domingo, agosto 21, 2016

Uma questão de números


Nunca fui gajo de andar a fazer muitas contas, sobretudo andar a guardar recibos ou facturas e fazer uma contabilidade caseira ou pessoal para variados gastos. Apenas durante uma fase mais apertada, onde ainda por cima andava a pagar empréstimos que não eram na realidade meu usufruto mantive uma folha de Excel para fazer os meus orçamentos e monitorizar a evolução da coisa. Mas agora que já estou mais velho e desde que vim para aqui as métricas, na realidade estatísticas, passaram a fazer parte do meu quotidiano lembrei-me de começar a guardar e fazer alguns estudos de contas.

Já que falei nas métricas do trabalho, tenho de fazer aqui um aparte. É difícil um gajo não se sentir o maior da sua aldeia, e o nível de bazófia dispara para o máximo, quando ficas com um caso de um colega que se vai embora, com mais de 1300 dias e sem qualquer contacto com o cliente durante 3 anos e 3 meses, e fechas o caso no próprio dia em que ele te é atribuído. Pois é, como se diz em inglês: I am that good!

Continuando na temática original, tenho mantido uma folha da contabilidade caseira, que me serviu para ter uma ideia do orçamento mensal porque o meu salário varia mas precisava de saber a média mensal e saber também os gastos. Ainda tenho muitos gastos estimados e outros com valores teóricos mas o grosso está correcto e tenho actualizado.
Para além disso estou a contabilizar os recibos todos de combustível para fazer um estudo dos gastos com o carro num ano. Como tenho guardado o preço do combustível serve também para saber a variação que o mesmo teve.
E hoje fui ver o vídeo que a empresa que me fornece a electricidade e o aquecimento me preparou com as contas anuais. E foi precisamente esse vídeo, e os consumos detalhados, que me fez querer vir escrever aqui.

Eles enviam uma factura com base na leitura que eu faço e ao dia que faço por isso nunca é exactamente o período de 1 ano, mas para simplificar vamos supor que sim, o período anual vai de Agosto a Agosto.
Este ano gastei menos 9% de electricidade que no ano transacto, mas 40% menos no aquecimento.
E o curioso no vídeo é que eles mostraram os meus consumos comparado com a média na Holanda e estou muito satisfeito, eu que nunca achei que tinha propriamente cuidado em ser poupado e ecológico.
Se o vídeo está correcto os meus gastos de electricidade estão mais perto de uma habitação de uma só pessoa do que de 2. E nós já éramos 3 no ano transacto, pois apesar do Bastião ser uma criança se calhar equivale a um adulto os gastos extra que se tem com ele.
Mas no aquecimento está quase a metade da média dos apartamentos (aí os valores são por tipo de habitação). E o apartamento até é grande e com falhas no isolamento! Para mais, quando falo com outras pessoas da temperatura que eles metem o termóstato muitos deles afirmam ser mais baixa do que eu uso. Mas pelos vistos gasto bem menos do que era esperado.

Mas não foi sempre assim. O consumo da electricidade tem sido mais constante, mas no aquecimento nota-se claramente uma diminuição, tirando no período 2014-15 onde aumentou em relação ao período anterior, mas tínhamos o Bastião pequeno nessa altura por isso é normal.
Mas uma coisa que os consumos deste ano que passou mostram é que o Inverno passado foi muito ameno. Isso e que estamos claramente mais habituados a menos temperatura. Eu lembro-me bem, e a Carolina também comentou, que neste último ano, nos dias de frio, tive muito mais cuidado em não aumentar a temperatura muito e ter 1 ou mesmo 2 graus mais baixo. Até porque diz a ciência que dormimos melhor com frio (sem ter frio na cama, obviamente) do que com calor.

Outra coisa relacionada em que fiquei a pensar é que apesar de estar num país onde se ganha bem mais que em Portugal muitas coisas são mais baratas. A electricidade é uma delas. Pegando no valor total, que inclui o preço por kWh, o preço do serviço (por dia) e os impostos, eu estou a pagar €0,134 (preço unitário), abaixo aparentemente da média do preço aqui comparando com os dados do Eurostat, mas muito menos do que se paga em Portugal onde apenas o custo do kWh ronda os €0,16, e contando com tudo o resto, a média salta para €0,229 (preço unitário). É quase 71% mais caro em Portugal do que aqui (com base no preço daqui).
Estas coisas deixam-me sempre a pensar, mas não é caso único. Sabendo nós que o custo da mão da obra é das componentes mais importantes no custo final de um bem ou serviço (apesar de ser mais nos serviços) como é possível que em países onde as empresas têm de pagar muito mais aos seus funcionários consigam oferecer o bem ou serviço ainda mais barato?
Posso dar o exemplo do IKEA pois ainda lá fomos hoje e eu estava a consultar o site em Portugal pois é mais fácil pesquisar lá. Um produto deles que aqui custa €1 é vendido em Portugal (onde as pessoas ganham muito menos e existem menos IKEAs mesmo sendo o país maior) por €2,5. É 150% mais caro em Portugal. O produto é fabricado no mesmo sítio, na China. Será que os custos de envio para Portugal são muito superiores comparados com a Holanda, mesmo considerando que eventualmente foram para a Suécia primeiro? A única diferença mesmo é que em Portugal paga-se em média menos de metade aos funcionários...

E já que falei no combustível do carro, o meu é a gasolina. Eu para ir e vir do trabalho, nos dias que não levo o Bastião à creche que tem um desvio, faço 12,1kms e gasto em média 0,85l. O preço médio da gasolina durante este ano que abasteci é de €1,43 portanto gasto €1,22 por dia em combustível. E só gasto 30 minutos nessa deslocação. Claro que o custo do carro deveria ser contabilizado mas eu já o tenho à mesma e o grosso do custo (a aquisição que se dilui por ano, seguro, impostos e até mesmo parte da manutenção que é periódica apesar de ser mais directamente ligada à utilização dada) é anual e independente de andar com ele ou não.
E por curiosidade fui ver e o custo actual da gasolina aqui, que era bem mais cara que em Portugal já está ao custo médio de Portugal (pelo menos de acordo com o site MaisGasolina). Mas eu deveria comparar os locais onde vivo e vivia, pois em Aveiro ainda se arranja actualmente por €1,30 ao litro.
Uma questão que tenho é sobre a variação. Aqui este ano já paguei (nos mesmos postos) a €1.34 (preço mais baixo, em Fevereiro) e a €1.50 (o mais caro em Junho). A ultima vez foi a €1.42 (em Agosto), Será que em Portugal o preço variou de forma parecida, ou é sempre a subir como de costume?
Isto recorda-me outros tempos, em que a gasolina em Portugal era bem mais barata que em França, onde estavam os meus pais, mas passou a ser mais cara. Não me admira nada que daqui a uns tempos a gasolina em Portugal seja também mais cara que aqui quando ela era bem mais barata quando para aqui vim...

Isto liga tudo com o preço da electricidade, dos produtos do IKEA e com os salários. É triste constatar que as pessoas ganham menos (e se calhar cada vez menos) em Portugal mas têm de pagar ainda mais que os seus colegas europeus...

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