quinta-feira, julho 28, 2016

O homem fez-se para guerrear


O Manoel de Oliveira era sem dúvida uma pessoa inteligente, para além de um grande cineasta, e tinha toda a razão quando escreveu esta frase para o Soldado Salvador, interpretado por Miguel Guilherme dizer, durante a longa conversa inicial no camião do filme 'Non', ou a Vã Glória de Mandar de 1990.
O Soldado Salvador parece ser o mais fervoroso dos soldados, só não é o mais simples porque existe o Soldado Manuel que tem saudades da sua aldeia e lamenta por não se ter mandado para o estrangeiro para fugir à tropa, como muitos outros.
Mas concluindo, o Soldado Salvador afirma que "o homem fez-se para guerrear; para lutar", ou seja para matar.

E é isso que vemos todos os dias. Na Europa alguns europeus muçulmanos que se radicalizaram matam outros com tiros, bombas, atropelamentos e facadas. A desfeita não demora e os Europeus matam na Síria às centenas com bombas lançadas de aviões, barcos ou drones.
Nos Estados Unidos a polícia mata pretos, para depois pretos matarem polícias. De vez em quando um estudante pega em armas e vai para a sua escola matar os colegas e professores. Outras vezes é um adulto que decide ir para um qualquer lugar público cheio de gente e matar indiscriminadamente.

Em África temos vários grupos, uns muçulmanos radicais, outras de certas tribos ou etnias, que sequestram crianças e obrigam-nas a matar os seus familiares, amigos ou vizinhos. De vez em quando os grupos rivais põe-se a matar os outros.
No Médio Oriente temos mais muçulmanos radicais a matarem outros muçulmanos que não seguem propriamente as mesmas ideias distorcidas. Mas também matam cristãos, curdos, enfim qualquer pessoa, eles não têm problemas em matar.
De vez em quando Israel mata mais umas dezenas de palestinianos porque pelos vistos os mesmos têm culpas no Holocausto...
Nas Arábias mata-se também volta e meia pessoas que apenas ousaram dizer algo diferente, ou até vítimas cujo crime é terem denunciado o crime que sofreram.

Na Turquia matam-se uns aos outros ou então matam curdos, que não se deixam ficar e matam turcos também. A escolha de alvos é que é sempre similar: civis ou militares não interessa, tudo serve.
Na Ucrânia os de Leste de vez em quando matam os do Oeste e vice-versa. A matança está fora das luzes da ribalta mas ainda não parou totalmente.
Na Rússia os governantes têm um longo historial de matarem o seu povo, mas só daqui a uns anos (talvez) saberemos quantos se matam por estes dias...

No México os carteis da droga não só matam quem se lhes atrevessa no caminho como ainda desmembram também os familiares e deixam-nos dependurados aos bocados à vista de toda a gente para que toda a gente saiba que pode ser morta também.
No Brasil tem sempre gente a matar, nem que seja para arranjar um novo smartphone e ir caçar pokémons, mas de vez em quando o branco mata o índio, o pobre sequestra o rico e mata-o e o rico vai matando tudo o resto nem que seja aos pouquinhos...

Até na Ásia se mata, nem que seja matar a trabalhar. No Japão ainda há lugar para que um doido pegue numa faca e vá matar doentes que antes ajudou. E de vez em quando matam-se a si próprios também.

Quando o homem não mata o outro a guerrear-se, quando não mata com uma bala, uma faca ou mesmo com as mãos, mata com doenças ou mata com fome.
Ou mata com o carro, numa espécie de guerra diferente, que acontece todos os dias por todo o mundo. Em média são quase 3300 pessoas que morrem todos os dias em acidentes de viação. Muitas mais, digo eu, que todas as outras mortas nos casos acima mencionados.

O soldado Salvador tem toda a razão, o homem fez-se para matar, matar o seu semelhante. E vai matando também a natureza e o planeta, logo matando-se a si próprio.
E quem não foi feito para matar é como o soldado Manuel, que só quer ir para casa matar saudades dos seus e na verdade não se interessa dos problemas que levam os outros a matarem.
Se calhar não é mau que nos andemos a matar uns aos outros; não tenho dúvidas que um dos problemas maiores do mundo é haver gente a mais...

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