terça-feira, abril 17, 2018

Por causa da vergonha alheia


Contaram-me a seguinte história há vários anos: um rapaz foi passar uma noite de semana académica com um amigo numa cidade que não era a dele e onde também estudavam amigas da namorada. Ou simplesmente aconteceu ou foi por estar numa cidade diferente, esse rapaz acabou por beber muito e ficar bastante alegre e atrevido. Consta que abordou a carrinha da Associação Académica, que distribuía preservativos gratuitos para os estudantes a pedir para lhe darem a ele pois ele iria fornicar nessa noite e os outros não. Consta que também andou de pila à mostra a queixar-se que elas, as raparigas, não chupavam. Teve de ser arrastado para casa do amigo e a noite acabou com ele no WC a mijar, cagar e vomitar ao mesmo tempo fazendo um serviço tal que foi preciso lavar de mangueira...
Os eventos chegaram aos ouvidos da namorada que pelos vistos decidiu acabar o namoro não propriamente por ele andar a querer fornicar raparigas nessa noite mas porque foram as amigas que lhe contaram e ela passou vergonha em frente às amigas. Foi isso que me constou, o motivo de acabar foi a vergonha por causa das amigas, dando mesmo a entender que se nenhuma tivesse sabido ela não teria acabado o namoro.

Esta história quando me contaram ficou-me marcada não só pela comédia dos actos do tal rapaz mas sobretudo pela aparente superficialidade da namorada. Até tinha motivos fortes para estar chateada e acabar o namoro mas pelos vistos escolheu a razão mais fútil.
Ás tantas o namoro não era assim muito sério por isso esta razão foi tão boa como outra qualquer, mas eu lembro-me de ficar com a ideia que até estavam a pensar casar, por isso ficou-me o exemplo de como a vergonha pública ou o receio do que os outros pensam levam as pessoas a tomar decisões importantes.

Um outro exemplo que tenho é ao contrário. Uma pessoa conhecida estava a passar uma fase conturbada no casamento. Decidiu começar a falar comigo, talvez por achar que sou bom ouvinte, não sei. E fiquei a saber que ela estava desconfiada que o marido tinha uma amante (spoiler alert, tinha e não era a primeira) e perguntou-me se eu achava que ela deveria se separar. Tentando não ser muito directo dei a entender que ela deveria fazê-lo mas ela disse-me que seria uma vergonha, uma mulher divorciada e que a sociedade local (não estamos a falar duma cidade pequena sequer) não aceitava bem mulheres divorciadas.
Fui perdendo o contacto e ao que me consta ainda estão juntos apesar de na rua falar-se que ela traiu-o recentemente (quelle surprise!).
Como disse é um outro exemplo de como a vergonha faz tomar uma decisão, ou neste caso não tomar uma decisão. Por causa da vergonha de amigos, familiares e do resto da sociedade, uma mulher deixou as coisas andar.

E neste caso também eu achei na altura, tal como continuo a achar, que vergonha alheia ou aquilo que os outros pensam, não é motivo para se tomar decisões importantes, e quem toma essas decisões com base apenas nisso está a ser demasiado superficial.
Mas pelos vistos eu subestimo a frivolidade das pessoas pois agora há poucos dias tive um outro exemplo disto: alguém disposto a acabar uma relação pela aparente vergonha que o parceiro a fez passar na frente das suas amigas.

2 comentários:

  1. "deixou-me marcada"???
    Vergonha em ser divorciada mas não tem vergonha em ser corno e toda a gente saber?!
    ela não tinha de se divorciar se a situação não a chateasse...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Enganei-me, era "ficou-me marcada".
      Se toda a gente soubesse que ela era "corno" ela teria se separado (e depois eventualmente divorciado) mas não se sabia. Algumas pessoas sabiam e outras desconfiavam mas na Feira das Vaidades (nas aparências) estava tudo bem...
      Esqueci-me de dizer que se calhar a religiosidade dela também terá contribuído, e bastante, na altura.

      Eliminar

Opina à tua vontade