terça-feira, abril 21, 2020

Eu agora olho para a curva dos casos activos


Foi há 1 mês que escrevi aqui no blog sobre a COVID-19. Depois dessa altura já muito se discutiu; eu fiz 6 podcasts sobre o tema (uns mais detalhados que outros) e partilhei mais dados pelo Facebook. Hoje foi o dia em que o governo holandês anunciou a reabertura das escolas em Maio mas o alargar do prazo de outras medidas e eu pensei que era altura de novo podcast mas decidi escrever aqui. Até porque andava a preparar-me desde ontem para falar de como eu agora olho para o evoluir da situação: as curvas do total de casos continuarão sempre a subir e nem sempre é fácil de ver se estão a estagnar porque o prazo pode ser curto; os números de pessoas internadas por dia revela uma tendência, e é no que se focam muito as autoridades daqui, mas não tenho os mesmos detalhes de outros países para comparar; resta-me a curva dos casos activos.

E curiosamente quando tentava saber qual o impacto da reabertura das escolas, encontrei este artigo datado de ontem (segunda-feira, 20-Abril) que menciona os países Europeus que já relaxaram medidas ou preparam-se para tal, e deu para ver que também usaram a mesma curva de casos activos para alguns deles.
E porquê me basear nessa curva? Como escrevi em cima, a curva do total de casos estará sempre a subir e como nalguns países europeus ainda nem 2 meses se passaram, é difícil notar se está a achatar ou não. Mas por outro lado, a curva de casos activos permite saber se está a decair mais rapidamente, pois se o número de novos casos está a reduzir, os casos activos decrescem conforme cada vez mais pessoas se curam da doença (apesar de os mortos também contarem para este baixar da curva). E basta olhar pra imagem de topo com 12 países de exemplo que escolhi para se ver isso mesmo.

Os exemplos positivos na Europa


Aqui temos 4 dos 5 países mencionados no artigo. A Dinamarca é o primeiro porque já reabriu as escolas na semana passada e nesta permitiu alguns negócios não essenciais retomarem. A Austria permitiu a lojas não essenciais abrirem na semana passada e a 1 de Maio as maiores podem abrir também. A Alemanha começou a permitir lojas com menos de 800m abrirem esta semana e planeia reabrir as escolas a 4 de Maio. A Suíça tem planos similares mas a começarem 1 semana mais tarde que os da Alemanha (lojas e escolas respectivamente).
O que estes países têm em comum é que as suas curvas de casos activos estão a descer. Mas não começaram apenas a descer, a descida parece sustentada, apesar de na Dinamarca e Austria a descida ter estagnado nos 2 últimos dias, mas é cedo para ver se é uma mudança da tendência ou apenas uma situação pontual, como se vê nos outros 2 países.
Olhando para estas curvas é difícil argumentar contra o relaxar de medidas, o pico já parece ter sido realmente atingido e é hora de um regresso faseado e com cuidados, como todos estão a fazer e bem, a uma certa normalidade (a possível neste novo mundo pós Covid-19).

Os outros exemplos na Europa


Tenho aqui outros 4 países europeus. A escolha é óbvia: a Noruega é mencionada no artigo anterior, pois já reabriu as creches ontem (segunda-feira) e as escolas, incluindo universidades, e outros negócios vão reabrir para a semana. A França anunciou na semana passada que as medidas continuavam até 11 de Maio com o objectivo de reabrir escolas nessa data mas o plano só é anunciado em mais detalhe no final de Abril. A Holanda anunciou hoje a reabertura das escolas primárias (até aos 12 anos) a 11 de Maio mas estendeu as regras em vigor por mais tempo. E Portugal porque este blog é escrito em português e eu como a maioria dos leitores, sou tuga!
Comparando estes 4 países com os exemplos anteriores nota-se que as curvas continuam a subir. Não há sinal de se ter atingido o pico, apesar de no caso da Noruega a curva estar a achatar.
A minha dúvida nestes países é se não assistiremos a um aumento destas curvas que ao invés de achatarem e começarem a descer, começam novamente a aumentar. Existe esse risco, não apenas pela reabertura das escolas mas porque se nota, nomeadamente aqui na Holanda mas ouvi relatos que o mesmo acontece em Portugal, uma despreocupação cada vez maior das pessoas, assumindo que o pior já passou! E isto pode mudar de repente, como 2 dos próximos exemplos o demonstram claramente.

Mas antes desses exemplos, deixo só um comentário favorável à actuação do governo daqui: ainda não sei se concordo com a reabertura das escolas; a curva dos casos activos ainda não permite essa situação mas também ainda faltam 2 semanas e meia, pode melhorar ou pode piorar e o governo ter de voltar atrás. Mas achei muito bem terem estendido as outras medidas e manterem o discurso de cautela: isso é muito importante porque muito facilmente isto pode descambar e uma segunda vaga (mesmo que tecnicamente não o seja) pôr tudo por água abaixo...

Os exemplos da Ásia


Ignorando a China por várias razões e mais algumas, uso outros países tantas vezes mencionados como bons exemplos de como controlar a pandemia. Mas como diz um gajo que sigo no YouTube Is it really the case?
Os países da Ásia permitem ver uma linha temporal mais alargada pois eles tiveram os primeiros casos logo em Janeiro (apesar de no gráfico só aparecer Fevereiro). Mas pode-se ver o caso de sucesso da Coreia do Sul que teve um crescimento brutal no início de Março mas a curva veio por aí abaixo. Os outros 3 países são diferentes: mantiveram muito menos casos por bastante tempo até a coisa disparar; em Taiwan foi de meados de Março até à primeira semana de Abril e a curva parece estar a descer nas 2 últimas semanas; o Japão e Singapura controlaram bem no início mas depois de relaxarem medidas a coisa disparou em Abril e está a subir do mesmo género que aconteceu na Europa.

Estes 2 países são o exemplo do que pode acontecer de mau se relaxamos as medidas quando a doença ainda não chegou ao pico. No caso deles esteve sempre por baixo, vê-se que quase nem subiu por muito tempo, por isso nem havia pico para se distinguir. Mas é de um cenário como este que eu tenho medo aqui na Europa nomeadamente Holanda e Portugal: a coisa voltar a piorar e ser bem pior que antes, porque os sistemas de saúde estão a aguentar mas perto do limite e no caso de um novo pico vão rebentar pelas costuras...

Concluindo

Continuo preparado para o pior. Vejo mais sinais positivos tal como as curvas a descer nalguns países, os governos a refrearem as expectativas disto acabar cedo, a taxa de casos sérios e críticos global que continua a cair (vai agora nos 3%) e o crescimento exponencial parece que parou, pois julgo que vamos demorar o mesmo tempo a passar de 2 milhões de infectados para 3 milhões do que aquele que demorou entre 1 milhão e 2 milhões, ao contrário do que eu pensava há uma semana atrás.
Mas ainda não estou confiante, não acho que já tenhamos passado o pior (atingido o pico aqui na Europa) e preocupa-me o que vai acontecer até ao final desta semana (aqui na Holanda) e na próxima semana (um pouco por toda a Europa). Se as minhas piores previsões não se concretizarem, então sim ficarei mais confiante.
Mas repito os meus conselhos:

  • Desejem tudo mas não esperem nada
  • Preparem-se para o pior e depois alegrem-se se não acontecer
  • Sejam optimistas para o futuro (final do ano ou proximo ano) mas pessimistas para o presente (Primavera e Verão)

1 comentário:

  1. Mesmo assim o número total de mortos diários tem vindo a diminuir e o número de casos graves também... Não sei quão bias são estes dados mas eles querem integrar dados de mortes sem teste mas que provavelmente foi essa a causa pelos sintomas.

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