sexta-feira, novembro 27, 2015

Foi uma coisa estúpida de se fazer


Há guerras que começaram por razões muito parvas. Ou pelo menos razões parvas foram apontadas como motivos de guerras.
Por exemplo a guerra das Ilhas Chincha de 1864-1866 entre Espanha, Peru e Chile foi por causa do guano, que é nada mais nada menos que merda de pássaro.
O guano é também apontado como uma das causas da guerra do Pacífico entre Chile, Peru e a Bolívia uns anos mais tarde.
Por isso derrubar um avião de combate de outro país em circunstâncias muito dúbias e sem grande motivo para isso seria noutros tempos razão para começar uma guerra.

O que a Turquia fez na passada terça-feira foi uma parvoíce, melhor dizendo uma estupidez. Sobretudo depois deles admitirem que o avião russo só esteve 17 segundos em espaço aéreo turco!
Mas mesmo que o avião russo andasse por lá mais tempo, ou andasse a rondar a fronteira ignorando avisos por rádio, o normal é enviar aviões para interceptar e normalmente a coisa fica-se por isso. Uma espécie de impasse em que uns caças seguem outros até que alguém se vai embora, normalmente o avião inferior ou que está com comportamento mais duvidoso.
Existem dezenas, senão centenas de vídeos no YouTube de intercepção de aviões russos por aviões da NATO e vice-versa, onde muitas vezes os pilotos até vêm os seus opositores directos, por tão perto que ficam. Até os F16 da Força Aérea Portuguesa interceptaram aviões de combate russos (neste caso bombardeiros estratégicos) que também tinham um comportamento considerado agressivo. Assim como uma caça russo interceptou um avião de vigilância português em missão de patrulhamento no Báltico. São coisas algo normais de acontecerem e mesmo que estejam preparados para isso, não passa logo pela cabeça dos comandantes militares abaterem um avião de outro país só porque está a passar perto ou no espaço aéreo protegido.

Para além da Turquia afirmar que o SU-24 russo cruzou o seu espaço aéreo por apenas 17 segundos, também afirmam que os F16 envolvidos não foram enviados de propósito para interceptar o avião russo mas já estavam em missão e pelos vistos limitaram-se a obter o alvo e disparar sobre o mesmo.
Mesmo a Turquia tendo todo o direito de proteger o seu espaço aéreo, e eles já tinham feito várias queixas de violação do mesmo por parte dos russos, todo o acto e a maneira como agiram foi uma estupidez e nada normal neste tipo de incidentes.
Deste modo fica claro que a Turquia quis passar uma mensagem, e bastante forte, para a Rússia, e fica claro também que os Turcos não aceitam que a Rússia bombardeia tudo o que é grupo rebelde a actual na Síria, sobretudo os que a Turquia suporta (as milícias turcomenas).

Parece claro que a coisa para já fica por aqui, mas o rastilho do barril de pólvora que toda a situação na Síria ficou mais curto. Assim como aumentam as chances de confronto entre os países estrangeiros que estão a actuar na Síria, uma vez que os russos vão tomar medidas mais agressivas em caso de encontros no ar com aviões de outros países, e não sei se alguém não terá vontade de vingar a morte de pelo menos um dos pilotos e abater um avião turco caso o vejam por perto...

Apontamento extra: Pode parecer estranho eu vir falar deste caso específico e não dizer nada sobre os ataques em Paris de há quase 2 semanas. Na verdade eu segui quase em directo os acontecimentos do dia 13-Novembro. Se aquando do ataque ao Charlie Hebdo e o subsequente ataque ao supermercado judeu relacionado eu tive logo reacção, estes daqui deixaram-me abatido. Na verdade foi quase como se tivesse levado um gancho directo no queixo e ficar quase em KO. Note-se que eu nasci na região parisiense, os meus pais moraram lá até este ano, ainda lá tenho família e conhecidos e sinto-me parte francês. Como comentei com alguém no Facebook, os mortos de Paris não valem mais que os mortos noutros atentados que aconteceram durante este ano, até mesmo na véspera no Líbano, mas devido à proximidade (tanto física como do resto pois foi numa capital europeia como aquela onde vivo agora) afectam os europeus de maneira diferente. É um choque maior. É mais uma prova que o terrorismo pode chegar até nós, mesmo morando em países desenvolvidos e longe dos conflitos. E como disse atrás eu também tenho uma ligação emocional a Paris que amplificam esses sentimentos. Tentei por 2 vezes escrever algo sobre o assunto mas só saía uma salgalhada. Só neste semana consegui recuperar do choque para voltar a ser mais activo na net e fica aqui portanto um apontamento sobre este tema.

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