quinta-feira, julho 02, 2015

E se a democracia escolher a "anti-democracia"?

Uma das discussões em volta do Dossier Grego é a aparente guerra entre a democracia e o poder das elites, sobretudo as económica-financeiras.
Como muita gente tem posto, sobretudo pessoas ditas mais de esquerda, mas nem só, isto é mais que um arrufo entre diferentes governos com diferentes ideias, mas uma verdadeira luta pela democracia na Europa, onde pelos vistos ela já não existe.

Em 19 países, apenas 1 a Grécia parece ter democracia. Os restantes 18 não.
Isto a mim causa-me grande celeuma por diversas razões. Primeiro porque parece-me estranho que em 18 países, onde tem havido eleições desde há anos, muitos nalguns casos, sem qualquer indício de manipulação, se considere que nenhum governo foi escolhido pelo povo. E segundo porque se isso realmente é verdade então estamos fodidos porque a larga maioria vive sem real democracia, eu incluído.

Quero só aqui a dizer que não vou entrar em debates sobre as abstenções e se realmente as eleições que decorreram em 18 países em diversos períodos de tempo são válidas ou não. Também sei que as pessoas acreditam cada vez menos nas instituições, e muitas delas mesmo sendo eleitas, servem outros interesses que não os das pessoas que os elegeram.
Mas isso é um problema global que pelos vistos afecta todo o mundo e não só a UE. É uma outra discussão que se pode ter a outro nível.

Mas avançando e sem tentar identificar ou justificar o que está certo o que está errado, sobretudo porque eu não sei depois de tanta informação e contra-informação.
O cenário actual é que para muitos europeus, e vi isso escrito em vários artigos, a vontade do povo grego é que conta e por isso temos de respeitar a sua decisão. O governo grego como foi escolhido para combater a austeridade tem todo o direito de o fazer.
Como o povo grego votou contra a austeridade, todas as pessoas que a vêm como uma abominação se identificam com o povo grego e apontam essa escolha democrática como a correcta.
Até aqui tudo bem.

Mas eu pergunto-me, e se, ênfase para o se porque acredito que vai ser renhido, no Domingo o povo grego escolher aceitar a proposta não-democrática da UE? Estas pessoas que acusam a UE de não respeitar a democracia e vontade do povo respeitarão a decisão do povo grego e, mesmo continuando o discurso anti-austeridade, deixar de falar em anti-democracia?
Ou irão porventura apontar culpas às manipulações anti-democráticas que forçaram o povo grego a escolher errado? Ou seja, continuarão com o mesmo discurso que não há democracia?
E pior, o que dirão essas pessoas se, novamente ênfase no se, as eleições legislativas nos outros países, como por exemplo Portugal, derem a vitória aos partidos que defendem a actual ideologia vigente na UE? Aceitarão a escolha democrática das pessoas e tentarão fazer um melhor trabalho como oposição (pois pode-se pensar que falharam ao não evitar a vitória dos pró-austeridade)? Ou irão manter o discurso que há défice democrático porque as eleições não deram os resultados que eles esperavam?

A única certeza que tenho relacionada com as minhas perguntas, é que para Mário Soares vai haver sempre défice democrático se o PS não ganhar as eleições. Essa é a única certeza que tenho. De resto não sei mesmo; estou à espera de reacções de todo o tipo, mas como não sei qual vai ser o resultado, não posso realmente fazer previsões das reacções. Certamente que se o referendo grego e próximas eleições em países europeus derem vitória a partidos do centro-direita que querem manter a actual política de austeridade, vai cair a máscara a muitos dos que defendem a democracia, mas que não aceitam uma democracia que não os escolha a eles (como é o caso do Mário Soares). Resta saber quem serão essas (outras) figuras

Decidi escrever isto agora e publicar para ficar o registo das minhas dúvidas e mais tarde, nalguns casos meses poder analisar o que se passou e vir aqui rever as minhas perguntas e dar-lhes respostas.

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