sábado, junho 17, 2006

Um país muito à frente - Parte 1

Aqui há 2 semanas atras, estive doente. Uma amigdalite que esteve a chocar no final da semana, despertou no Sábado e obrigou-me a passar o Domingo de cama, falhando a ida planeada ao circuito de Thruxton pra ver o BTCC (British Touring Car Championship). Mas não estou aqui para falar dos meus males.

Em consequência de estar adoentado, fui comprar remédios. Aqui não é preciso ir a uma farmácia, aliás agora em Portugal tb já não deverá ser, com a nova lei dos medicamentos que permitem aos "hipers" venderem medicamentos sem receita medica. E era mesmo esse tipo de medicamentos que eu iria comprar, uma vez que só tomo umas Aspirinas ou uns Paracetamol's qd me sinto mesmo em baixo. Então fui fazer as compras ao sítio do costume, um hiper-mercado da marca Tesco, que está aberto 24 horas por dia, 7 dias por semana (já um sinal do progresso?), e lá me dirigi a secção dos medicamentos, onde encontrei Aspirina e Paracetamol da marca Tesco. Sim, medicamentos da marca do "hiper". É o mesmo que ir ao Jumbo e comprar uma aspirina da marca Auchan, na vez de ser da Bayer!

Já se sabe que aqui eles usam muito mais genéricos que em Portugal (a acreditar no anuncio que passa nas TV's daí), mas este pequeno sinal (medicamentos de marca branca) a preços da chuva (mais barata uma caixa de 16 aspirinas que um pint de lager!) é mais um sinal que mostra que os tão anunciados 20 anos de atraso pra Europa que nós temos em Portugal tem o seu que de verdade!

Estando aqui a trabalhar nos apercebemos do quanto estamos atrás em muitas coisas que não sobressaiem à primeira vista. Andando por aqui a passear até parece que estamos iguais, aliás melhores, pq temos melhor tempo, melhor senso de moda, melhores mulheres, cerveja mais barata (e melhor), melhor comida, etc...
Mas quando vivemos o dia-a-dia e passamos por experiências de vida aqui, é que a diferença salta à vista!

Deixo uns exemplos pra verem como as mentalidades sobretudo a das "instâncias do poder" estão muito à frente:

Exemplo 1
No mês de Abril, foram anunciados despedimentos aqui na NEC onde estou a fazer o meu destacamento. Claro que eles não dizem que são despedimentos, aqui tal como aí, agora dão nomes "bonitos" às coisas más. A empresa foi alvo de uma reorganização e em causa disso alguns postos de trabalhos foram tornados redundantes. Mas não é por darem estes nomes "floreados" às coisas, que eu considero o Reino Unido um país mais à frente. É pela maneira como fazem as coisas. Os despedimentos (gosto de chamar as coisas pelos nomes) foram anunciados numa Quinta-feira, numa reunião geral (aqui chamada de All Staff) por volta das 11 da manhã. Todas as pessoas da empresa receberam autorização pra irem pra casa e "digerir" as más noticias. Todos, mesmo aqueles que não estavam afectados, pq "apenas" 60 e tal pessoas (das perto de 150 que compunham a empresa) estavam em risco e "só" na ordem dos 35 iriam perder o emprego. Mas aí está uma empresa que percebe o choque que estas notícias podem causar. Uma prova disso é que no dia seguinte, Sexta-feira, esteve presente nas instalações da empresa uma psiquiatra ou psicóloga (fiquei sem saber ao certo o que era) para atender quem quissesse ir desabafar. Dava portanto uma "consulta" de borla, confidencial e dentro das proprias instalações da empresa. Mas tem mais. Pra além disto e mais importante que estas 2 pequenas "ofertas", a empresa pôs ao serviço de todos os que assinaram a rescisão de contracto, uma empresa de recrutamento e aconselhamento profissional. E dentro das proprias instalações e durante uns dias antes das pessoas sairem definitivamente da empresa, quem apresentou a rescisão teve consultas e entrevistas com uma empresa que lhes prestou apoio a preencher CVs, lhes apresentou possbilidades de trabalho, inclusivé poderá ter arranjado novos empregos a quem foi despedido! Portanto vejam bem que apesar de "despedir" trabalhadores, eles aqui pagam para uma empresa arranjar trabalho a quem despede, e durante os dias em que ainda se encontram na empresa!
Estão a imaginar serem despedidos, e a empresa que vos põe na rua a arranjar-vos novo emprego?

Exemplo 2
A ir de carro pro trabalho noutro dia, oiço a seguinte noticia na radio: o parlamento britanico aprovou uma nova lei da emigração, cuja aplicação iria fazer com que centenas, senão milhares, de jovens médicos formados na India e que trabalham em hospitais ingleses, fossem obrigados a regressar à sua terra natal. A associação britanica de médicos, o equivalente à Ordem dos Médicos daí, veio reclamar a alto e bom som, que esta medida devia ter sido repensada, para excluir da lei estes médicos, uma vez que eles a irem-se embora, provocariam uma grande falta de médicos no sector da saúde, uma vez que não ha medicos britanicos que chegue, e as pessoas iriam ser prejudicadas pelo baixar do número de médicos disponíveis. Estão mesmo a ver a Ordem dos Médicos de Portugal, preocupada por existirem menos médicos a operar (e logo estrangeiros formados no estrangeiro!) e preocupada com o bem-estar de quem no fundo os mantém. Eles até podem dizer que sim, mas os seus actos ao longo dos anos falam por si...

Exemplo 3
Este exemplo que vou dar não se nota só aqui, mas por toda a Europa do Norte. Como dizia no principio qd andamos pela rua ou falamos com as pessoas, não dá pra ver a maior riqueza deles, ou essa tal diferença de 20 anos no desenvolvimento que se fala "à boca cheia". Eles vestem roupas iguais ou até piores. As diferenças nos carros (há quem diga que pra se ver a riqueza de um país olha-se para a qualidade das estradas e do parque automóvel) não aparenta ser muito grande (mas isso é até vermos a cilindrada dos carros deles e a dos nossos). Nas casas eles realmente até estão atrás, pois tem casas muito mais pequenas e muito mais caras (e nem por isso mais luxuosas). Então pq é que eles são mais ricos ou estão mais à frente? Simples, eles viajam muito mais do que nós portugueses. Praticamente todo o inglês com salário médio (não é preciso mais) viaja com regularidade para o estrangeiro. E muitas vezes para fora da Europa. Até a Australia ou Estados Unidos. E não é pra visitar a familia e ficar em casa deles, como nós muitas vezes fazemos. Vão para hoteis, alugam carros, e fartam-se de passear e gastar dinheiro.
Pois nós conseguimos ter um carro ao nível deles (se bem com um motor de metade do tamanho) e conseguimos ter casas bem melhores, mas enquanto eles viajam por meio mundo pagando tudo, nós vamos a uma França ou uma Alemanha, pq temos lá familia e aproveitamos o alojamento de borla, que senão nem íamos. Um fenómeno recente e crescente é as pessoas viajarem para um país mais pobre, onde o nosso dinheiro parece que multiplica e permite fazer um pouco da vida que estes gajos aqui fazem em países ricos.
Este ultimo exemplo parece ser mais a falar do atraso de salários do que de mentalidade, mas na realidade mesmo com salários mais elevados, nós ainda temos a ideia que o que é preciso é um carro bom e uma casa grande. Estar a passear por sitios diferentes, exprimentado novos odores e sabores e conhecendo novas culturas, não está propriamente embrenhado na nossa mentalidade. Isto pq o pouco dinheiro que sobra depois de pagar carro e casa, são pra ir pras "belas" praias do Algarve apanhar o "belo" do bronze. Quem é quer saber de passeios mais ecléticos com o mar ali tão perto?

sexta-feira, junho 16, 2006

Mea Culpa

Tenho eu a mania de dar uma de "intelectual" ou "inteligente" e depois tinha escrito no meu profile do Blogger, a seguinte asneira: "vós lerem". que obviamente está errado!

Não o tempo verbal que está, mas "lerem" é a terceira pessoa do plural do verbo ler, no futuro do conjuntivo, enquanto que "vós" define a segunda pessoa do plural. Por isso o correcto é "vós lerdes". E sim, é mesmo lerdes, e não lerdas...

Quero agradecer ao amigo Fonseca (o mesmo da História dos Rollerblades no blog do Português à Solta), por me ter corrigido o erro (que ainda por cima era no profile, que pelos vistos é de pouco interesse pras pessoas).

Pelo meu erro peço desculpa e estou disposto a penar por isso, como a foto indica.

quarta-feira, junho 14, 2006

Ainda sobre o Mundial

Bem, sendo um grande adepto de desporto, de futebol, da selecção Portuguesa, obviamente que o Mundial de Futebol, o maior evento desportivo do mundo de uma unica modalidade (só os Jogos Olimpicos de Verão têm mais audiencia mundial) ocupa por estas alturas uma grande parte dos nossos pensamentos.

Mas volto a falar do Mundial, para falar de um fenómeno que sucede por estas alturas em Portugal. O fenómeno de "todo o Portugues agora é um expert da bola". Só um aparte, os "pseudo-intelectuais", ou "pseudo-idealistas" que por estas alturas criticam a "populassa" de serem terceiro-mundistas por sacarem das bandeiras e de um patriotismo que regra geral não existe, fiquem sabendo que em muitos países do primeiro mundo, acontece exactamente o mesmo! Por isso isto não é um problema da mentalidade portuguesa, é um problema mais da sociedade humana. Mas deixemos isso de lado...

Voltando ao fenómeno "todo o Portugues agora e' um expert da bola". Esta minha dissertação surge por causa de ter lido um artigo de opinião no jornal O Jogo sobre os jogos do Mundial. Artigo esse escrito por nem mais nem menos que: Miguel Esteves Cardoso. Sim, o MEC, o mesmo que participou em A Noite da Má-Lingua, e onde até tinha a sua piada. O mesmo que escreve uns livros com umas caralhadas pelo meio e o pessoal acha porreiro pq diz asneiras. O mesmo, cuja maior virtude nos ultimos tempos é ter tido aquelas 2 gemeas que são bem melhores para ele (para olhos masculinos, claro está).
Desculpem a minha franqueza, mas porque caralho o MEC há-de escrever sobre o Mundial num jornal desportivo?!?!

A razao é pq nesta altura toda a gente se interessa por futebol. E ele ao ser uma personalidade conhecida, aliás escritor com talento, é aproveitado pra tentar vender mais uns jornais à custa dos seus bitaites. Mas depois nota-se logo que ele é produto da circunstancia. Ele fala de futebol agora pq estamos no Mundial. E depois claro sai-se com umas "bacoradas" que para quem está por dentro e/ou segue o futebol internacional com regularidade e interesse, são no mínimo cómicas.

Mas é isto que acontece durante o Mundial. Tal como aconteceu no Euro 2004, todas as pessoas se interessam pelos jogos. E de repente ouvimos aqueles colegas de trabalho que nunca entraram nas discussões das manhãs de segunda-feira sobre o fds desportivo passado, com altas teorias sobre tacticas, os adversários, a arbitragem... Fantástico!
Acontece isto na maioria com as mulheres. Nao é um insulto as mulheres, atenção. Acontece mais com elas, pq as mulheres não se interessam tanto pela bola como os homens, mas depois interessam-se todas pelo Mundial (logo o número de "novos adeptos" femininos é superior aos "novos adeptos" masculinos).

Não tenho nada contra o interesse circunstancial pelo futebol, alias acho "bonito" que as pessoas se interessem pela selecção. Mas infelizmente costuma ser quasi-impossivel assistir jogos com este novo tipo de adeptos! Pq regra geral, stressam muito mais, refilam por tudo e por nada, não percebem os lances duvidosos (não sabem as regras), ficam muito admirados como é que um preto da Costa do Marfim é assim tão bom de bola e causa tanto perigo (estou a dar o exemplo do Drogba)...
Exemplo: Numa jogada de ataque de Portugal, o Deco desmarca o Pauleta que marca um golo mas em posição de fora-de-jogo. Primeiro temos de aturar os berros de jubilo dos "novos adeptos". Depois qd explicamos que não foi golo, é vê-los aos berros "Mas pq? O que é aconteceu?". Qd dizemos que estava fora-de-jogo dizem "Fora-de-jogo o que é isso? Atão ele marcou! Que regra mais estupida". E continua assim durante o jogo todo...
Já pra não falar que até parece que vão ter um orgasmo cada vez que o Cristiano Ronaldo finta 2 gajos, mesmo que ainda só esteja no meio-campo, ou esteja a correr ao longo da linha lateral e não tenha ninguem desmarcado a quem assistir!

Por isso, é que neste fds qd as minhas primas me perguntaram onde eu iria ver o jogo eu disse "Sozinho, em casa!". Não tinha paciencia pra estar a aturar os constantes berros e reclamações pelas coisas mais triviais do futebol. Ia ser muito menos divertido do que ver sozinho. É que sozinho ainda mandei uns berros lá pelo meio, de protesto. Imaginem qts berros seriam se a sala estivesse cheia de "novos adeptos".

terça-feira, junho 13, 2006

E já lá vão 3

Pois é, o Mundial 2006 já começou nesta sexta-feira. Não deu para ver grande coisa do inicio do campeonato. Os jogos do primeiro foram a horas em que me encontrava em viagem. Se bem que ainda deu pra ver parte do Alemanha 4 - 2 Costa Rica, no aeroporto de Heathrow, onde fiquei a saber que cá em Inglaterra existem muitos adeptos da Costa-Rica, e que curiosamente muitos viajavam para vários destinos diferentes, na sexta-feira ao final do dia!

Mas seguiu-se então um fim-de-semana em Portugal, um fim-de-semana cheio de eventos desportivos (nem só de futebol viveu o mundo desportivo), mas o Mundial 2006 domina o pensamento das pessoas que gostam de desporto em geral e de futebol em particular. E foi em Portugal que, vestindo a camisola da selecção para este campeonato, que vi com alegria o primeiro jogo da seleccção Portuguesa.

Falo do jogo começando do fim. Aliás, podia pegar já pelo que foi acontecendo durante o jogo, com os comentadores, por alguma razão que me é desconhecida, estavam sempre a enaltecer Angola e a "rebaixar" Portugal. E foi exactamente no final qd oiço portugueses a dizer que o empate era o resultado mais justo que realmente fiquei a pensar se estava a ver a SIC ou a RTP Africa! Provavelmente, os jornalistas desportivos que ouvi falarem nesse dia, devem ser "retornados" de Angola. É que só pode!

Esquecendo pra já como eu "vi" o jogo, falemos de estatistica. Portugal teve mais ataques, mais remates à baliza, mais possessão de bola, mais jogadas perigosas, mais cantos. Angola fez mais faltas e o guarda-redes angolano fez 6 defesas de bom nivel, contra as 3 defesas "normais" do Ricardo! Pra além disso, podemos ver as ocasiões de golo que Portugal teve, com uma ou duas bolas no ferro, e a bola a "beijar" o poste no primeiro de lance do jogo, rematada pelo Pauleta. Angola sim, fez mais do que se pensava e pôs em sentido a aquipa portuguesa, mas basta ver que durante a segunda parte, teve praticamente zero ataques, tirando aqueles lances finais já qd Portugal estava a pensar no fim do jogo!
E dizer que isto é merecer o empate, ou dizer "o resultado foi muito melhor que a exibição" acho RIDICULO!

Um a Zero é o resultado minimo qd uma equipa joga mais que a outra. E foi isso que aconteceu, Portugal jogou mais que Angola. Não jogou muito bem, por isso ficou 1-0. Se o jogo acabasse com uma diferença superior a 1 golo, aí era bem capaz de concordar que o resultado era lisongeiro.

Mas deixando-me agora de comentar as "estupidezes" dos comentadores jornalísticos portugueses (para que é que ainda falo de jornalistas e comentadores, qd a esmagadora maioria são uns energúmenos que só sabem dizer o óbvio e mesmo assim com gaffes!). Como eu vi o jogo:

Angola jogou bem. Jogou mais do que pensava, não por serem os "pobres desgraçados dos angolanos", e pelos jogos anteriores com Portugal terem terminado em derrotas por 5 e 6 a pouco (zero ou um), mas sim porque vi 2 jogos de Angola durante o seu apuramento para o Mundial, e tinha ficado com a ideia que eram um pouco básicos. Já se esperava boa forma fisica, velocidade, um bom nivel tecnico dos jogadores, mas não esperava tanto rigor táctico. Eles não jogaram nada parecido nos 2 jogos que vi, contra equipas africanas! Mas, como já disse a um inglês hoje, eles estão no Mundial, por isso não podem ser uns "nabos" de todo. Têm que ter bom jogo de bola, sem dúvida.

E Portugal? Portugal não jogou bem, mas jogou mais que Angola. Fez o suficiente pra ganhar, e isso já não é mau. Temos que ver que Portugal sem o Deco perde quase toda a organização de ataque e perde desiquilibrios na frente, que o Deco consegue criar que os outros jogadores do meio-campo não tem tanto talento. O Tiago tb o faz de vez em qd, aliás marca alguns golos no Lyon exactamente fazendo isso, mas não tem a mesma experiência de equipa na selecção. O Cristiano Ronaldo anda enervado. Talvez pelas criticas que lhe têm feito. Onde foi notório essa raiva foi qd recebeu uma assistência em plena grande área e fez um bom remate à baliza mas defendido pelo guarda-redes. Ele ficou realmente fodido! Mas como dizia à selecção faltou criar desiquilibrios na frente, e notou-se alguma displicência geral na equipa, sendo algo lentos sobre a bola e denunciado bastante os passes. Mas também, com uma equipa que parece não tem muito entrosamento, pois os jogadores mudam bastante, não é nada de surpreendente. O que me fez mandar uns berros e umas caralhadas de protesto a ver o jogo, sobretudo na segunda-parte.
Esperemos é que a qualidade do jogo suba com a entrada do Deco e a forma dos outros jogadores tb passe ao nível seguinte. Esperemos que Portugal tenha jogado mais "calmamente" por causa do próprio adversário ser mais acessível. Uma palavra para o homem do jogo (para a FIFA), o Figo. Jogou bem, mostrou sinais que o fizeram ser em tempos o jogador mais caro do mundo, mas dá mesmo ideia que as pernas já não aguentam uma partida inteira. A se confirmar, é um jogador que na mesma pode jogar nos jogos todos, mas ou entra na segunda-parte ou é substituido ao intervalo pelo Simão (assumindo que quando o Deco voltar ao 11 titular, é o Simão que cai fora).

Bem, depois de ter feito o meu comentário ao jogo, e ter dado (mais) uma cascadela aos jornalistas/comentadores, vou continuar a ver o Brasil - Croácia, que está a revelar-se ser um jogo muito emocionante nesta segunda-parte.

quinta-feira, junho 08, 2006

Inteligências e Intelectos

Estava eu a conversar com a minha amiga Susana pelo Messenger, quando às tantas veio à baila o assunto Inteligência. Isto porque a Susana diz que eu não a considero inteligente, e como me considero muito inteligente, acho que ninguém consegue chegar ao meu nivel muito menos uma mulher.

São palavras dela, não minhas. Não quero fazer desta dissertação uma exaltação ao meu intelecto, mas admiti à Susana, que de acordo com a minha definição de inteligência, me considerava mais inteligente do que ela.

Para mim ser inteligente não significa saber muito. Para mim a inteligência de um individuo é muito mais a forma como raciocina, do que o tamanha da sua "base de dados" de conhecimentos. Um exemplo disso pode ser dado entre um jovem principiante que começa num trabalho de gestor de armazém, e partilha o trabalho com um senhor que já o faz para mais de 20 anos. Obviamente que o experiente colega sabe muito mais que o jovem principiante sobre o armazém e os produtos, mas isso não o faz ser o mais inteligente dos 2.
Este é um exemplo básico, que todos concordarão.

A forma de testar o raciocínio de uma pessoa, logo a forma de testar a sua inteligência, é feita à base de problemas lógicos, situações simples e novas nas quais a previa experiencia da pessoa é irrelevante, e o que importa e' saber como a pessoa raciocina de modo a resolver o problema. Foram desse tipo de problemas que me puseram numa entrevista de emprego na Alemanha. Problemas simples, em que a minha experiencia profissional (a "base de dados” de conhecimentos que construí ao longo do tempo) de nada me servia. Os testes apenas serviram para testar a minha forma de raciocinar e resolver os problemas. E é isso que eu considero inteligência.

Acho que todos nós conhecemos exemplos de pessoas que são capazes de estar 3 ou 4 horas a debitar informação disto ou daquilo, passando a imagem de que são pessoas muito inteligentes pois sabem muitas coisas. Mas quando pedimos a essas pessoas pra resolver problemas que eles ainda não conhecem, não dão conta do recado!

Voltando a falar de mim agora, considero-me eu uma pessoa muito inteligente? É uma questão realmente complicada, porque muitas vezes me julgo "o maior", que sei quase tudo e resolvo quase tudo, mas outrastantas vezes reparo que afinal falhei no meu raciocínio e afinal não sou tão bom quanto isso. Por exemplo, na entrevista na Alemanha, falhei redondamente nos problemas logicos que me deram, no meu entender. Dois problemas resolvi mas um bocado "tremidamente", e o terceiro fiquei sem saber nada da resolução! Não fui capaz de propor uma solução, e o homem que me pos o problema também não me deu a resposta!

Então se eu afinal sou fraco a resolver os tais problemas que testam a inteligência, como me posso considerar inteligente?
Simples. Os problemas logicos apenas testam uma forma de raciocínio, o cientifico. E também existe, quer se goste quer não a componente humanistica: as artes, a historia, a filosofia, etc...

Sim, o pensamento logico e cientifico é para mim mais importante. Acho que qualquer pessoa que diga que pode viver sem logica nem ciência, é utópica. Nós precisamos da logica e da ciência pra vivermos no dia-a-dia. Mas as humanidades trazem outra cor à nossa vida. É muito mais dificil testar o raciocínio humanistico de um individuo. Não é uma ciência exacta. Ao contrário dos problemas logicos em que a pessoa ou resolve ou não, nesta área nao existe o certo ou o errado. Mas podemos avaliar esse raciocínio atraves de uma boa conversa. A pessoa pode não ter lido os livros de Kant, pode desconhecer as teorias de Freud, pode nunca ter visto uma obra de Miguel Angelo, mas pode discutir as coisas, e percebe-las e rebate-las. E se o conseguir fazer, seguindo um pensamento constante e fluído, seguindo uma ideia concrecta, então essa pensamento tem raciocinio humanistico.

Voltando a mim, penso eu ser esse um dos principais atributos do meu intelecto. Posso não conseguir resolver os problemas todos logicos, posso não ter apreciado muitas obras de arte, mas consigo compreender, assimilar e discutir sobre quase tudo. Acho que (mais) uma prova disso foi que, apesar de eu, no meu entender, ter falhado nos problemas de logica que me fizeram na entrevista na Alemanha, gostaram muito de mim, acharam que eu seria uma optima mais-valia na empresa e deram-me logo um contracto pra eu assinar (quenão assinei por razões que, quem sabe, um dia detalharei)!

Sou muito inteligente? Acho que não, mas certamente diria que sou "especialmente" inteligente.

Especialmente, porque juntando à minha forma de raciocinar, temos esta parte obscura da minha mente capaz de imaginar coisas do mais absurdo ou ridiculo que seja. Uma insanidade bastante complexa. Ou seja: penso bem e sou maluco da cabeca!

Não são essas as principais caracteristicas dos grandes génios?
Minhas senhoras e meus senhores, acabei de vos apresentar aquela que será a minha maior caracteristica: A Presunção!

terça-feira, junho 06, 2006

Relações

As relações entre 2 pessoas, sobretudo aquelas que duram "até que a morte os separe", para mim, passam sempre pelas mesmas fases. Começam, crescem, evoluem, e terminam sempre de forma igual.

Uma relação, começa com a Fase do Interesse. Sendo irrelevante qual dos lados começa (isto falando duma relação mais tradicional macho-fêmea), a Fase do Interesse é sempre o inicio da relação. Um dos parceiros, e seja porque motivo fôr (presumo que o maior seja de natureza sexual), ganha um interesse no outro, e faz uma abordagem na qual vai aprofundar o conhecimento e verificar se o interesse se manifesta ou se por sua vez, se dissipa.

Não é necessário que os 2 parceiros sejam desconhecidos nesta fase. Muitas vezes já se conhecem, mas o tal interesse surge, e então dá-se o inicio da fase, pois o lado interessado começa a levar as coisas num rumo novo.

Assim que a Fase do Interesse resulta (o interesse cresce e manifesta-se nos 2 lados) entramos na Fase da Paixão. Esta fase também se pode chamar de Fase do Encantamento, eu aliás prefiro este nome. Paixão pq é quando ficamos loucamente apaixonados, e por estarmos apaixonados andamos encantados. Tudo no outro é belo, gostamos de tudo, não vemos defeitos. É tb nesta fase que se começa a ganhar intimidade sexual. Sexo já podia haver desde a Fase do Interesse ou mesmo previamente, mas intimidade na cama ou no acto, é outra coisa. É quando associado ao prazer carnal do acto, aparece o prazer sentimental de se estar a partilhar o gesto com aquele parceiro.

E conforme o amor cresce e a intimidade, a Fase do Encantamento, passa sorrateiramente para a Fase da Dependência Física. Nesta fase é quando ficamos agarradinhos ao outro. Certo que isso parece já acontecer na Fase do Encantamento, mas na realidade a Fase da Dependência Física é pior. Durante esta fase não conseguimos estar sem o parceiro. Precisamos do contacto fisico a toda a hora e instante. Os parceiros saem sempre juntos, nesta altura não existem 2 individuos, já que os 2 parecem ser só 1. É uma das fases piores para os amigos do casal. Eles normalmente nesta altura são insuportaveis, sempre agarradinhos, sempre aos beijinhos, sempre a mandar toques e mensagens no telemóvel quando é fisicamente impossível estar um com o outro.

Depois vem a Fase da Dependência Psicologica. O nome é parecido à fase anterior, mas de modo algum são semelhantes. Nesta fase o casal encontra uma maturidade e já consegue estar alguns minutos, horas, até mesmo dias sem a presença física do parceiro. Agora já nao é preciso estar fisicamente com o outro. Até mesmo no que toca aos prazeres da carne, já não existe aquela "fome" ou "sede" de estar sempre no mesmo. O que sucede nesta fase, é que um parceiro precisa do outro para partilhar tudo o que é importante na sua vida. Algum problema a nível profissional e temos que partilhar com o parceiro. Dar um passeio sem o parceiro pra partilhar as imagens, os odores, os sons, juntos, não tem valor. Mesmo quando vamos fazer qualquer coisa pra nós, pensamos quase sempre no outro, se ele aprovará ou não o que vamos fazer. É a Dependência Psicologica...

Só um pequeno comentário, é nesta fase que eu estou agora, na minha relação.

A Fase da Dependência Psicologica é a mais duradoura das fases apresentadas até agora. Pode durar bastante tempo, mas mais cedo ou mais tarde, aparece a Fase dos Filhos. O casal a uma determinada altura, chega à conclusão que precisa de algo mais na relação. Decidem ter filhos, e depois de uma pequena mini-fase da procriação, eis que os filhos nascem, e entra-se numa vida completamente diferente. Agora já não existe o parceiro. Agora só existem os filhos. Tudo o que se faz é para eles, e por eles. Nesta fase acaba o marido e a esposa, e nasce o termo, mãe e pai. Termo esse que será usado praticamente até ao fim da relação. Normalmente nesta fase, o parceiro não se preocupa com o bem estar do outro. A unica coisa que interessa é os filhos. Na maioria dos casos é a mãe que negligencia o pai, que rebate qualquer tentativa pra voltar a uma fase anterior, com frases do género: "Olha os miudos"; "Não podemos por causa das aulas dos miudos", etc...

E quanto tempo dura a Fase dos Filhos? Dura até o ultimo filho sair de casa para estudar fora, ou tiver idade suficiente pra passar pouco tempo em casa. Nessa altura entra-se na Fase das Desavenças. Depois de anos a fio a viver por e para os filhos, eis que eles já não precisam do pais, e o casal não sabe o que fazer! Passou bastante tempo desde qualquer uma das fases anteriores à Fase dos Filhos, e o casal já não sabe como viver juntos, sem ter os filhos como centro da vida. Começam as desanvenças. Refila-se por tudo e por nada. Nesta altura dá-se o oposto do que acontecia na Fase do Encantamento. Agora tudo no outro é razão pra desagrado, e qualquer coisa que um faça serve de desculpa pra mais uma discussão. Como é possível aguentar uma fase destas? Porque volta e meia volta um "cheiro" das fases anteriores: as férias trazem memórias da Fase da Dependência Psicologica; volta e meia os filhos precisam novamente dos pais, e volta a familiar e confortante Fase dos Filhos. E assim os anos vão passando...

Se o casal resistiu a todas as fases até agora, chega-se à fase final da relação. A Fase da Necessidade. Nesta altura o casal está junto e nem pensa em separação porque precisam um do outro. Ou pq precisam pra ajudar a tratar das enfermidades, ou pq precisam um do outro pra não estarem sós. É que niguem gosta de envelhecer e morrer sozinho...

sexta-feira, junho 02, 2006

Humano

Um casal de pegas rabudas faz o ninho em frente à minha janela
todas as manhãs sou acordado pelo seu intenso grasnar e fico a vê-las trazer pauzinhos com o bico
acho que é um sinal de boas-vindas ter dois passaritos assim expostos na sua intimidade
é como se me dissessem "eis um bom lugar para começar tudo de novo. fazemos-te confiança…"

o marroquino do bar da esquina recebe-me sempre com um rasgado sorriso e um caloroso aperto de mão
de vez em quando oferece-me mesmo as bebidas

está outra vez a chover
chove muitas vezes
uma chuva miudinha, que mal se sente e que não impede ninguém de sair de casa
nestas alturas o céu fica pesado, cor de chumbo, a tocar os telhados
é quando eu mais gosto de ir à deriva, levado pelas sombras que aqui e ali afloram em determinadas ruas

no outro dia encontrei...
Não foi bem uma vista aérea, foi uma coisa estranha, como se estivesse em cima...
Uma espécie de aldeia em miniatura, que eu percorria por dentro estando fora...
É como se olhasse para as minhas botas e as visse dentro dos meus pés, apesar de calçadas...
Era como se eu fosse maior do que o que sou
como se estivesse todo dentro de algo mais pequeno do que eu
dentro e fora em simultâneo, porque ao mesmo tempo que cabia lá dentro era maior do que aquilo em que cabia
uma espécie de ilusão física
de anulação do volume
ou de inibição do impossível
uma abstracção indizível...

Why can't you just get physical like a human

por: Adolfo Luxúria Canibal

quinta-feira, junho 01, 2006

Viva a Greve!

Estou em greve! Quer dizer, não sou bem eu que estou, mas a minha vontade/inspiração de e para dissertar.

Por isso o blog há praticamente 2 semanas não tem novidades. Coisa muito estranha pra quem gosta de dissertar e gosta de escrever. Sobretudo qd tenho meia-dúzia de dissertações já "alinhavadas". Inclusive chego a ter uma dissertação em draft, uma que já partilhei em conversa com 2 ou 3 amigos.
Isto realmente...

Bem, qualquer dia a greve, como todas as greves, acaba e lá volto ao trabalho de escrever as dissertações. Pra quem gosta do blog, que reze para que demore pouco tempo.