terça-feira, novembro 13, 2007

Ministério da (In)Justiça

Esta manhã vinha para o trabalho a ouvir a Antena 3, quando eles noticiam a compra dos 5 carros pelo Ministério da Justiça. “Topos de gama de alta cilindrada”, “potentes veículos de 140cv” diziam eles. E eu a achar a coisa um bocado estranha, não a notícia da compra, pois essas coisas dos políticos são comuns, mas o destaque aos carros, completamente exagerado, e até incorrecto pois falavam em Audi Limousine, modelo esse que não existe.

Chegado ao trabalho, tinha um e-mail sobre a mesma noticia, com o devido link para o Diário de Noticias.

A notícia escrita era mais detalhada que a notícia radiofónica, e pude então saber os detalhes dos carros e dos preços, e as outras razões de mais um “pikeno” escândalo.

O que acontece é que os carros foram comprados, numa altura em que o Governo tem em prática, pelo menos teoricamente, uma política de contenção de custos. A compra foi feita sem concurso publico (o que no entanto compreendo tratando-se de uma compra de carros), mas sem a autorização do Ministério das Finanças. Isso, pelo que parece, pode ser mesmo uma ilegalidade, o que é ainda mais grave do que a falta de carácter do comprar carros novos quando funcionários do mesmo ministério nem dinheiro têm para comprar papel!

E depois vem o grande destaque aos carros comprados:
“Neste panorama de carência, um dos contemplados com um novo carro de alta cilindrada foi o presidente do IGFIEJ (Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça), com um Audi Limousine 2.0TDI, de 140 cavalos. Esta
viatura, sem o IA, custou ao Estado 38615,46 euros, com 2831 euros de equipamento opcional, nomeadamente caixa de 6 CD, computador de bordo a cores,
sistema de navegação plus, sistema de ajuda ao parqueamento, alarme e pintura
metalizada.
(...)Mas também quatro Volkswagen Passat Limousine 2.0TDI - 34257,40 cada -, foram para o Ministério”

Isto era completamente escusado, porque até cria uma boa argumentação de defesa quando isto chegar (se chegar) à Assembleia da Republica.

Primeiro, não existe nenhum Audi Limousine, Limousine é o termo usado pelos constructores alemães para identificarem as viaturas de 3 volumes. O carro será por ventura um Audi A4, carro normal que se vê a potes pelas estradas deste país. O 2.0 TDI nunca pode ser considerado alta cilindrada, muito menos topo-de-gama, pois esse é o motor a diesel de entrada da gama em muitas outras marcas (sei que a Audi tem um 1.9 TDI de 110cv mas esse é muito fraquinho, e até é menos ecológico). Alta cilindrada seria o 3.0 TDI! Se um 2.0 TDI é alta cilindrada o que dizer dos motores 5.0 TDI, são elevadíssima cilindrada?
O mesmo texto se aplica ao Passat!
E porque carga de água se dá destaque a extras como caixa de CDs, computador de bordo a cores, sistema de navegação, sistema de ajuda ao parqueamento, alarme e pintura metalizada? Até um simples Clio pode ter isso tudo, não vejo onde está o problema!

Aqui o jornalista perdeu uma boa oportunidade para levantar as questões pertinentes. As questões pertinentes são:
- Porque é que os magistrados do Ministério tem de recorrer a viaturas da PJ e os administradores dos institutos, sobretudo do Instituto responsável pela gestão financeira do Ministério podem ter carrinhos novos?
- Porque é que foi adquirido um carro novo, quando esse presidente tinha ao seu dispor 2 viaturas do Ministério, aparentemente adquiridas em 2003, uma delas com motorista e de segmento elevado, um Audi A6?
- Porque é que o Ministério costumava usar carros apreendidos, a maior parte aos traficantes de droga, até mesmo o ministro, que são carros bons, e esses sim, muitos de alta cilindrada, e essa politica de ter carros a custo ZERO é abandonada nesta fase de contenção financeira, aparentemente devido a essa fase? Mas o que é que pode ser mais barato que carros a custo ZERO?
- Que raio de contas foram feitas para o preço do Audi, uma vez que esse carro, com os 2831 euros de extras, deveria custar “apenas” na ordem dos 34400 euros, e para onde foram os restantes 4200 e tal euros em relação ao preço pago? Terá sido um desconto de valores negativos, ou seja mais 10%, do que os usuais descontos de menos 10%?

Essas questões são realmente pertinentes, e o cerne da questão seria esse, porque ao tentarem dar foco aos carros adquiridos, até se retira o interesse da notícia, pois para pessoas esclarecidas, ao saberem o custo e os carros que foram apenas vão pensar “Não é nada demais!”.

E para poderem ver que o jornalista Lucínio Lima fez uma má peça jornalística, é o que eu chamo da cereja no topo do bolo, ao ter escrito sobre os carros anteriores do presidente do IGFIEJ:
“(...)e um Peugeot 404, que conduzia pessoalmente. Estas viaturas tinham sido adquiridas em 2003.”

É que isto meus amigos, é que é um Peugeot 404:

4 comentários:

  1. so mesmo tu para nos dares uma explicação tão detalhada sobre as viaturas..

    se alguem tem alguma duvida em relação á especificação de qualquer automovel, falem com este senhor... ele sabe tudo

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  2. esqueci-me de dizer uma coisa...

    em relação aos jornalistas, eles fazem e desfazem, sem dar contas a ng, uma noticia, um jornal, ou algo do genero consegue deitar a baixo um governo

    vejam no caso do desporto, a crise do sporting é criada pelos jornalitas, não ha crise, mas alguem se lembra de lhe chamar isso mesmo depois de um mau resultado, a moda pega. todos falam nisso possivel resultado?? destabilização emocional da equipa e criação real de uma crise que começa por ser emocional e termina com uma crise de resultados.
    quem diz no sporting diz em outro club qualquer....

    cuidado ao ler ou ouvir uma noticia..

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  3. É isso Dr.Vega, cada vez mais ando desconfiado dos jornalistas e acho que com o multiplicar de meios noticiosos, a sua qualidade é cada vez pior, e eles proprios criam noticias, ou dão-nos aquilo que querem, e não a noticia como ela simplesmente é (deixando ao criterio do receptor da noticia, de fazer a sua interpretação).

    Mas tb ainda pior que isso são as noticias com erros, omissões e com mentiras, como tenho visto muito, em qe se nota que o jornalista limita a transcrever algo que ouviu sem confirmar nada, nem investigar nem nada.

    Pode parecer despropositado este meu post sobre uma noticia "menor", mas aproveitei esta para dar um exemplo do mau jornalismo que se faz em Portugal.

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  4. Parabens, apesar de extenso, tem muito sumo. Não bastou só desmentir o jornalista, descredibiliza-lo, mas o mais importante para mim, ainda foi apresentar o angulo sobre o qual as coisas deviam ter sido analisadas. Eu sei que tens futuro na tua profissão, mas se pensares em ganhar uns tostões extras, vai para jornalista, pelo menos já sabes como deves sê-lo.

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