quarta-feira, junho 08, 2016

Pedimos, mas depois arrependemos-nos


Lembro-me de há uns tempos estar a ler uma partilha no Facebook de alguém sobre como os pais devem reagir às birras ou acessos de raiva dos filhos. E no final voltei a pensar, porque todas as vezes que leio este tipo de artigos penso o mesmo, como raio fizeram os nossos pais (e avós) que não tinham acesso a este conhecimento nem esta psicologia mas nos criaram, a nós que nos achamos a melhor geração que existe? Como é que é possível que reagindo mal às birras corremos o risco de originar problemas profundos e crianças traumatizadas para o resto da sua vida e nós, mesmo com os nossos traumas até nos safamos bem? Como é que nos dias de hoje temos de seguir imensas regras e fazer tudo o que é correcto e esquecemos-nos de usar a nossa intuição, o nosso bom-senso e fazer navegação à vista?
Eu queria ter escrito sobre isto nessa altura mas não o fiz, e ontem encontrei num outro blog um resumo daquilo tudo que eu quereria ter escrito, e por isso cito esse texto agora aqui:
...
Quando tu eras a filha, a tua mãe educava-te como sabia – e imaginava ser o melhor. E tu obedecias, e não ficavas traumatizada se levavas com algum berro, ou puxão de orelhas, ou fim-de-semana sem um bolo, ou uma palmada “no momento certo”. E ninguém ficava melindrado nem se abriam telejornais a falar dos traumas para a vida.
Agora que és a mãe, levas a toda a hora com manuais de instruções sobre como educar os teus filhos. Ou alimentá-los. Ou vesti-los. Ou “amá-los” (really??). E tu tentas obedecer, para que eles “não fiquem traumatizados” – ou não te apontem o dedo por, se daqui por uns anos algum dos agora miúdos fizer uma asneira, tal decisão não tiver sido fruto de um ou outro raspanete que te atreveste a dar-lhes, aos 4 anos, após a birra no supermercado devido a um qualquer Lego ou Nancy.

Mas não é sobre a educação propriamente dita, nos termos acima descrito, que nos arrependemos. Quer dizer, com o passar do tempo arrependemos-nos sempre. Eu arrependo-me quase todos os dias quando perco, às vezes pouco às vezes demais, a cabeça por o Sebastião não escutar à décima vez que o chamamos ou por deixar cair um dos carrinhos das mãos pela trigésima sétima vez depois de avisarmos que as mãozitas dele ainda são pequenas para carregar uma dúzia.
Aquilo que me motivou mais a escrever agora é o que aconteceu este fim-de-semana e a angústia que se seguiu que levou ao arrependimento de termos desejado várias vezes que ele fosse mais calmo e menos activo.

Este fim-de-semana foi um de Verão (e curiosamente o ano passado também o 4 e 5 de Junho foram dias de Verão) e no Sábado juntamos-nos a mais casais tugas no Vondelpark que estavam a fazer um barbecue (churrasco). Os miúdos andavam descalços a correr e brincar de um lado para o outro e nós, como pensamos no antigamente e somos muito "desleixados", descalçamos o Sebastião também para sentir o chão e a erva nos pés como os outros miúdos (e como nós e os nossos pais sentiam frequentemente quando éramos novos).
Só que ele pisou uma brasa qualquer que estava escondida e ainda quente e fez uma queimadura (aparentemente de segundo grau).
Depois do choro, que foi forte e ainda durou bastante tempo para o normal dele, ele até andou divertido mas nada de se mexer a não ser ao colo ou às minhas cavalitas.
No Domingo igual, nada de mexer apesar de ter andado calçado sem se queixar e de andar bem disposto na mesma (mas a andar ao colo ou no carrinho).
Na Segunda fomos ao doutor para ver se era preciso algo mais, e o doutor fez um corte na bolha para drenar e depois puseram um curativo. Ele nem piou, provando novamente que dor não tinha.
Mas estava com medo de pôr o pé no chão e mesmo insistindo ou tentando mostrar que podia andar mais no calcanhar (a queimadura foi mesmo junto aos dedos dos pés) não resultava nada.
No Domingo ainda achei normal e tentei não fazer grande caso, mas admito que ontem até já me dava um aperto no coração de o tão ver parado, sentado sobretudo no sofá e pouco activo.
Arrependi-me de todas as vezes que pedi para ele parar de correr e ser mais calmo.
Acho que a mãe Carolina pensou o mesmo, apenas com uma angústia maior típica de mãe.

Nós sabíamos que ele já não tinha dor. Até logo no Sábado ele não se queixou a tomar banho. No Domingo como disse, andou calçado e não se queixou. Na Segunda já se mexeu mais mas a gatinhar. De vez em quando tocava com a planta do pé em algo e não se queixava. Mas estava com medo e sendo uma criança tão nova não era fácil convence-lo que já podia pôr o pé no chão.
Felizmente esta manhã a Carolina consegui convencê-lo a por-se de pé e caminhar para ir lavar os dentes. Ele reparou que não lhe custava. Começou por caminhar devagar e com cuidado mas quando chegou ao pé do carro para irmos para a creche começou a correr à volta do mesmo.
Acreditem que juntei as mãos, olhei para cima, disse em voz (não tão) baixa "Graças a Deus!" e senti um alívio imenso a apoderar-se de mim.
Avisei na creche da queimadura, até porque eles tinham que mudar o penso e meter Betadine, mas eles nem notaram diferenças no comportamento dele durante o dia. Correu como é normal e chegou todo transpirado a casa.
Agora só falta ele reparar que realmente não lhe dói mesmo quando não está calçado pois mal tiramos as sapatilhas ele voltou a recusar caminhar...

1 comentário:

  1. Faz parte da aprendizagem ;) Qualquer dia já sabe que se não dói com sapatos, sem eles também não...

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