sexta-feira, abril 24, 2015

Decidir o futuro aos 12 anos?

Já passam das 2:30 da manhã mas o sono passou-me e portanto pensei que era bom vir escrever coisas e a ideia foi falar do polémico (para muitos portugueses que aqui estão) exame que fazem aqui aos 12 anos para decidir para que tipo de escola secundária se vai e se depois continuam os estudos superiores porque o ensino secundário já é diferente se for para ir para uma Universidade.

Para contextualizar posso falar do meu caso. Ora bem aos 12 anos em Portugal estava a ingressar no Ensino Complementar (7°, 8° e 9°) numa dita Escola Secundária. Não me lembro o que é que eu queria ser, mas seria algo como advogado até porque queria ser também político e advogado dá para tudo. Mas sei que não tinha ideias em ser informático, vulgo trabalhar com computadores. Isso tenho a certeza porque eu lembro-me do momento em que tomei essa decisão, e apesar de não me recordar de quando foi ao certo, foi certamente por alturas do 8° ou 9° ano, não antes.
Seriam férias de Verão porque ia a família toda no carro do meu pai em Portugal e diz ele algo do género: "Conheço uns rapazes lá em França que não foram para a Universidade, meteram-se nos computadores e agora ganham muito dinheiro".
Foi uma espécie de epifania; não ir para a Universidade (eu gostava de conhecimento mas não estudar) e ganhar muito dinheiro (sempre fui ganancioso desde tenra idade)? Contem comigo!
E assim decidi que ia meter-me nos computadores, apesar de a única ideia que tinha dos computadores na altura é que eram horríveis para jogar, pois era preciso meter a cassete e estar a tentar que lesse bem (caso de um Spectrum que um primo tinha) e as consolas de jogo (tivemos uma Nintendo relativamente cedo pois éramos filhos de emigrantes) eram bem melhores.
Mas no 9° ano, na casa dos 14~15 anos lá me fui inscrever num curso de Informática que obrigava ir para Aveiro. E quando comecei, ainda me lembro de colegas falarem dos seus computadores e eu só pensar algo do género "realmente já ouvi falar disso do MS-DOS" e pouco mais.
Se aos 12 anos me fossem fazer um teste e me perguntar o que queria seguir presumo que Informática não seria uma das escolhas possíveis. Até porque depois a escola técnica provavelmente me iria rejeitar por não saber nada de Informática.
Mas afinal até tinha jeito para a coisa e considero-me um profissional de sucesso e bom naquilo que faço (com provas dadas e reconhecidas).

Então como é que nós portugueses podemos aceitar que um filho nosso aqui vá fazer um exame, chamado Cito Eindtoets Basisonderwijs (vulgo Cito), e o resultado desse teste mais a opinião da escola anterior é que define o que o filho vai estudar a seguir e se pode ir ou não para a Universidade? Parece um erro absurdo e que pode restringir o futuro do nosso filho, não é?

Eu sempre achei estranho que numa sociedade como a Holandesa as pessoas ficassem mesmo obrigadas a seguir o que foi definido para eles num exame que fizeram quando tinham 12 anos, quando praticamente ninguém sabe o que quer fazer na vida. E eu tinha razões para estar desconfiado, a coisa não é como me pintaram e quando estava a pesquisar para falar deste tema, descobri mais detalhes.

Primeiro o teste Cito é um exame final do ensino primário, que aqui vai dos 4 aos 12, que serve até mais para avaliar na pratica as escolas (uma escola onde a maioria dos alunos tem más notas no Cito não está a ensina-los bem). A questão é que sendo um exame final do ensino primário, o seu resultado é usado como critério para aceitação no tipo de ensino secundário orientado à preparação para o ensino superior. Mas para além do teste Cito é também usado a avaliação da escola anterior e os próprios testes de admissão (se for caso disso).
Acima de tudo encontrei artigos neste blog e no Expatica que referem que o resultado do teste Cito assim como a opinião ou avaliação da escola primária não é vinculativo e os pais podem escolher na mesma colocar o filho numa carreira de ensino superior, desde que uma escola apropriada o aceite.
Vendo também o site da Educação (em inglês) sobre os diferentes sistemas, fiquei com ideia que mesmo alguém que entre para o ensino secundário vocacional podem na mesma ingressar depois no ensino secundário sénior ou pré-universitário, mas na mesma sujeitos à avaliação na altura.

Como em muitas outras coisas aqui nos Países Baixos, parece complicado sobretudo para quem vem de fora.
Claramente não é como em Portugal onde as pessoas são quase livres de irem estudar no Ensino Superior seja que curso for, tenham inclinação para a área ou não, desde que consigam média para entrar ou paguem numa privada (nalguns cursos é preciso cumprir os pré-requisitos, pelo menos teoricamente).
Aqui vai-se avaliando durante o ensino e guiando já os alunos para uma carreira que melhor lhes convém. Não é errado de todo pois claramente nem todas as pessoas podem ou conseguem sequer tirar um curso superior, ou pelo menos não deveriam ir tentar tirar um para ao qual não têm jeito nenhum.
Eu olho para o meu próprio caso. Sempre fui bom aluno a quase todas as disciplinas, tinha facilidade em aprender e como disse, gosto de conhecimento. Mas nunca gostei de estudar. Eu não queria ir 5 anos para uma universidade. Se calhar até me teria dado lindamente, mas podia ser o caso de me tornar num desperdício de talento. Não fui e correu bem, e posso actualmente ser na mesma um desperdício de talento, mas tenho sempre a Internet para demonstrar os meus...

E a segunda fase deste tema é quando a mulher e outras pessoas (por acaso tenho mais mães em mente) lerem isto e quererem debater em mais detalhe o que escrevi sobre o Cito e os tais tipos diferentes de ensino (e sei que algumas vão querer mostrar o quão errado estou)!

2 comentários:

  1. Quando cá cheguei o sistema educativo pareceu-me estranho e meio assustador, tendo em conta o que estamos habituados. Mas agora até não acho mal, e o tal CITO até pode ajudar a que seja dado um ensino mais adequado a cada criança. Eu odiava estudar mas o curso que decidi que ia tirar no 8o ano tinha média baixa. E cá estou!
    Conheci um holandês que esteve no secundário vocacional e acabou por ir para a universidade e é uma pessoa de sucesso e tem patentes e tudo...

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    1. Eu também acho que sim, o Cito tem coisas positivas e acho que é correcto que exista uma orientação dada pela escola com base nos testes ena própria avaliação feita pela mesma para sugerir aos pais e próprio aluno (apesar de nesta idade tudo muda rapidamente) o mais indicado tendo em conta as "supostas" capacidades dele.
      Só que tinha-me sido vendido que isto era quase como na Coreia do Sul (que era em tempos) ou outros países em que o Estado é que decide unilateralmente para onde vais estudar e o que vias estudar.
      E achava estranho que se os holandeses fossem mesmo obrigados a seguir o que lhes era "escolhido" aos 12 anos, haveriam muitos mais problemas tanto a nveil de educação como depois profissional.
      O site do governo no entanto mostra que mesmo que um aluno aos 12 seja orientado para o ensino VMBO (para ficar apenas pelo Secundário) ele pode mudar para o HAVO (Secundário Sénior) e depois também para o VWO (o pré-universitário). E o artigo da Wiki tem um gráfico que mostra mesmo isso, com setas na horizontal indicando que mudança de tipo é possível. Claro está que ao contrário do que era em tempos em Portugal (agora não sei como está), isto não é à escolha do freguês e só mudas se cumprires os critérios. Mas faz todo o sentido não permitir alguém que não tem o nível nem sequer as aptidões tentar fazer a todo o custo um tipo de ensino que se sabe quase à partida que vai ser muito complicado. Se por ventura o aluno melhora imenso durante o VMBO, que é coisa que também acontece com certa regulariedade alunos melhoram imenseo qd chegam a outro nível de escolariedade, então já vão cosneguir cumprir os requisitos e mudar para outros tipos...

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