quinta-feira, março 07, 2013

A sensatez do Passos Coelho

Tal como eu, certamente muitas pessoas por vezes limitam-se a ler os cabeçalhos ou títulos das notícias e fica-se com uma ideia errada sobre certas afirmações.

O Passos Coelho ontem durante um debate na AR, e em resposta a uma proposta do Seguro de aumentar o salário mínimo, afirmou que na verdade a medida sensata é diminuir o mesmo para combater o desemprego.
Lendo isto, fica-se com a ideia que este Governo estará a ponderar isto, e ao ler apenas isto, as pessoas ficam revoltadas.
A verdade é que o Passos não disse apenas isso. Baseio-me no artigo do Jornal de Negócios (de onde retirei aliás a foto).

Afinal o Passos apenas estava a apontar exemplos, nomeadamente falando da Irlanda que no inicio da crise baixou o salário mínimo por hora. Mas terá acrescentado logo de imediato que em Portugal o salário é muito mais baixo e por isso nunca esteve no memorando da Troika essa medida.
Menos mal, senhor primeiro ministro, menos mal.

Ainda antes de ter lido na íntegra a notícia e comentado apenas o título, já tinha dado o meu ponto de vista. É que existe uma lógica por trás das afirmações do Passos Coelho, que será a mesma lógica que levou a Irlanda a tomar temporariamente essa medida (entretanto o salário já voltou ao anterior valor).
Economicamente falando, e se os devidos agentes reagirem naturalmente, baixando os salários costuma reverter o aumento do desemprego. Isto porque a principal razão para as empresas terem de despedir é a necessidade de baixar os custos face à contracção económica que provoca uma baixa de receitas, mas baixando os salários aos trabalhadores conseguem essa redução sem provocar despedimentos e com a vantagem de manterem os activos para quando existir retoma económica e nova necessidade de os usar em pleno. Esta redução de salário é muitas vezes feita através da redução da carga horário e portanto é uma falsa redução. O valor por hora mantém-se, as pessoas é que trabalhando menos por mês, recebem menos.

Posso dar um exemplo: um gajo que tem uma fábrica de sapatos sofre quebra de encomendas e tem de cortar custos. Chega aos trabalhadores e propõe: "Neste momento só consigo ter 2 turnos de produção em vez de 3. Ou reduzo o horário de toda a malta em 1/3, e a malta recebe menos ao fim do mês, ou tenho de despedir 1/3 das pessoas."
Acredito que muitas pessoas aceitam isto e consideram uma medida sensata até porque na realidade o salário por hora não baixa, trabalha-se é menos.
Outro exemplo seria o de um restaurante que agora tem menos 40% da clientela. Supondo que o mesmo tivesse 5 empregados de mesa, isto significa que o patrão ou despede 2 ou pede a todos para virem trabalhar menos 2 dias por semana, mantendo assim os empregados para quando a casa ficar cheia novamente, caso os trabalhadores aceitem obviamente.
Salvo erro a fábrica da Renault em Cacia (Aveiro) recorreu precisamente a isto, cortando turnos aos trabalhadores pois tinham de cortar na produção devido às quebras no mercado europeu.

Cortes temporários de salário, directamente ou através de redução do horário de trabalho é sim senhor uma medida sensata, quando possível e de acordo com os trabalhadores, para manter postos de trabalho evitando o aumento de desemprego.

Mas se existe sensatez na ideia geral de cortes de salários e horário como combate ao aumento de desemprego, o Passos no entanto voltou a revelar que precisa de tomar muitos Danoninhos porque ainda lhe falta um bocadinho (bocadão) assim...
Primeiro: Portugal já diminui os salários nomeadamente o mínimo. Ao cortar uma das prestações anuais (um dos subsídios) e ao aumentar o horário de trabalho, as pessoas ganham agora menos por hora do que se ganhava antes. E isso nada contribuiu para abrandar o aumento do desemprego.
Segundo: Diminuir salários nunca fará aumentar o emprego. Para mim pode abrandar o crescimento do desemprego, mas apenas isso. Diminuir o salário mínimo não vai gerar mais emprego, só vai fazer com os empresários sem escrúpulos cortem salários mesmo nas pessoas que já trabalham demais e são exploradas actualmente.
Terceiro: Aumentar o salário mínimo não vai gerar obrigatoriamente mais desemprego, não se pode fazer esta relação simplista assim. Alias basta ver que as famosas medidas para aumentar a competitividade, e que levaram a uma diminuição dos salários dos trabalhadores, em nada contribuíram para a criação de emprego. Se calhar tem de se tentar o "ilógico", acredito que seja como o Tiririca, pior do que está não fica!

O Governo não tem que andar a criar leis para implementar mecanismos que já são naturais na Economia, que eu acredito piamente que já são praticados quando existe essa necessidade haja crise mundial ou não, e que as pessoas decidem e acordam entre si.
Os governantes podem sugerir e lembrar os patrões e trabalhadores que existem alternativas mais vantajosas para cortar custos e mantendo postos de trabalho.
Mas Passos, não é sensato estares a falar em diminuição de salários no contexto duma discussão sobre o salário mínimo, comparando com países onde ele é quase o triplo e que já repuseram o anterior valor.
E sobretudo não é sensato porque para a maioria das pessoas isto parece um caso de um patrão que corta salários ou reduz horários por causa da crise, mas na mesma contrata uma nova secretária para lhe dar assistência e renova a frota de carros da direcção.

Falar em baixar o salário mínimo em Portugal é tão sensato como o Movimento dos Reformados Indignados...

Falta-nos o Chavez para dizer "Passos, you're a donkey!"

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