sexta-feira, abril 18, 2008

É mais produtivo é

Mais uma dissertação que não estava na Lista de Tarefas, mas mais uma que surgiu naturalmente numa conversa e escrevi em 2 tempos.

Estava a conversar com a futura Eng.ª civil Rita sobre o pessoal que se forma em Portugal ser bom a trabalhar ou não e de empresas estrangeiras cá virem buscar quando eu lhe decidi explicar assim por alto a "cena" da Produtividade, tanta vez referida pelos governantes políticos da nossa nação assim como por associações empresariais.

De certeza que todos nós estamos fartos de ouvir dizer que Portugal tem um problema de produtividade. A nossa produtividade é a mais baixa da UE por isso a nossa economia é má, por isso os salários não sobem, por isso perdemos investimentos estrangeiro, etc…
Eu imagino que a maior parte das pessoas entende isto como uma "acusação" de que nós portugueses, trabalhamos pouco, por isso a coisa corre mal.
O problema é que a maioria das pessoas não sabe que valores de produtividade são esses os constantemente referidos pelos poderosos.

Não são nada mais nada menos que indicadores do EUROSTAT, e são muito simples. Ninguém vem aqui medir se fulano X faz mais parafusos que fulano Y, nada disso. A produtividade de Portugal que é tão má, resume-se a: PIB a dividir pela População Activa. E o nosso PIB é baixo. O PIB é o Produto Interno Bruto de todo o país, o dinheiro que o país gera, onde entram imensas coisas, inclusive os nossos salários, mas onde não entra, pelo menos directamente o nosso suor. E depois por isso é que temos uma produtividade baixa, quando comparamos com países como Irlanda, Reino Unido, Alemanha, países com indústrias de elevado valor acrescentado, produtos caros.
Um outro indicador que é calculado pelo EUROSTAT, é a produtividade por hora, basicamente é: PIB a dividir pelo número de horas semanais. Ora como nós trabalhamos 40h, um dos países da UE onde se trabalha mais, ainda pior fica este valor quando comparado com países com PIB bem superior e horário de trabalho inferior. Ou seja, nós os trabalhadores ainda saímos mais prejudicados olhando para este indicador.

Mas se pensarmos bem alguém acha que isto significa que trabalhamos pouco? Obviamente que não. E nada mais que uma pequena analogia para entenderem perfeitamente o que eu quero explicar:

Temos um consultor, que vai 2 horas a uma empresa, diz lá uns bitaites e cobra €1000.
Temos um agricultor, que a cavar batatas num dia, trabalha de sol a sol, digamos 10 horas, e faz (com sorte) €50.
Produtividade do consultor: €500 por hora.
Produtividade do agricultor: €5 por hora.
Resultado: o agricultor é 100x menos produtivo que o consultor.

Agora ide dizer isto ao desgraçado no final do dia; dizer que ele trabalha 100x menos que os outros, e levam com a enxada nos cornos!

2 comentários:

  1. Há por todo o lado a mania de medir a produtividade dos trabalhadores, agora está na ordem do dia falar de produtividade, devem achar chique.
    No sector público isso tb está a contecer e até dá vontade de rir. Há certas tarefas que dão para medir em estatisca, por exemplo, as vezes que um utilizador consulta determinada aplicação, então é engraçado, que mesmo que não se tenha feito absolutamente nada na aplicação se eu lá for muitas vezes, fui muito produtivo. Parece aquela conversa no outro dia no post "qual erro, qual hacker".
    E depois ainda tem aqueles trabalhadores que fazem muito serviço que não é quantificalvel directamente pela informática, então se uma pessoa atender no balcão o dia todo, chega ao fim do dia e não foi nada produtivo.
    Mas andamos nisto, o que é que vamos fazer, e o pior é quando resolvem avaliar as pessoas por estes tipos de produtividade.

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  2. Medições de produtividade sempre irão existir, tens de ter algum tipo de métricas e estatísticas nem que seja no mínimo para estimar custos, prazos, etc.
    Se não medires nada, fazes as coisas todas à base do adivinhação e isso sabemos bem ao que leva, pois de certeza que todos nós já passamos por algo do género.

    O problema mesmo é a má utilização dos indicadores, ou usar os indicadores a bruto para fazer avaliações.

    Tb no meu trabalho já tivemos coisas do género, os japoneses queriam medir o nosso trabalho através do número de K-lines de código que fazíamos, basicamente uma medição do número de linhas que escrevemos em média. Isso tb é do mais estúpido que há, pq as pessoas podiam passar a escrever muito mais linhas que o necessário só para terem boa pontuação, assim como os programadores que passam muito tempo a analisar um erro para depois só resolverem com uma pequena alteração, parece que não fazem nada e na realidade fazem muito.

    Não sou contra as medidas que se fazem ou certos índices que se tiram, sou é 100% contra as más utilizações que se fazem dele, e o quererem transformar esses números em coisas que eles não são, para enganar os outros!

    E o exemplo que deste é mais um caso, tão típico português (mas não só), de má utilização dos indicadores.

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