Há mais de meio ano que tive a ideia de escrever uma dissertação cujo título era "Quando deixamos de ser filhos" e seria para falar de quando nós providenciamos netos, sobretudo o(s) primeiro(s), aos nossos pais deixamos de ser sobretudos os filhos para passarmos a ser principalmente "os gajos que nos arranjaram netos e não nos dão rédea solta".
Nunca passei das 2 primeiras frases no rascunho da dissertação mas lembrei-me da ideia quando pensei escrever sobre as últimas 2 semanas, quando estiveram aqui os meus pais.
Eles regressaram a Portugal na passada quarta-feira, eu era para escrever isto nessa mesma noite; depois na quinta-feira; depois na sexta-feira e acabei por estar a escrever isto agora Sábado cedinho porque acordei antes das 5 da manhã.
Foi a estadia mais longa dos meus pais aqui em casa o que para algumas pessoas será estranho pois foram apenas 2 semanas. Mas no computo geral até foi a melhor estadia de todos pois parece-me que foi a vez que tivemos menos stresses uns com os outros. Eles vieram mesmo para ajudar nas preparações para a chegada da nova neta e foi isso mesmo que aconteceu. Uma enorme ajuda, até porque precisamente no dia que chegavam eu tive uma lombalgia aguda, o chamado mau jeito das costas, e estive no estaleiro durante 2 dias e mais outros 2 ainda com capacidade física reduzida. Ao mesmo tempo o Sebastião teve outra conjuntivite (resultado de constipação e levar muco para os olhos) e teve de ficar em casa e por isso se não fossem os meus pais estava o caso mal parado com um pai empenado, uma mãe muito grávida e também semi-empenada e um filho enérgico todo o dia em casa...
O Sebastião depressa recuperou, mas a conjuntivite pouco ou nada o atrapalha, e depressa criou uma rotina de brincar de manhã na cama dos avós, indo buscar todos os carrinhos que tinha e ditar ordens aos avós para fazerem isto ou aquilo, ou ficar ali ou acolá.
Nota-se também quase diariamente o maior vocabulário pois repete tudo o que se diz e já faz frases completas que fazem sentido, mesmo que a dicção de algumas não seja ainda perfeita, como é normal. A presença de mais gente em casa diariamente é um grande estímulo ao desenvolvimento da fala e capacidades de comunicação.
O Sebastião também teve direito a mais saídas à rua do que lhe podemos providenciar nos últimos tempos e nota-se que ele precisa mesmo disso.
Mas o sacanita também é esperto e apesar de ter saído várias vezes na sua bicicleta de equilíbrio com os avós, pouco depois pousava a mesma e pedia colo ao avó, que lho dava. Mas para manter as aparências, ao chegar perto de casa voltava a montar a bicicleta não fosse os pais estarem a ver pela janela. Esperteza da canalha...
Nos últimos tempos o Sebastião desenvolveu o gosto pela cantoria, estando muitas vezes a cantarolar músicas enquanto brinca. Uma das favoritos é a do "Sapo, sapo, sapo, à beira do rio" que a mãe lhe começou a cantar com frequência desde há uns meses.
Ele canta quase a letra toda, mas às vezes é "sapo, sapo, sapo" outras é "pato, pato, pato" e muitas é "carro, carro, carro". Esta última variante é a minha favorita pois ele, que continua a dizer "carro" centenas de vezes por dia, canta algo do género:
Carro, carro, carro
À beira do carro,
Quando o carro carro
É porque tem carro
Ainda não lhe deu para usar "comboio" mas essa não cabe bem na métrica por isso não deve tentar que ele percebe da coisa.
Falo de comboio, tal como o título deste texto, porque o Sebastião juntou à obsessão por carros, uma nova por comboios. Temos no tablet um jogo da Lego Duplo com um comboio que ele adora, mas adora também ficar a ver vídeos do YouTube sobre comboios a andar. Compilações que eu encontro, sobretudo de comboios no Japão onde basicamente é mesmo só os comboios a andar nas linhas mas ele adora ficar a ver aquilo, ficando ainda mais concentrado que a ver desenhos animados.
O mais chato é que pede para ver os comboios a toda a hora, usando a frase "o comboio, tchu tchu".
Juntado a nova moda da cantoria com os comboios, o meu pai começou a cantar-lhe o "Apita o comboio" e por isso passamos a ter mais essa no reportório!
Uma das melhores coisas de estarem aqui os avós é que se dá descanso à ama Televisão. Todos os pais ouviram dizer que tem de se ter cuidado com a televisão mas aprenderam certamente o jeitaço que ela dá, para entreter a criançada quando nós não conseguimos, seja por que motivo for, lhes dar toda a atenção que eles precisam. Há quem tenha trocado a televisão por outros dispositivos como um computador ou um tablet. Congratulo aqueles que conseguem não recorrer a este subterfúgio.
Os avós foram um bom substituto para essa ama e apesar de ser ver os vídeos do YouTube na televisão (através do Chromecast) os habituais desenhos animados pela manhã foram trocados pelas brincadeiras supra citadas.
Como disse, os meus pais regressaram a Portugal na quarta-feira. Era o nosso plano o Sebastião ir também ao aeroporto para se despedir dos avós mas ele estava exausto nessa tarde, pois fomos busca-lo mais cedo ao infantário e não tinha dormido a sesta.
Despediu-se calmamente deles em casa e foi dormir uma soneca com a mãe para o sofá. Disse a Carolina que ainda nem tínhamos entrado no elevador já ele dormia.
Nessa noite e na manhã seguinte levantou-se e voltou à rotina de antes, olhando só uma ou duas vezes para o quarto onde os meus pais ficaram e ora a perguntar ora a dizer que os avós tinham ido para casa.
Curioso que como até ele gostou do regresso à maior calmaria (usar calmaria e Sebastião na mesma frase é esquisito) da nossa rotina.
Está um homenzinho que até leva com naturalidade a chegada, estadia e partida dos avós.
Entretanto tenho de terminar com este apontamento: ele acordou enquanto escrevia este texto, às 6 e pouco da manhã. Para conseguir acabar a dissertação tive de o distrair e por isso está aqui ao meu lado muito concentrado a ver um vídeo de comboios. Disse-me que não queria desenhos animados mas que queria o "apita o comboio" e trauteou a música. Desta vez não pediu "comboio tchu tchu"...
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