quarta-feira, março 08, 2017

Tweede Kamerverkiezingen 2017


Hoje (ainda) é o Dia da Mulher mas eu não comprei flores, não fiz o jantar nem escrevi nenhuma mensagem bonita dedicada às mulheres e sobretudo às mulheres da minha vida. Cheguei mesmo a estressar com as 2 mulheres cá de casa porque o final do dia foi um bocado atribulado. Mas como podem imaginar pelo título e sobretudo pela imagem não vou dissertar sobre o Dia da Mulher e tudo o que está relacionado com este dia.
O Benfica jogou hoje e perdeu, sendo eliminado da Liga dos Campeões logo obviamente o futebol também não é tema (apesar da cor vermelha estar associado ao tema de hoje).
O tema são as eleições (verkiezingen) holandesas para a Segunda Câmara (Tweede Kamer) do Parlamento de onde vai resultar o novo Governo holandês porque de hoje a uma semana, ao final da noite, deveremos já saber quem elegeu deputados e quantos.

Política holandesa não é bem o meu forte apesar de me estar agora a inteirar melhor devido exactamente a estas eleições. Eleições para as quais não posso votar por ser estrangeiro, como é normal na maioria dos países que conheço, mas cujo resultado tem impacto em todos os que aqui vivem e trabalham, como eu.
E este ano muita gente está de olho aqui na Holanda por causa da onda populista e nacionalista que tem atravessado várias democracias ocidentais, sendo o caso do Reino Unido e EUA os mais mediáticos. É que essa onda também anda por aqui, com o partido PVV, Partido para a Liberdade (Partij Voor de Vrijheid), que é um partido que tende para a extrema-direita com discurso nacionalista, populista e até racista, a liderar as sondagens. Ou seja, grandes probabilidades que um gajo ao estilo do Trump, e o líder Geert Wilders tem muitos maneirismos do Trump e já agora do Nigel Farage que era do UKIP, seja o vencedor das eleições o que em muitos casos significa tornar-se Primeiro-Ministro.

Pelo menos tem sido assim mas esta manhã a mais recente "poll of polls" (sondagem das sondagens, não sei ao certo o que distingue isto das tradicionais sondagens, se existir alguma diferença) já os coloca em segundo atrás do partido VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia, Volkspartij voor Vrijheid en Democratie), o partido conservador-liberal que foi o mais votado nas anteriores eleições e ao qual pertence o actual Primeiro-Ministro.
E esta sondagem mais recente é para mim apenas mais um indicador na certeza que já tinha de que o Wilders e o PVV nunca seriam governo. E porquê? Usando uma das expressões que me é característica, eu passo a explicar:

Aqui nos Países Baixos ao contrário do que estamos habituados em Portugal são muitos os partidos que conseguem eleger deputados, mesmo que o número total da Segunda Câmara seja apenas 150, 80 a menos que o Parlamento Português.
Nas últimas eleições de 2012 foram 11 os partidos com deputados e os 2 menos votados conseguiram mesmo assim 2 deputados cada um. E isto é o mais habitual, portanto aqui é sempre necessário uma coligação, às vezes com mais de 3 partidos, para que haja governo.
Isso significa que os partidos mais votados, os chamados vencedores das eleições não costumam ter uma fatia enorme dos mandatos o que resulta em menos poder.

E no caso das eleições deste ano, o PVV mesmo liderando em quase todas as sondagens, só tinha na ordem dos 20% dos votos. E isso é importante porque todos os outros partidos afirmaram durante a campanha e até antes que nunca apoiariam, muito menos se coligariam, um governo do PVV.
Por essa razão é que eu nunca estive muito preocupado que um partido anti-imigração e anti-UE chegasse ao poder aqui, mesmo que "ganhasse" as eleições. Apenas um cenário muito improvável, onde o Wilders conseguirá uma grande percentagem, resultará nele como Primeiro-Ministro. E esse cenário é cada vez mais remoto.

Mas pensarão alguns de vós, não estarei eu a confiar nas sondagens que falharam redondamente no caso do Brexit e no Trump?
Sim, eu estou a confiar nas sondagens e nas margens de erro. É que ao contrário do que muitos acreditam as sondagens tanto do Brexit como mesmo as das Presidenciais norte-americanas estavam na sua maioria correctas.
É verdade que o "Remain" liderou a maioria das sondagens no UK mas as últimas sondagens mais perto do referendo já davam a vitória ao "Leave" o que veio a acontecer.
E nos US of A as sondagens foram muito próximas dos resultados (as usadas pela CNN e NY Times que o Trump gosta de atacar deram vitória à Hillary por 3 pontos), o problema é que as sondagens baseiam-se no voto popular e a Hillary realmente ganhou por 2,1 pontos! Só que o que conta é o colégio eleitoral (decidido por Estado) e não o total de votos nacionais, e isso as sondagens pelos vistos não conseguiram detectar. Um "pequeno" pormenor que fez toda a diferença.
Portanto a conclusão é que eu continuo a acreditar nas sondagens sobretudo considerando a margem de erro.

E por essa razão acredito que o PVV mesmo que ganhe, agora menos convencido que há 1 dia atrás, de maneira alguma forma governo, porque o VVD vai se coligar com outros partidos de espectro parecido, os analistas dizem que será com o CDA (Christen-Democratisch Appèl), cristão-democrata do centro-direita, e com o D66 (Democraten 66) o "meu" partido pois é social-liberal que a nível económico é centro-direita mas a nível social é centro-esquerda (tal como eu), e se necessário um dos pequenos que elejam deputados.
E não acredito que vamos ter surpresas.

Surpresa seria se acontecesse o que o meu colega Rachid (de origem marroquina) me falou ao almoço. Ele está convencido que o PVV vai perder metade dos deputados em relação às anteriores eleições (elegeu 15) e que vai ser o D66 a ganhar (o 6° partido mais votado em 2012 com 8% e 12 deputados).
Não sei onde ele foi buscar esta ideia mas terei de o congratular por uma aposta incomum se estiver próximo da realidade.
Se bem que o Rachid tem umas ideias estranhas que resultam nalgumas conversas interessantes ao almoço comigo a questioná-lo fortemente sobre os factos onde ele se baseia que deixam os outros colegas sempre intrigados devido à minha veemência na discussão...

Mas previsões para as eleições aparte, existem vários outros temas ligados que dão para dissertar muito.
Por exemplo como é que nos Países Baixos, considerado um dos países mais liberais e abertos do mundo existe a possibilidade de vencer a extrema-direita xenófoba e racista?
Ou porque é que os actuais líderes dos movimentos nacionalistas e populistas têm todos cabelo estranho (Boris no UK, Trump nos States e Wilders aqui)? E porque é que tantos líderes políticos com discurso contra estrangeiros são casados com estrangeiras?
E se aqui na Holanda há o risco (baixo) duma vitória da extrema-direita que diz que quer sair da UE, o que pensar da França onde a Le Pen lidera as sondagens?
Tudo perguntas muito interessantes para as quais eu tenho as minhas opiniões e respostas mas hoje já não dá.

Não termino porém sem dois apontamentos extra.
A imagem do topo é de um outdoor onde os partidos podem colocar os cartazes. Como podem ver são todos pequenos e estão todos ao lado uns dos outros. Por aqui é assim, não se vêm os outdoors gigantes com as trombas dos líderes por todo o lado. Apenas estes pequenos cartazes em sítios específicos que quase passam despercebidos. Tenho a certeza que um turista português nestes dias em Amesterdão nem se iria aperceber que estamos a menos de 1 semana da eleições gerais (legislativas).
Se olharem com atenção vão reparar em 2 caras femininas e com bom aspecto. São as 2 mulheres (finalmente uma ligação ao Dia da Mulher) que são a cara dos respectivos partidos, apesar de não serem as únicas que lideram partidos. A do poster que diz "Plan B" é a líder do PvdD, o Partido para os Animais (Partij voor de Dieren), e a que tem a pala no olho é do PP, o Partido Pirata (Piratenpartij). Por curiosidade a pirata de pala no olho já foi capa da Playboy e da FHM, por isso uma boa opção para botar...

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