Saudades de fazer nada

Várias pessoas acham, e eu acho ainda mais, que sou bom a fazer muitas coisas, mas sou ainda melhor na arte de não fazer nada. Não é bem procrastinar, que isso implica adiar o que se tem de fazer, é mesmo não fazer nada. É aliás uma coisa que aparentemente apenas os homens são capazes de o fazer por bastante tempo e gostam mesmo de o fazer.

Hoje, enquanto sentava na cadeira do quarto das crianças num misto de resignado e angustiado enquanto a Carolina tentava acalmar o Sebastião que depois do banho fez uma birra por não poder mais pintar (a Carolina comprou hoje um conjunto para pintar na banheira durante o banho e ele obviamente queria pintar mais), veio-me este pensamento à ideia: que saudades daqueles tempos em que passava horas a fazer nada.

Agora é difícil. Consigo em ocasiões arranjar um desses momentos, mas é sempre durante uma outra actividade qualquer. Como estar no WC a fazer as necessidades, ou conduzir durante algum tempo em piloto automático, ou uns minutos em que entre tarefas aqui em casa consigo me deitar na cama de barriga para o ar e fingir que estou a fazer nada.

Enfim, são apenas lembranças de tempos mais simples, que deixam alguma saudade de vez em quando mas que obviamente não pretendo regressar. Apenas revisitar quando tenho tempo para simular que estou a fazer nada...