque o PHDA é considerado hereditário, o Bastião tem e eu acho que o meu pai também apresenta muitos sintomas de ter, logo eu deverei ter também. Só que a M. não observou nenhuns problemas de atenção, apesar de eu os ter mas normalmente por estímulos externos, nem ela acha que sou impulsivo, só que eu sou em ambiente familiar (mas raramente o sou fora de casa). Ela acha que o Asperger faz mais sentido sobretudo por causa do hiperfoco, mas esse é para mim outro ponto de discórdia pois eu acredito que um dos traços do PHDA é precisamente ter-se hiperfoco quando o tema/assunto é do interesse.
Como não existem aparentemente testes para se confirmar Asperger, eu convenci a M. a administrar-me um teste para PHDA (em adultos é mais difícil diagnosticar que em crianças pois nós já arranjamos técnicas para ultrapassar o problema, mesmo que inconscientemente). Esse teste fiz na segunda-feira passada e julgo que não vai mudar o diagnóstico uma fez que foi novamente em ambiente controlado e logo nenhuns estímulos externos para me fazer perder a atenção (a não ser a própria M.).
Mas quando debatermos o resultado desse teste, e depois de eu ler mais sobre a Dupla Excepcionalidade em adultos, ou eu mudo de ideias ou convenço a M. a fazer outra coisa...

1 comentário:

  1. Outra coisa que me esqueci de mencionar em relação ao Asperger: quase todos os diagnosticados tiveram um atraso qualquer na infancia, nada de especial, mas um atraso a falar ou a comecar a caminhar. E a juntar a isso (e ao relacionamento social) tem os interesses limitados (em numero).
    Nada disso se aplica a mim, que se alguma diferença tive na infância foi o ser precoce e os meus interesses apesar de serem especiais não são nada limitados em numero, pois eu interesso-me por imensas coisas, muitas delas completamente banais como qq gajo (desporto, carros, motas, musica, televisão, cinema, gajas)

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