quarta-feira, abril 26, 2017

Mais 25 de Abril - para além de Santarém e região de Lisboa


No ano passado, já no dia 26 de Abril, escrevi que pretendia continuar com a tradição de todos os anos aprender algo mais sobre o 25 de Abril de 74, nomeadamente mais sobre as operações e acções que decorreram nesse dia (ou as prévias de preparação) e sobre as outras unidades e pessoas envolvidas para além dos oficiais no Posto de Comando da Pontinha, liderados por Otelo Saraiva de Carvalho, e as forças da Escola Prática de Cavalaria (EPC) comandadas por Salgueiro Maia.
Ao pesquisar sobre o tema fiquei surpreendido por saber que muitas outras unidades, de vários pontos do país, foram accionadas pelo MFA no 25 de Abril.
E por volta da mesma hora em que se reunia o MFA com a Junta de Salvação Nacional vou falar agora das unidades a Norte de Santarém e a Sul da Região de Lisboa que participaram nas operações do Dia da Liberdade.

No Norte de Portugal
Parece-me que existe uma certa ideia que o 25 de Abril foi feito pela malta de Lisboa, mais de esquerda, e que o Norte do país, mais de direita se manteve sobretudo neutro. Mas isso não é bem verdade. O Posto de Comando no Norte foi estabelecido às 3:00 da manhã, quando uma força do Centro de Instrução e Condução Auto 1 comandada pelo Ten.Cor. Carlos Azeredo ocupa o Quartel General da Região Militar do Norte.
Antes disso em Viseu o Regimento de Infantaria 14 e o Regimento de Infantaria 10 em Aveiro já se tinham mobilizado sob o comando de oficiais do MFA. De Aveiro sai uma coluna às 2:45, e de Viseu uma hora mais tarde sai uma Companhia de Caçadores, ambas com destino à Figueira da Foz onde se vão juntar às forças do Regimento de Artilharia Pesada 3 para formarem o Agrupamento Norte.
Em Lamego, do Centro de Instrução de Operações Especiais saiu à 3:00 uma Companhia de Comandos, comandada pelo Cap. Delgado da Fonseca com a missão de conquistar e ocupar a delegação da PIDE/DGS no Porto. No entanto a missão é alterada no sentido de reforçar o CICA1 no PC Norte.
E pouco antes das 7:00, a hora em que o Agrupamento Norte se formava na Figueira da Foz (região Centro), uma bateria de obuses do Regimento de Artilharia Pesada 2 de Gaia toma posição nos 2 lados da Ponte de Arrábida com o objectivo de permitir apenas a circulação de forças do MFA.
Do Norte do país não existem mais acções a relatar.
As forças do RI14 (Viseu) e RI10 (Aveiro) participam no cerco à Prisão-Forte de Peniche por volta das 11:00, mas deslocam-se para Lisboa onde juntam-se às forças da Escola Prática de Infantaria no quartel do Regimento de Artilharia Ligeira 1 que tinha acabado de aderir ao MFA e acabam por se apresentar no Quartel General da Região Militar de Lisboa tendo ficado como um Agrupamento de reserva até ao dia 27 de Abril quando voltaram para os seus quartéis.

No Centro de Portugal
A Escola Prática de Cavalaria saiu de Santarém por volta das 3:30 mas eu disse que o objectivo era falar de outras unidades pois a EPC foi um dos actores principais do 25 de Abril de 74.
Em Coimbra, a Região Militar ficou teoricamente sob controlo do Regime mas os comandantes depressa se aperceberam que a maioria das unidades estavam sob o controlo do MFA. A única acção em Coimbra foi levada a cabo por uma força do Regimento de Artilharia Ligeira 2 às 7:00 com a missão de controlar o movimento da ponte do Mondego assim como os movimentos da PSP e GNR.
Já a Figueira da Foz desempenhou um papel mais activo. Como referido antes foi no quartel do RAP3 que se formou o Agrupamento Norte, junto com o RI10 e RI14. Também se juntou a esse agrupamento uma Companhia do CICA2 também sediado na Figueira. A Companhia do CICA2 com o apoio de 2 secções de obuses do RAP3 fica em Peniche no cerco ao Forte-Prisão (controlado pela PIDE/DGS que não se mostrou disposta a render-se). O resto das forças do RAP3 dirigiram-se a Lisboa e vão depois, junto com as forças da EPI, prender os ministros que se refugiaram em Monsanto.
Em Torres Novas o Grupo de Artilharia Contra Aeronaves 2 junta-se com entusiasmo ao MFA mas fica sem missão atribuída até ao final das operações.
Já mencionada algumas vezes foi a Escola Prática de Infantaria de Mafra. Na EPI formou-se a Companhia de Intervenção que comandada pelo Cap. Rui Rodrigues sai do quartel às 2:00 com a missão de ocupar e defender o Aeroporto de Lisboa. O aeroporto é ocupado, os elementos da PSP, Guarda Fiscal e DGS presentes são desarmados e detidos e a torre de controlo emite um comunicado NOTAM: Interdição do espaço aéreo português e o desvio do tráfego para Madrid e Las Palmas. Nenhum avião tem ordem para aterrar ou descolar, nem mesmo os militares nas bases aéreas. Às 04:25 o Cap. Rui Rodrigues liga para o PC e informa: "Informo NOVA IORQUE foi ocupada e encontra-se sob controlo". Mais tarde as forças da EPI juntam-se ao Agrupamento Norte no quartel do RAL1 e depois dirigem-se a Monsanto com o RAP3 para prenderem os ministros que aí se refugiaram.
Não é conhecida mais nenhuma acção levada a cabo por unidades do Centro do país.

No Sul de Portugal
Tal como fiquei surpreendido por saber que unidades de Aveiro e Viseu (as 2 cidades mais perto da terra onde cresci) tinham participado no 25 de Abril, também fiquei por saber que do Sul do país várias unidades desempenharam acções de grande importância para o sucesso da Revolução.
Em Vendas Novas, na Escola Prática de Artilharia às 23:00 do dia 24 são presos os comandantes e todos os sargentos que não aderiram ao movimento. O Cap. Santos Silva assume o comando da unidade e todos os restantes efectivos aderem ao MFA. À meia-noite a EPA forma e sai em direcção a Lisboa às 3:00 (meia hora antes da EPC sair de Santarém) com a missão de montar as baterias de artilharia no Cristo-Rei para bater em tiro directo qualquer coluna do Regime que tentasse atravessar a ponte e também qualquer navio no Tejo que ameaçasse as forças no Terreiro do Paço. A EPA é ordenada às 15:15 para se deslocar à prisão da Trafaria e libertar os oficiais presos a 16 de Março e às 16:00 recebem ordens para ocuparem o quartel do Regimento Lanceiros 2, uma das unidades fiéis ao Regime.
Em Estremoz às 2:00, o Regimento de Cavalaria 3 recebe a missão do PC para se deslocar para Lisboa com uma coluna de auto-metralhadores e tomar posição na praça da portagem da Ponte Salazar (era o nome na altura da ponte sobre o Tejo). Os capitães Andrade Moura e Alberto Ferreira julgam não terem as condições necessárias e tentam obter apoio do Comandante da unidade que adere ao MFA pelas 4:30. Às 13:15 a coluna do RC3 toma posição na ponte e meia-hora mais tarde recebe ordens do PC para se dirigirem a toda a velocidade para o Largo do Carmo e dar cobertura à retaguarda da EPC, pois ainda existe a ameaça de confrontos com o Regimento de Cavalaria 7, fiel ao Regime. A chegada do RC3 leva ao abandono do local do comandante das forças do Regime, o Brigadeiro Junqueira dos Reis, e as restantes forças do RC7 apresentam-se ao RC3 ficando às suas ordens. O RC3 ainda ocupa posições junto ao Largo do Carmo pelas 21:00 quando na sede da PIDE alguns elementos abrem fogo sobre a população. O Cap, Andrade Moura envia forças e monta o cerco mas não tem efectivos suficientes para tentar o assalto à sede da PIDE.
Em Évora o RAL3 é mobilizado às 5:30 e posto de prevenção mas não tem forças para intervir. Apesar da adesão ao MFA esta unidade não cumprirá nenhuma missão às ordens do Movimento.
Em Beja o RI3 tinha por missões a ocupação do Centro Emissor Ultramarino de onda curta da Emissora Nacional em S. Gabriel, e o controlo da fronteira em Vila Verde de Ficalho. No entanto o 2° Comandante, Tenente-Coronel Tovim apenas fora contactado na véspera pelo Cap. Feijó Gomes sobre o desenrolar dos acontecimentos e tendo mostrado o seu desagrado por não ter sido informado antes, informou que o RI3 se manteria neutral.
No Algarve, o CICA5 sediado em Lagos recebe ordens de prevenção às 5:30 mas o seu comandante, Major Castela Rio, recua. Os Cap. Glória Alves e Ferreira Lopes desobedecem ao comandante e com uso da violência saem do quartel para tomar comando dum pelotão da unidade que se encontrava em exercícios na Barragem da Bravura. Pelas 07:30 ocupam o centro retransmissor da Foia cumprindo assim a sua missão.
Não são conhecidas outras acções levadas a cabo por unidades do Sul do país.


Para mais informações sobre as várias acções militares do 25 de Abril, assim como acesso aos relatórios dos oficiais das unidades envolvidas, podem consultar o site da Associação 25 de Abril, nomeadamente a secção sobre as acções do dia, que foi a minha principal referência para escrever este meu texto.

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