sexta-feira, setembro 18, 2015

A verdadeira tragédia chega em Outubro

Eu sei que nestes dias muita gente pensa na tragédia dos refugiados, para uns por virem muitos para outros por virem poucos, ou na tragédia dos sem-abrigo e pobres do país, ou na tragédia que foi o SCP no primeiro jogo da Liga Europa, mas eu quero reflectir em silencio essas tragédias (o SCP para mim não foi tragédia, note-se).

Outra tragédia com maior impacto vai de certeza acontecer em Outubro, logo no primeiro fim-de-semana. A tragédia não será quem ganhar as eleições, isso já se sabe que será entre o PS e a coligação PSD-CDS/PP, outro resultado muito dificilmente aconteceria. A tragédia é sim porque ao fim de tantos anos com a mesma alternância, com a maioria das pessoas a queixarem-se que é sempre a mesma coisa, vamos manter o status quo.
A tragédia é que PS e PSD (o CDS agora é um acessório) vão ter quase 200 deputados, divididos em partes muito similares entre os 2 blocos, e os restantes partidos dividirão os 30 e poucos lugares que restam.
E para mais as sondagens não indicam que teremos "sangue novo", portanto manteremos os mesmos partidos do costume, apesar do BE só fazer parte da "elite" há 5 legislaturas.
O que revela outra pequena tragédia, já passaram 16 anos desde que tivemos a última novidade no Parlamento!

Exceptuando nas regiões autónomas, temos os mesmos 15 partidos ou coligações a candidatarem-se a estas eleições. Repartido por igual, daria 15 deputados a cada um, e os 5 que sobravam eram para o PDA que se candidata apenas pelo círculo dos Açores, e dividido entre alguns partidos. Ou ainda melhor ficavam em branco, mas isso não é permitido infelizmente pela nossa lei eleitoral.

Mas não é isso que vamos ter. Como disse antes, os 2 principais blocos vão dividir 87% dos mandatos. 87%!
Como é que é possível que os 2 (tecnicamente 3) partidos que as pessoas culpam por governos ruinosos sucessivos, tenham 87% dos mandatos?
Por 2 razões: primeiro porque a abstenção, que é muito significativa, só beneficia os partidos maiores; e segundo porque a malta queixa-se muito mas realmente pouco ou nada faz, o que quer dizer que faz o mesmo de sempre, vota nos do costume com medo de experimentar uma coisa diferente.

E o que é que seria uma coisa diferente? Um governo do PCP e do BE com a Joana Amaral Dias a ministra do Turismo, promovendo o país? Até podia ser, apesar de eu achar que isso seria um desastre maior, mas ao menos testava-se e arrumava-se a questão duma vez.
Mas eu não sou inocente, sei que em Portugal um próximo governo passará sempre por PS ou PSD. O que aconteceu na Grécia foi a excepção que confirma a regra e aliás muitas pessoas noutros países devem ter ficado com medo de arriscar uma completa viragem. O que é pena.
Mas dizia eu, o próximo Governo passará sempre por 1 destes partidos, mas não seria bonito que na vez de se coligar apenas com 1, teria de se coligar com uma série deles? Com malta que nunca lá esteve? Com pessoas que por ainda não terem tachos nem o rabo preso, podem ter ideias diferentes ou tentar fazer diferente? E que obrigarão o partido maior a aceitar novas ideias, pois ele precisa dos pequenos para continuar a ser governo?
Vejam bem, é a única coisa que não foi ainda testada. Coligação a mais que 2 só me lembro a AD (PSD, CDS e PPM).

Dirão alguns que um governo assente numa coligação complicada e frágil não aguenta muito tempo. Pois é bem capaz de acontecer. Vimos isso na Grécia e vimos isso até em Portugal no primeiro governo do Cavaco que caiu quando o PRD do Ramalho Eanes retirou o apoio. E o resultado disso foi o PRD desaparecer do panorama político e o Cavaco garantir uma maioria absoluta nas 2 eleições seguintes!
Mas enfim, isso são outras histórias...

Volto a repetir. Desde o 25 de Abril que o governo alterna entre PS e PSD (com CDS ao barulho volta e meia); há já muitos anos que as pessoas estão desiludidas com esta situação; é do sentimento geral que os 2 partidos são muito similares, com muitos "jobs for the boys" e negócios feitos com amigos; as pessoas querem uma real mudança.
Por isso malta, evitemos uma nova tragédia, mude-se o status quo da Assembleia da República. Penalizem o PS e PSD não com a abstenção (isso só os beneficia) mas a irem votar num dos outros 13 quadrados que estão nos boletins de voto. Reparem que não é por falta de escolha, são 13.
E mesmo que achem, como eu, que CDU (PCP) está obsoleto, que o BE é demasiado caviar para fazer mais do que mandar bitaites de vez em quando, que o Marinho Pinto (PDR) revelou ser um mamão hipócrita como os do costume, e que o PNR são racistas, xenófobos, e fascistas que não deveriam ter lugar na sociedade de agora, ainda vos restam 9 opções.
E vejam as listas dos partidos para ficarem a saber quem são as pessoas que poderão eleger e pesquisar antes se são "refugiados" de outros partidos que procuram novo tacho, ou malta nova que nunca lá esteve e que pelo anterior percurso profissional até merecem o benefício da dúvida.

Como eu gostava que assim fosse. É que com PS e PSD a terem menos de metade dos mandatos do costume até implodiam (por dentro), pois entrariam em guerras internas para ver quem roubava o tacho a quem, e quem sabe, provocaria uma lavagem da velha guarda nesses partidos, que estão lá desde a fundação e ainda são quem mexem os cordelinhos em muitas coisas, mas agora nas sombras, que é ainda melhor.

Vamos transformar a Assembleia da República numa manta de retalhos. E em 2016 vamos eleger o Presidente Vieira!

PS - Lembram-se do Tiririca, que era um palhaço (a sério, não figurado) e candidatou-se a deputado federal do Brasil? Tinha o slogan de "Vota Tiririca! Pior não fica!". Pois, era um palhaço mas foi eleito e querem saber da melhor? Foi um dos apenas 15 deputados que nunca faltaram a uma sessão. Ah pois é, levou a política mais a sério que os "profissionais" do costume... O caso do Tiririca serve para mostrar que por vezes votar numa alternativa estranha e desconhecida pode ser melhor que votar no habitual e conhecido...

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