Não tenho "dito" quase nada por aqui ou por outros meios nos últimos meses. Tendo em conta que fritei da mioleira, é normal. Bati mesmo mal e ainda não estou recuperado mas curiosamente escrever aqui faz parte do processo de recuperação e é, de acordo com a minha terapeuta, uma coisa que preciso.
Normalmente comentava tudo e mais alguma coisa mas na primavera passada o foco era obviamente a COVID-19 e passados estes meses todos, eu admito que me enganei em projecções que fiz, ou aqui pelo blog ou pelo Facebook quando achava que o regabofe de comportamento das pessoas quando se começou a desconfinar ia dar merda e da grossa. Enganei-me porque não deu merda umas semanas depois, deu merda uns meses depois.
Se calhar o tempo quente realmente ajudou a conter a pandemia como se estipulou antes, ou isso se calhar é fruto das pessoas estarem normalmente mais saudáveis e resistentes no Verão (doenças respiratórias como por exemplo a gripe, tantas vezes comparada e equiparada à COVID-19, parecem não existir nessa altura), mas a dita segunda vaga na Europa só parece ter aparecido para os finais de Setembro, quando as curvas (infectados e mortes) começaram novamente a subir.
Agora está tudo uma merda e se nalguns países ainda não está tão mau como na primavera, noutros como em Portugal infelizmente está mesmo fodido.
Portugal que aparentemente teve um "milagre" na primavera, e foi um exemplo, agora é o oposto porque o sentimento das pessoas também parece ser o oposto.
Mas não só culpa das pessoas, muita culpa das autoridades/Governo também pois se no início fez mais que muitos na Europa, também depressa desconfinou, achou que estava tudo bem e se bem me recordo até incentivou as pessoas a passear e consumir e etc (eu percebo a necessidade económica mas tudo tem o seu preço, resta saber se não nos arrependemos desse preço). Para mim na altura pareceu-me passar-se de um 8 para 80.
E todos os receios que tinha, devido a uma população envelhecida, menos hábitos saudáveis que noutros países e menos meios de saúde, agora se concretizam. Até os receios pelos mais frágeis na minha familia: escaparam na primavera mas não me parece que escapem incólumes agora!
A enorme diferença é que muitas pessoas na primavera estavam com medo da doença mas agora estão simplesmente fartas da situação e isso obviamente leva ao desleixo nos cuidados - até podem andar de máscara para todo o lado mas de nada serve se está posta nos queixos, se usam a mesma o dia todo ou dias a fio, se ignoram a distância entre pessoas porque só ter a máscara é que é "fiscalizado", ou se tira-se a máscara pra falar ao telefone ou melhor, para tossir melhor como eu vi pessoalmente...
Mas o pior é o sentimento que é tudo mentira ou assim, e cada vez se ouvirem (lerem) mais vozes com a conversa que isto não é pior que a gripe. Muitas vezes por pessoas que até passaram pela doença, porque obviamente (e felizmente) a grande maioria das pessoas não sofrem muito: a infeliz consequência disso é achar-se que a experiência deles é a verdade absoluta e que tudo o que é reportado de pior é exagero ou mentira.
Há pouco li novamente comentários numa notícia sobre agora em Portugal no SNS estarem já a escolher quem vive (ter acesso a tratamento) e quem morre, que a gripe já matou mais pessoas noutros anos e que os hospitais ficam igualmente cheios, e também que os hospitais não podem estar cheios porque alguém disse que estavam reservadas mais de 17000 camas para doentes de COVID-19!
Primeiro sobre a comparação com a gripe: cansa andar a contra-argumentar mas o ano de 2016/2017 foi dos piores em mortalidade e foram 4500 pessoas que morreram nessa época de gripe (é uma época que apanha sempre 2 anos, desde a semana 39, Outubro, até à semana 20 do ano seguinte, meados de Maio).
4500 de gripe numa das piores épocas de gripe versus 7700 de COVID-19 desde Outubro 2020 e ainda faltam 3 meses e 2 semanas...
Sobre os internamentos, foi a própria ministra da saúde Marta Temido que mencionou a 23 de Outubro existirem 17700 camas mas isso é o potencial do SNS. Actualmente estão menos de 6000 internados de COVID-19, portanto teoricamente ainda há muita capacidade. Mas e os outros doentes? Este número da ministra era baseado no total de camas do SNS deixando algum espaço, mas usando dados do PORDATA, em média por semana em Portugal em 2019 haviam quase 22000 internamentos. É verdade que muita gente não tem agora acesso aos hospitais mas duvido que os hospitais tenham sido esvaziados para atenderem os menos de 6000 doentes Covid. No meu entender estes 6000 acrescentam a muitos outros milhares de internamentos habituais.
Mas o número de ventiladores disponíveis é muito inferior, cerca de 1900 também de acordo com a Ministra em Outubro. Felizmente parece que se faz menos recurso comparativamente com o início da pandemia, quando se sabia muito menos sobre como combater eficazmente a doença.
Mas pior que os internamentos no total são os internados em UCI: à data de hoje são 702. Felizmente em Portugal aumentaram muito a capacidade de ICU e novamente de acordo com a Ministra em Outubro, existem mais de 1000. O problema é que 70% das UCIs estão ocupadas com uma só doença e isso é grave pois a única coisa que concordo em absoluto com os ditos negacionistas é que as outras doenças continuam a afectar toda a gente e agora existem muito menos recursos, sobretudo os humanos (médicos , enfermeiros e outros técnicos de saúde) que esses não aumentam, antes pelo contrário, para esses outros males que tb matam muita gente.
O único argumento que vale para esta gente é os números serem todos exagerados, nomeadamente das mortes pois continua a imperar a ideia que as pessoas morrem de outra coisa mas se tinham o vírus dizem que foi de COVID-19 mesmo que tenham morrido de hemorragia cerebral depois de um acidente rodoviário.
Esse argumento para mim é tudo treta e os dados de mortalidade de 2020, que só aparecerão lá para o final de 2021 como é habitual, vai demonstrar mesmo isso. Vai aliás demonstrar que mais pessoas morreram até de outras causas para além do COVID-19 do que em anos anteriores.
Isso já foi relatado até (que a COVID-19 só abrange parte do elevado excesso de mortalidade que tivemos em 2020) mas obviamente para os ditos negacionistas isto é mentira/exagero.
Menos de gripe; disso estou convencido que vão ser menos e não porque trocam a causa mas porque realmente com tantas medidas e confinamento as pessoas espalham muito menos a gripe do que nos outros anos, porque a malta ficava gripada mas ia para todo o lado espirrar e tossir, logo espalhar o vírus...
PS: Os ditos negacionistas costumam acusar os outros, como eu que levam esta pandemia e os números oficiais muito a sério, de serem ovelhas e medrosos que acreditam em tudo o que vem na comunicação social. E dizem que temos de pesquisar e pensar pela nossa cabeça. Mas desde o início que acompanho isto (Fevereiro de 2020) que eu chego às minhas próprias conclusões com base em muitas horas de pesquisa e em meios oficias (os únicos que podemos usar para comparar, e que na verdade pouca gente põe em causa). E prova disso aqui fica uma lista de referências que usei para este texto:
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