Durante o dia de ontem, 25 de Abril, as primeiras 2 frases desta citação estiveram partilhadas no meu Facebook desde as 8:09 (daqui) até às 20:34, por isso mais de 12 horas. Para mim fez sentido, sobretudo depois do ano passado que tentei (quando me ia lembrando) de partilhar momentos da revolução à hora exacta que teriam acontecido (e que depois originaram o texto 25 momentos do 25 de Abril de 1974).
Mas também faz sentido porque esta frase deixa-me com lágrimas nos olhos quando a releio. De certa maneira esta frase, a verdadeira que Salgueiro Maia proferiu ainda era noite na praça do quartel da Escola Prática de Cavalaria, tem muito mais poder lida do que ouvida no filme "Capitães de Abril", pois nem sequer no filme a frase está correcta e tenho a certeza que o circo não foi tão grande como o filme adaptou. E de certa forma imaginar Salgueiro Maia dizer isto e ver a maioria dos praças, sargentos e outros oficiais formarem para sair como se fosse a coisa mais natural e simples do mundo, tem um outro poder.
Pergunto-me também que tipo de pessoa seria eu, se fosse um adulto por alturas do 25 de Abril? Aliás antes ainda, pois o 25 de Abril foi um culminar de anos. Teria aderido ao Partido Comunista e lutado na clandestinidade, sofrendo represálias como as descritas neste relato de Luis Osório (que também me comoveu)? Ou teria sido mais um dos "que se foi aguentando o melhor que pôde, a tratar da vidinha e a fugir da confusão"?
Um cenário provável seria fazer parte também das Forças Armadas. E nesse caso, seria um dos que tinha morrido por consequência da guerra colonial, como aconteceu ao pai da Isabel Cid, o Major Balula Cid, segundo-comandante do Batalhão de Caçadores 114, como ela conta noutro poderosíssimo relato? Ou teria sido como o marido dela, Pedro Lauret, oficial da marinha que já desde 1970 organizava grupos clandestinos politicos de oposição ao regime e fez parte da comissão que redigiu o Programa do MFA?
De que lado estaria eu naqueles anos que antecederam a revolução, do lado certo da história, sendo parte activa da mesma, ou do lado passivo, daqueles que só cantaram alto quando os cestos já se lavavam?
Sinceramente não sei. Transpondo o eu de agora, e assumindo que tivesse ingressado nas Forças Armadas (cenário provável devido à guerra) julgo que seria parte activa, tivesse eu essa oportunidade. O cenário que imagino era entrar na escola de sargentos e eventualmente graduado a alferes durante uma comissão nas colónias por ser um gajo esperto. Numa das pausas em Portugal conheceria alguém ligado ao Movimento dos Capitães e iria certamente oferecer ajuda como voluntário para a causa. Isto digo pois eu costumo ajudar causas em que acredito, pouco ou muito, mesmo com prejuízo para mim.
Claro está que isso é transpondo o BaKano de agora. Se o BaKano tivesse nascido naquela época seria outra pessoa, e vindo duma aldeia da província, filho de gente pobre, nunca chegaria a lado nenhum. Talvez estivesse em França, como estava o meu pai, que foi para lá quando tinha apenas 15 anos e assim se safou da guerra...
Enfim, não estive nesse tempo, nem conheço ninguém pessoalmente que tenha desempenhado papel activo em tudo o que envolveu a Revolução. Imaginar-me um dos que fez algo verdadeiramente bonito e nobre, faz-me apenas sentir bem. E eu tenho uma imaginação muito fértil que me permite fazer um filme completo (ou um romance completo) imaginando o Alferes Anjos Costa, mais conhecido por Brutus Costa, a ver os horrores da guerra; a combinar com outros colegas durante noites a fio, deixando a mulher e os filhos pequenos sozinhos em casa; a ultimar planos a 23 e a 24 e finalmente pelas 2 da manhã de 25 mobilizar o RI10 e seguir na coluna em direcção à Figueira da Foz para formar o Agrupamento Norte e mais tarde cercar a Prisão-Forte de Peniche (ver mais sobre as acções no Centro e Norte do país aqui)...
Mas enquanto não escrevo essa ficção histórica, deixo-vos aqui uma lista de outros conteúdos que fui encontrando (e que não conhecia) durante o dia ontem, pelo Facebook dos meus amigos e conhecidos:
- Breve história do 25 de abril
- "25 minutos de uma Revolução" - Documentário
- O dia em que Santarém agradeceu aos militares envolvidos no 25 de Abril
- Edição Especial do Telejornal no dia 25 de Abril
- Episódio de combate de um destacamento Português, no noroeste da Guiné em 1969
- As vozes do 25 de Abril - Gravações rádio do dia 25 de Abril de 1974, entrevistas, discursos, a história como foi vivida ao vivo no próprio dia
- Com imagens do dia histórico, Daniel voltou a pôr a Revolução dos Cravos nas ruas de Lisboa
- Portugal antes do 25 de Abril de 1974
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