quarta-feira, maio 20, 2020

Os prémios Nobel também se equivocam (ou como eu discordo de um Nobel da Química)


Ora bem, costuma-se dizer que um gajo deve escolher as suas lutas. Neste caso não vai ser luta nenhuma porque o senhor não vai de certeza saber sequer que o vou contrariar, e mesmo que soubesse deve-se preocupar pouco o que pensa um tal de BaKano às 00:24 duma quarta-feira, numa (relativamente) pequena cidade da Holanda, se calhar só conhecida por estar ao lado do aeroporto de Schiphol, que é o aeroporto de Amsterdam (não traduzir o nome é propositado). Mas quero eu dizer, eu não faço por menos: já disse (escrevi publicamente) que um doutorado da Universidade de Oslo é um idiota pois partilhou uma opinião mas com erros grosseiros e já antes também disse que este senhor de quem vou falar agora se enganou, mas agora escrevo mais sobre ele pois tenho visto novamente mais partilhas da sua opinião e eu não me sinto bem comigo mesmo não fazer uma refutação às mesmas e ao seu autor.
 
Mas depois da introdução, um pequeno aparte, até porque comecei a escrever isto no Facebook e reparei que ia ficar enorme, logo passei para aqui, o sitio correcto para grandes textos, como é meu costume.
Isto de ter novo emprego, a escola ainda estar só a 50% e a Carolina estar super-ocupada a fazer máscaras faciais (em Portugal designadas por máscaras sociais) não me permite fazer várias coisas planeadas, especificamente no YouTube, como gravar o (há muito prometido) quaranoke "You must leave your mask on" que não posso fazer em 10 minutos porque prometi um strip a acompanhar. Também não tenho tido vontade de fazer um podcast (ou live pelo FB) apesar de ter muito que falar, e falar ser mais rápido do que escrever aqui no blog, porque por estar a trabalhar em casa e fazer umas pausas maiores do que o normal durante o dia, leva-me a trabalhar um bocado "after-hours".

Mas aqui estou a escrever uma refuta-dissertação (ou será artigo de opinião?) Isto porque sinto-me obrigado a falar do Michael Levitt, prémio Nobel da Química em 2013, e que tem tido um discurso "diferente" (como muitos outros) sobre a COVID-19.
O Michael Levitt disse logo em Fevereiro que a COVID-19 não seria tão má como anunciado nem duraria muito tempo (e por causa disso ele é, ou era na altura, contra um lockdown restrictivo devido ao impacto na economia e vida das pessoas que causa). Ele continua a ser partilhado porque apesar de não ser nem virologista nem epidemiologista ele percebe muito de números e estimou na altura que o número de mortos na China seria de 3250 e em meados de Março as mortes lá eram 3245, ele parecia ter acertado em cheio.
E ele chegou a esse valor olhando apenas para o número de novos casos por dia, e afirmando na altura que eles crescem durante 2 semanas depois começam a descer. E isso foi outra coisa que ele acertou para diversos países, inclusive a China e Itália, onde mais ou menos depois de 2 semanas os novos casos diários começaram a descer sustentadamente.
E ele então, com os dados a baterem certo com a sua estimativa afirmou por meados de Março que a pandemia nos EUA não seria tão má como outros diziam, muito longe disso.

Só que não. Se em meados de Março o Michael Levitt parecia ter razão, pouco depois já deu para ver que não. A primeira vez que me deparei com partilhas no Facebook (finais de Março) eu fui procurar artigos e vi a previsão dele que em Israel não haveriam mais de 10 mortos e com o isolamento ele duvidava que seriam mais de 5: só que até ao final de Março tinham morrido 20 (poucos mas o dobro do pior cenário previsto por ele). E agora, que passaram mais umas semanas, Israel vai com 278 mortes e a curva dos novos casos diários não baixou sempre depois das tais 2 semanas (teve altos e baixos).
E depois não foi só essa previsão de Israel. A situação onde os novos casos diários aumentaram durante 2 semanas para depois descer de forma sustentada não aconteceu na maioria dos países que ocupam o topo da lista de casos (e vitimas) de COVID-19.
Nos EUA, onde ele achava que seriam 2 semanas más e depois ficava tudo bem, nunca sendo tão mau como foi em Itália, a curva dos novos casos diários continua sem descer. Subiu abruptamente durante 3 semanas até 4 de Abril, depois baixou um pouco mas vai se mantendo num sobe e desce durante o ultimo mês e meio. No UK é uma situação similar. Na Suécia (que vai ser o meu case study mais tarde) é sempre sobe e desce desde que a epidemia chegou com força. Na Rússia e Brasil, essa curva continua alta, descendo às vezes mas voltando a subir, há coisa de 7 semanas!

Basicamente, o laureado Michael Levitt equivocou-se. Fez umas contas que bateram certo para o país mais afectado há 3 meses atrás e convenceu-se disso. Emitiu opiniões baseadas nisso e por ser uma voz contrária à de muitos, e um laureado com um Nobel, foi noticiado e partilhado. Mas o que previu só bateu realmente certo em alguns países, e tirando a China, os países específicos para os quais ele fez previsões, a pandemia evoluiu e continua a evoluir de forma muito diferente.
E não consigo encontrar, o que não quer dizer que ele não o tenha feito, notícias onde ele reveja a sua opinião ou admita que estava enganado.

Eu em tempos comentava nas publicações que encontrava sobre isto mesmo, mas já me apercebi que ir contra alguém com as credenciais do Michael Levitt nas redes sociais é escusado, mesmo tendo razão pois é fácil desmentir o que ele disse, sobretudo agora que já passou tempo.
Fica então aqui a minha refutação, e termino a dizer que até os melhores se enganam, mas eu não sou dos melhores (cá vai a bazófia)!

1 comentário:

  1. Acertou na China porque fizeram um lockdown extremo e outros países não logo é imprevisível... Se fazes previsões para um país tens de mudar a forma de encarar a situação noutro porque se testa mais ou menos, porque se é mais ou menos estrito, porque as pessoas são diferente e é disto que também se trata, pessoas e das suas atitudes que são difíceis de colocar em números...
    Ele errou sem dúvida!

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