quinta-feira, abril 17, 2014

Baixar custos de produção

Ler o infame Memorando de Entendimento, de 17 de Maio de 2011, não é muito complicado e até fácil de perceber, pois agora até já temos a versão traduzida em Português e são apenas 35 páginas. Mas no meu entendimento nem tem muitas medidas concretas, tem mais é linhas de orientação.
Mas um problema é que este Memorando não é o único e existem muitos outros para além deste, pois associados temos 2 outros, o das políticas económicas e financeiras e o memorando técnico; e a cada revisão sai um novo conjunto de memorandos (baseados no original mas com novos textos).

Portanto fica difícil saber realmente se os políticos, do Governo mas não só, têm (tecnicamente) razão ou mentem descaradamente quando dizem que certa medida tem de se fazer porque está no memorando. Para mim, e julgo que para a maioria dos Portugueses, quando se diz O Memorando, pensamos no original, mas os políticos sabem jogar com as palavras e podem estar a falar de um dos outros 32 que foram publicados até agora.

Mas queria falar agora sobre os custos na energia. E no memorando original, e sendo repetido o mesmo texto ou novo relacionado a cada revisão, estão traçadas algumas medidas a tomar no sector energético, nomeadamente o avançar para um verdadeiro mercado liberalizado, limitar os sobrecustos associados à produção de electricidade e evitar tomar medidas que tenham consequências negativas nos preços da energia. Tentei pesquisar sem sucesso por notícias que confirmem a minha ideia que por estas alturas e durante pelo menos 2012, foi bastante falado até por elementos da troika a necessidade de baixar os custos da energia, fundamental para permitir reduzir os custos de produção, que não estão apenas dependentes dos custos laborais (que andam muito pelas bocas do povo agora).
Tentei também pesquisar pelos outros 32 memorandos publicado até agora (10 revisões com 3 cada uma, mais os 2 de anexo de Maio de 2011) se havia mais detalhes sobre isto mas ao fim de algumas pesquisas a encontrar quase sempre os mesmos textos (porque as medidas não são implementadas e têm portanto de ser adiadas) desisti.
De qualquer forma, continuo com a ideia que existiu pelo menos em determinado momento indicações claras de que o preço da energia em Portugal deveria descer (como aconteceu por exemplo em Espanha).

É que como referi antes, os preços da energia não pesam só na conta das famílias portuguesas. Pesam sobretudo nas contas da economia, pois a factura energética é uma das despesas operacionais, assim como os gastos em telecomunicações, transportes, coisas assim, tudo custos que em Portugal são mais caros que na maioria da Europa. Mas como isto tudo é considerado OPEX (Operational Expense) onde entra também o custo laboral (as despesas com o pessoal) fica tudo diluído no mesmo pote. Isto também justifica o porquê do discurso constante de reduzir os custos laborais. Não é só um problema da Troika ou Governantes. Existe a ideia, demasiado simplista no meu entender, em termos de gestão e finanças empresariais, que OPEX é mau e tem de ser sempre reduzido (por oposto a CAPEX, Capital Expenditure, que pode aumentar porque não tem mal nenhum). Como a fatia maior da OPEX é os salários e é o único que as empresas podem controlar quase na totalidade, fala-se sempre disto. Mas todas as despesas com infra-estrutura, onde eu incluo a energia, são também OPEX.

E aqui é que assistimos uma coisa curiosa. Em termos salariais, o valor médio de Portugal é na ordem dos 50% da média europeia, portanto seguindo a ideia geral que os custos laborais é que interessam, em Portugal custaria metade produzir algo do que na média Europeia. Mas a verdade é que não assistimos a isso, precisamente porque a OPEX engloba mais do que os custos laborais. E neste caso, apesar das indicações de diversas entidades internacionais, e contrário aos objectivos das gestões empresariais, os custos de energia em Portugal continuam a aumentar.
O gás natural por exemplo, aumentou 19% desde que a troika chegou. Não encontrei valores concretos, mas a electricidade também aumentou com um aumento na casa dos 6% no preço por kW/H e certamente aumento no preço da potência contratada também. Os gajos do Bloco dizem que os custos de energia para os portugueses (e empresas deve ser igual) aumentou 30% desde 2011!
E o curioso é que estamos a falar de preços definidos pela ERSE, portanto não é aumentos como os dos produtos petrolíferos, sempre ao sabor dos mercados (e como é habito sempre a subir também pois tudo serve para fazer subir o preço dos combustíveis, até quando o preço do barril baixa).

Este aqui é um dos casos em que o Estado (Governo) demora a tomar medidas que curiosamente até estão previstas no(s) memorando(s). É curioso que eles gostam de usar a troika como a responsável por certas medidas más, servindo por isso de escapatória. Também se usam factores externos, como a crise da dívida europeia, as agências de rating, e por aí fora, para se justificar o mau estado das contas.
Mas quando toca a fazer alterações sérias, que entram em conflito com interesses de muita gente, e muita gente dos 3 partidos do chamado bloco central tem interesses neste sector, aí nem se fala em orientações da troika, nem no memorando. Isso é esquecido ou posto de parte, mesmo apesar das 10 revisões que já se fizeram...

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