quinta-feira, março 17, 2016

Sebastião, O Contuso


O primeiro álbum (restrito a amigos e familiares) que a Carolina criou no Facebook com fotos do Sebastião, intitula-se (mas em inglês) "Sebastião, o desejado", numa óbvia referência ao Dom Sebastião, Rei de Portugal que tinha esse cognome. Eu proponho agora que o terceiro álbum, que ainda não existe mas que conteria as fotos entre os 2 e os 3 anos, se intitule "Sebastião, o contuso".
Sim, contuso, como em aquele que sofreu contusão (pisadura).
No caso do Sebastião é sempre no plural e muito frequentes.

É outra coisa que o Sebastião puxa a mim, pisar-se com facilidade. Eu às vezes basta-me encostar a alguma coisas para ficar com uma pisadura. Outras vezes é a Carolina que me pergunta por uma pisadura qualquer que eu nem sabia que tinha, logo nem sei de onde possa ter vindo.
Com o Sebastião é parecido. Estamos a vesti-lo ou trocar de roupa e vemos novas pisaduras aqui e ali.

Mas não é de admirar. Ele anda sempre a correr o que resulta em diversas quedas e encontrões contra móveis e paredes ou outras pessoas. Ainda ontem a tentar fugir de mim que lhe queria vestir o pijama virou-se num ápice e mandou grande cabeçada no canto do berço (que ele já não usa, será para a irmã). 2 noites antes tinha batido com a cara na esquina da mesa ao brincar com uma toalha a tapar a cara (aí foi culpa minha que tinha feito o mesmo antes ele foi logo de macaquinho de imitação).
Para além das pisaduras dos embates, tem certamente as pisaduras que nós causamos a agarra-lo nos braços ou pernas quando ele tenta fugir a toda a brida, ou escorrega no banho porque está na macacada.

Admito que já pensei que um dia as educadoras na creche vão falar comigo sobre as contusões, desconfiado de violência doméstica. Ou então aparece novamente a polícia mas acompanhada por uma assistente social, ou pela protecção de menores, por ter sido denunciado pela creche ou pelos vizinhos.
É que ele na macacada grita muito e depois aleija-se e chora a seguir, por isso estou sujeito.

Falando na creche, eu já referi umas 6 vezes aqui no blog que sou eu que levo e trago o Sebastião à creche, agora 3 vezes por semana. Nos outros 2 dias ele não vai. A Carolina foi umas 2 ou 3 vezes e tirando dias especiais, continuarei a ser eu a levar e buscar, mesmo que seja preciso ir buscar mais cedo.
Não me importa muito pois a nossa creche tem educadoras com bastantes curvas e faz-me bem à vista.
Mas o que queria mesmo dizer, e já tinha pensado nisso anteriormente, é que uma pessoa nem se apercebe bem das vantagens de certos países até experienciar as situações. Neste caso da creche dos miúdos, eu consigo ir levar o Sebastião até às 9:30. Eu gostaria de o deixar antes das 9:00 mas a maioria das vezes é mesmo entre as 9:15 e as 9:30. No entanto consigo ir buscá-lo antes das 18:30 (que é alias a hora de fecho). Se chegar depois das 18:00 sou sempre dos últimos pais.
A Carolina trabalhou a fazer ATL (ou OTL) num colégio em Faro onde todos os dias apareciam vários pais às 20:00 para buscar os filhos. Acredito que para muita gente em Portugal, conseguir estar às 18:00 numa creche é quase impossível.
Aqui não. Deixo-o relativamente tarde e vou buscá-lo relativamente cedo. Ajuda trabalhar a 6 quilómetros de casa e a creche ficar praticamente a meio do caminho.

Antes de termos o Sebastião ainda pensávamos bastante no regresso a Portugal. Mas o termos uma criança ajudou a ver as vantagens de estarmos num dos países mais desenvolvidos do mundo (o quinto do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano).
A minha experiência de levar e buscar na creche faz-me ver que passo muito menos tempo com o trabalho (seja a trabalhar ou a deslocar-me) e muito mais tempo com a família do que se estivesse em Portugal. E eu estava antes em Aveiro onde demorava também 15 minutos a chegar ao trabalho.
Não é só no dinheiro que se ganha por vir para o estrangeiro. Ganha-se toda uma outra qualidade de vida que às vezes só notamos quando temos filhos. Porque até essa altura só pensamos no sol, na comida e nos amigos que deixamos e até falhamos em ver quantas vantagens existem aqui que compensam as desvantagens.

Agora vou dormir para ver se amanhã consigo levar o Sebastião antes das 9:00 para a creche e trocar uns piropos com as educadoras roliças, até pode ser uma com lenço na cabeça que eu não discrimino.

PS - A fotografia é apenas uma recente do Sebastião a fazer pinturas em casa com a mãe, num dos dias em que não foi à creche. Como é de esperar não tenho muitos registos dele a arranjar novas contusões, ou confusões..

PS2 - Pela tabela do Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade, os Países Baixos ocupam o 2° lugar. De notar que o HDI (em inglês) é um dos principais métodos quantitativos usados agora para medir a qualidade de vida, por oposto aos tradicionais métodos financeiros.

2 comentários:

  1. Ainda bem que li isto porque as perspectivas neste momento são de ganhar asas e, para ser sincera, dá-me uma imensa angústia...

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    1. Ganhar asas e voar para outros poisos noutras fronteiras?
      Custa sempre, mesmo para quem estava mal vai sempre ter falta de alguma coisa. Há pessoas que não conseguem ultrapassar a falta do sol, por exemplo, nem falo do resto, a vida social que fica atrás (mas depende de nós criarmos uma nova no novo poiso).

      Mas há muita gente que já passou por isso qd se mudou dentro do país, como foi o teu caso qd foste para o Algarve, imagino eu.
      A diferença é a maior distância tanto física como a cultural.
      Em certos países talvez não compense o que se perde com o que se ganha. Mas noutros sim, mesmo quando falhamos em ver (e é deferente uma família com filhos ou um jovem solteiro)

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